Conflito de Rússia e Ucrânia vem de 2014 e tende seguir pelos próximos anos; entenda
Se uma guerra total eclodir entre os dois países, dezenas de milhares de civis podem morrer e até 5 milhões de pessoas podem se tornar refugiados, dizem estimativas
Após meses de escalada militar e intemperança na fronteira com a Ucrânia, a Rússia atacou o país nas primeiras horas de ontem (24). A ação russa ameaça desestabilizar a Europa e envolver os Estados Unidos.
A Rússia vem reforçando seu controle militar em torno da Ucrânia desde o ano passado, onde acumulou dezenas de milhares de tropas, equipamentos e artilharia nas portas do país. A mobilização provocou alertas de oficiais de inteligência dos EUA de que uma invasão russa poderia ser iminente.
Nas últimas semanas, os esforços diplomáticos para acalmar as tensões não chegaram a uma conclusão. Foi reconhecida pelo presidente russo Vladimir Putin, nesta segunda-feira (21), a indepedência de Donetsk e Luhansk, duas áreas separatistas ucranianas.
Situação na fronteira
Mais de 150 mil soldados russos cercaram a Ucrânia como uma ferradura em três lados, de acordo com estimativas de oficiais de inteligência dos EUA e da Ucrânia. A Casa Branca alertou repetidamente que o presidente russo, Vladimir Putin, poderia lançar uma invasão em larga escala da Ucrânia a qualquer momento.
Em 15 de fevereiro, Putin afirmou que estava retornando algumas tropas de volta à base depois de completar os exercícios e estava aberto a uma rota diplomática para sair do impasse.
Mas a alegação foi recebida com ceticismo por autoridades ocidentais, seguida de frustração quando os EUA alegaram que, em vez de atrair forças, a Rússia estava mobilizando silenciosamente vários milhares de outros. O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, alertou que os EUA não viram nenhum sinal imediato de uma retração militar russa, observando: “infelizmente, há uma diferença entre o que a Rússia diz e o que faz”.
A Otan aumentou a prontidão de sua força de resposta rápida, enquanto os países membros colocam tropas de prontidão e enviam batalhões, aviões e navios para a região. Os EUA ordenaram que 3 mil soldados adicionais fossem enviados para a Polônia, elevando o número total de reforços enviados para a Europa nas últimas semanas para cerca de 5 mil. Os EUA dizem que não têm intenção de enviar tropas para a Ucrânia, que não é membro da Otan.
Biden e líderes europeus alertaram que a Rússia sofreria sérias consequências, incluindo sanções, caso Putin avance com uma invasão. Mas isso não impediu a Rússia de continuar reforçando suas posições militares. No final de 2021 e início de 2022, imagens de satélite revelaram novos desdobramentos russos de tropas, tanques, artilharia e outros equipamentos surgindo em vários locais, incluindo próximo ao leste da Ucrânia, Crimeia e Belarus, onde suas forças estavam participando de exercícios conjuntos com o aliado internacional mais próximo de Moscou.
Apesar de receber financiamento, treinamento e equipamentos dos EUA e de outros países membros da Otan, especialistas dizem que a Ucrânia seria significativamente superada pelas forças armadas da Rússia, que foram modernizadas sob a liderança de Putin. Se uma guerra total eclodir entre os dois países, dezenas de milhares de civis podem morrer e até 5 milhões de pessoas podem se tornar refugiados, segundo estimativas.
Início da tensão
A disputa entre Rússia e Ucrânia começou oficialmente depois de uma invasão russa à península da Crimeia, em 2014. O território foi “transferido” à Ucrânia pelo líder soviético Nikita Khrushchev em 1954 como um “presente” para fortalecer os laços entre as duas nações. Ainda assim, nacionalistas russos aguardavam o retorno da península ao território da Rússia desde a queda da União Soviética, em 1991.
Já independente, a Ucrânia buscou alinhamento com a UE (União Europeia) e Otan enquanto profundas divisões internas separavam a população. De um lado, a maioria dos falantes da língua ucraniana apoiavam a integração com a Europa. De outro, a comunidade de língua russa, ao leste, favorecia o estreitamento de laços com a Rússia.
O conflito propriamente dito começa em 2014, quando Moscou anexou a Crimeia e passou a armar separatistas da região de Donbass, no sudeste. Há registro de mais de 14.000 mortos desde então.