Boris Johnson renuncia ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido após onda de escândalos
Desde festas privadas durante a quarentena de 2020 até casos de abuso sexual, Boris se encontrou isolado sem aliados no próprio partido
Durante a tarde desta quinta-feira (7), o agora ex primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, realizou um discurso de renúncia à liderança do Partido Conservador, dando início ao processo de escolha de um novo primeiro-ministro no Reino Unido. Na fala Johnson declarou que se sentia triste por deixar “o melhor trabalho do mundo”.
Contudo os últimos dias de seu mandato foram marcados por diversos escândalos, contradições e pressão dentro e fora do partido para que Boris anunciasse sua saída.
Em junho Johnson conseguiu sobreviver a um voto de desconfiança movido no parlamento devido às suas festas realizadas em uma sede do governo britânico, durante o lockdown decretado em 2020, na pandemia de Covid-19. Desta vez o novo escândalo envolveu a escolha para um cargo de liderança de um parlamentar previamente acusado de assédio sexual.
No caso o aliado de Boris, Chris Pincher na época deputy chief, teria apalpado dois homens em um clube privado em Londres. De início Pincher negou as acusações mas acabou cedendo à pressão e alegou estar “bêbado” na situação ocorrida.
Em menos de cinco dias a imprensa britânica publicou novas informações onde ao menos seis novos casos de má conduta sexual por parte de Pincher foram expostas. Chris foi suspenso pelo Partido Conservador e pediu desculpas dizendo que cooperaria com as investigações sobre sua conduta e que buscava “apoio médico profissional”.
Sobre as acusações de seu aliado que seira nomeado, Boris afirmou não saber sobre as alegações contra Pincher, porém dias depois Johnson disse que estava ciente dos casos mas que não achava apropriado interromper a nomeação de Pincher com “alegações sem fundamento”.
Durante entrevista, o ex-diplomata Lord McDonald acusou o governo de omitirem a verdade e afirmou que Boris havia sido avisado “pessoalmente” sobre uma “queixa formal” a respeito dos comportamentos de Pincher isso em 2019.
Uma reportagem da BBC confirmou que Johnson havia sido informado sobre o “comportamento inapropriado” de Pincher enquanto trabalhava no Ministério das Relações Exteriores entre 2019 e 2020. Esta queixa levou a um processo disciplinar que confirmou que o comportamento inadequado ocorreu.
O governo agora afirma que o primeiro-ministro foi de fato informado em 2019, mas que ele não conseguiu “lembrar disso” quando novas denúncias surgiram há poucos dias. Johnson confirmou a informação de seu gabinete e declarou que lamentava “amargamente” não ter agido com base no que sabia.
Desconfiança sobre Boris e exonerações
A postura do governo sobre a situação ocasionou a perda de confiança em Boris Johnson. Um movimento de exoneração, que teve início nesta segunda-feira (5) com a saída quase conjunta dos ministros da Saúde e das Finanças, Sajid Javid e Rishi Sunak, se estendeu para cargos menores, como no caso de secretários particulares parlamentares, que auxiliam ministros de Estado em suas funções.
Nesta quarta (6), enquanto respondia perguntas do parlamento, Boris afirmou que não iria renunciar ao cargo. “É exatamente o momento em que se espera que um governo continue com seu trabalho, não que renuncie”, afirmou, citando momentos difíceis na economia, com um cenário inflacionário crescente, e a guerra na Ucrânia.
Até o momento pelo menos 50 funcionários do governo deixaram suas posições; um deles foi demitido, segundo o jornal britânico The Guardian.
Renúncia
Dando fim a saga e iniciando um período de incertezas para o Reino-Unido, o primeiro-ministro renunciou ao cargo nesta quinta-feira (7), atendendo aos pedidos de ministros e parlamentares do Partido Conservador.
“O processo de escolha do novo líder deve começar agora”, disse Johnson à porta do número 10 da Downing Street, a residência oficial do governo. “E hoje eu nomeei um gabinete, como farei, até que um novo líder esteja no cargo.”