Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR
A recente decisão do governo dos Estados Unidos de suspender as importações de carne bovina brasileira pode ter lá suas motivações mercadológicas. Mas o alegado foi terem sido encontrados abcessos em diversos lotes, provavelmente resultados de vacinações contra aftosa feitas de forma inadequada. Um bom pretexto para barrar nosso produto. Nem dá para reclamar.
Há um bom tempo que a Federação da Agricultura do Estado Paraná (FAEP) vem defendendo a suspensão da vacinação contra febre aftosa por considerar que o Brasil – e em especial o Paraná – devem obrigatoriamente construir um sistema de controle de defesa animal totalmente confiável não apenas para o mercado externo, mas o doméstico também.
E o nosso empenho não leva em conta apenas a exportação de carne bovina, em relação à qual o Paraná tem pouco expressão. Mas tendo em mira o potencial de produção de carne suína, a mais consumida no mundo inteiro.
O Paraná é atualmente o maior produtor brasileiro de suínos, com um plantel de 7 milhões de cabeças, que envolve mais de 23 mil produtores, segundo levantamento da Secretaria Estadual da Agricultura. Sua indústria está capacitada a abater diariamente mais de 3 mil toneladas e novas plantas industriais estão sendo construída.
Contudo, nossas exportações não conseguem atingir aqueles mercados que melhor remuneram simplesmente porque ainda não existe confiança em nosso sistema de defesa, uma vez que o Paraná não consegue suspender a vacinação contra uma doença fácil de controlar, que é a febre aftosa.
É claro que uma suspensão da vacinação também teria impacto positivo na produção de carne bovina e reforçaria a confiança mundial na produção de aves, da qual o Paraná já é um grande exportador, mas também está sob o risco da influenza aviária que atualmente atinge grande parte do mundo.
Para o país se firmar como um exportador de confiança de carnes e outros produtos do agronegócio terá que aproveitar os acidentes recentes, como a desastrada Operação Carne Fraca, as confissões da JBS e a suspensão das importações pelos Estados Unidos para realizar uma ampla revisão no sistema de defesa sanitária animal, adotando, entre outras providências, a terceirização da fiscalização, atribuindo aos atuais órgãos de defesa a tarefa de monitorar e auditar as ações terceirizadas.
Não é possível continuar insistindo em instrumentos que estão demonstrando serem frágeis e comprometendo uma vocação tão importante para nossa economia.