O GRANDE SALTO PARA TRÁS!

Há alguns dias ao ler sobre a China e as reformas que tornaram o dragão asiático, no país cuja economia mais cresce no planeta há mais de duas décadas. Reformas estas lideradas por Deng Xiaoping. Recuei um pouco mais no tempo e lembrei-me do programa Um salto para frente do timoneiro Mao Tsé-Tung. Não vou aqui discutir a eficácia do programa de Mao, até, porque, para o bem ou para o mal, as glórias ou as críticas cabíveis quanto ao sucesso da China atual cabem a Deng Xiaoping. Num insight tive a ideia de escrever um artigo intitulado O grande salto para trás retratando as reformas que promoveram o retrocesso do Brasil e delinearia em quais áreas. Mas, resolvi pesquisar no oráculo que tudo sabe (Google) se alguém já havia escrito sobre tal tema ou título e descubro um documentário francês sobre o golpe de Estado de 2016 e o retrocesso que ele causou ao nosso país, tão logo li a descrição do que se tratava comecei a assistir.

O documentário começa mostrando o espetáculo horrendo daquele domingo da vergonha, a data em que as TVs brasileiras bateram recordes de audiência mostrando cidadãos de bem ou seria de bens que em sua miséria intelectual e ética declaravam que seu voto contra Dilma, era realizado pela esposa, pela família, etc. num espetáculo grotesco, 54 milhões de votos foram cassados fazendo com que a vontade da maioria do povo brasileiro fosse desrespeitada, a Constituição Federal rasgada e a democracia estuprada por um Congresso Nacional que não representa o povo, pois, as campanhas eleitorais são caras e 80% dos parlamentares representam os interesses de 10% da população (a elite do capital financeiro) e não o povo constituído em sua ampla maioria por trabalhadores. Parte do povo que sonhava com um Brasil inclusivo, atônito, silencia, chora, enraivece. Do outro lado, comemorações e estas não se resumem à parte do topo da pirâmide social. O golpe tem a força de um nocaute, a mídia dominada por seis famílias, manipula e desinforma a população. O Brasil está muito próximo de uma ditadura da mídia. Uma mídia que neste país sempre agiu em benefício das elites e contra a democracia. O golpe é moderno, não há tanques, nem pessoas torturadas. As Instituições funcionam, a questão é de que forma? Para quê? Para quem? O rito processual foi cumprido, só faltava o crime. Não há crime. A banca se cansou de Dilma, cortar juros e lucros da elite financeira está fora de questão.

A mídia confunde a população, grande parte da sociedade sequer sabia que Dilma nada tinha a ver com a operação Lava-Jato. O procurador Dallagnol, O Juiz Moro e policiais federais miram no PT um partido que nem é tão esquerda assim, em Dilma e Lula e ao avistar políticos da direita desviam o olhar: não vem ao caso! E afirmam: como o PT estava no poder, as delações se referem unicamente a este! Há controvérsias. Caciques tucanos são considerados intocáveis. A perseguição à Lula se faz com várias arbitrariedades e com muita pirotecnia televisiva. Busca-se destruir a reputação daquele que é considerado o maior presidente da história nacional. As redes sociais reagem conta o pseudo-jornalismo da Grande Mídia. As grandes revistas utilizam seus obuses contra Lula e o PT o objetivo da força-tarefa midiático-judiciária-judiciária-parlamentar é prender Lula e impedir sua candidatura que certamente seria vitoriosa, pois, o povo não sabe votar. A elite é que sabe. O processo contra Dilma e principalmente contra Lula é Kafkiano. Temer faz jantares para os parlamentares e neles devoram os direitos dos trabalhadores. A receita do golpe conduz a mais de setenta anos de retrocesso, mais, um pouco e a Lei Áurea seria revogada. Os índices de popularidade de Temer se equivalem à margem de erro da pesquisa. E Temer liga para pesquisa? É apenas o fantoche a fazer o serviço sujo que em programa de governo jamais seria eleito nas urnas. O objetivo é levar o país o mais próximo possível de sua origem: o regime escravocrata, pois, a elite é branca, rica, masculina, heterossexual e velha mentalmente como eram os senhores de escravos, cujos filhos não se conformam com a libertação dos escravos. Certamente ninguém quer desembolsar um vintém por escravos, mas, dói para essa elite essa gentalha (negros, mulatos, pardos, indígenas, sindicalistas, esquerdistas, feministas, etc.) se achar gente.

Os tempos são outros, líderes evangélicos impõem uma cunha fundamentalista religiosa retrógrada e conservadora no Estado laico. O financiamento para a agricultura familiar sai de cena, entra mais recursos para os latifundiários. O financiamento de casas para a baixa renda dá lugar a mais recursos para casas de alto valor para a classe média-alta. A produção de alimentos orgânicos dá lugar ao pacote plus, ou seja, mais veneno nos alimentos mais envenenados do mundo na mesa da população. A pergunta: os veneneiros se alimentarão destes mesmos alimentos ou plantarão ou comprarão orgânicos? Mas, liberar o veneno não era suficiente, nossos nobres parlamentares resolveram que para o bem da população era necessário dificultar o acesso aos perigosos alimentos orgânicos, principalmente aqueles produzidos pelo maior produtor da América Latina (MST). A grande mídia que seguiu à risca os ensinamentos do Ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels do governo de Hitler fez com perfeição seu papel. O povo pobre odeia ou vê com desconfiança quem unicamente poderia lhe libertar e sabemos é impossível libertar quem não se reconhece na condição de escravo. Honduras, Paraguai, e finalmente, o Brasil, todas, Repúblicas das Bananas. Nenhuma grande nação considera mais o Brasil uma nação com algo importante a contribuir para o mundo. Somos motivo de estarrecimento, de preocupação ou de riso. O judiciário não se envergonha mais. Faz política. Rasgou a Constituição Federal e queimou os princípios elementares do Direito. Magistrados já não falam pelos autos, mas, buscam os holofotes da Mídia que tal como cocaína, os sacia de seu desejo e os aprisiona, afinal, assim como o viciado busca ter a simpatia do traficante, há magistrados que lambem as botas dos coronéis da mídia, seja pela busca do prazer que a exposição midiática lhe traz, ou quem sabe, por medo. Manter Lula preso é garantia de popularidade mesmo que parcial e de recursos por meio de palestras pagas por quem quer manter Lula atrás das grades (o grande capital nacional e estrangeiro). Carmem Lúcia disse que se o brasileiro soubesse o que ela sabe não dormiria de noite, e penso: e ela consegue? Se ela consegue, confirma não estar à altura do cargo que ocupa! Penso que Temer no poder, age como um viciado em drogas pesadas vende tudo que há na casa para pagar o traficante e se satisfazer, o problema que a casa é o Brasil e o Brasil é o lar do povo brasileiro e o que ele vende pertence não somente a esta, mas, a futura geração de brasileirinhos e brasileirinhas. O traficante é o grande capital nacional e estrangeiro. Eu disse povo? Essa é a estupefação dos europeus ao ver o desmonte que os abutres do MDB, PSDB, DEM e apaniguados estão fazendo com o país sem obter nenhuma resistência. Mas, isto é algo já explicado por Lima Barreto: O Brasil não tem povo, o Brasil tem público. Povo luta por seus direitos, público apenas assiste. Somos um país cuja população lamenta mais a perda da Copa do que a perda do Pré-Sal, da Embraer, dos direitos trabalhistas e previdenciários como se estes também não lhes estivessem sendo roubados. Somos um país que olha para os políticos e vê neles seu patrão ou pai e não seus funcionários. A maior pobreza do povo brasileiro é a intelectual. Olhamos e não vemos. Escutamos e não ouvimos. Lemos e não compreendemos. Falamos e não dialogamos. Respiramos e não vivemos, porque viver é lutar, e em luta, antes há que se tomar partido, mas, delegamos ao outro que empreenda a nossa luta. O Problema é que ele faz o mesmo!

P.S.: O artigo é um misto de inspiração livre (liberdade poética) e relato do documentário Brasil: O Grande Salto para Trás (Brésil: Le grand bond en arrière) – https://www.youtube.com/watch?v=XDZ5UtlsqdA – acesso em 09 de Julho de 2018.

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