Setembro amarelo: Especialista aponta a necessidade dos sinais de alerta quanto à prevenção do suicídio
Com o lema “Se precisar, peça ajuda!”, a psicóloga Cheila Negretti destaca a importância de falar sobre saúde mental e combater o estigma, incentivando o apoio e a busca por tratamento para salvar vidas
O Setembro Amarelo é a principal campanha global voltada para a conscientização e prevenção do suicídio. Em 2024, a campanha traz o lema ‘Se precisar, peça ajuda!’, destacando a importância de falar sobre saúde mental e incentivar as pessoas a buscarem apoio. A campanha também visa combater o estigma associado ao suicídio e à saúde mental, promovendo conversas abertas e seguras sobre o tema.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é uma das principais causas de morte no mundo. Estima-se que mais de 700 mil pessoas morram por suicídio todos os anos. No Brasil, cerca de 14 mil casos são registrados anualmente, o que corresponde a aproximadamente 38 mortes por dia. Embora os índices globais de suicídio tenham diminuído em algumas regiões, os países das Américas seguem uma tendência oposta, com taxas crescentes. As doenças mentais, especialmente quando não diagnosticadas ou tratadas adequadamente, estão ligadas à maioria dos casos de suicídio.
O Setembro Amarelo busca conscientizar a população sobre a importância de reconhecer os sinais de alerta e incentivar a busca por tratamento. A psicóloga Cheila Negretti, de Laranjeiras do Sul, reforça que o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, comemorado hoje (10), tem um papel fundamental na conscientização. “Essa data permite que a comunidade tenha conversas mais abertas sobre os sinais de alerta e as formas de ajudar, encorajando mais pessoas a buscar ajuda sem medo do julgamento”, afirma.
Identificando os sinais de alerta
Segundo Negretti, existem sinais de alerta que familiares e amigos devem observar para identificar uma possível situação de risco. “Mudanças de comportamento como o isolamento social, a perda de interesse em atividades antes prazerosas e sentimentos persistentes de tristeza e desesperança são sinais que merecem atenção”, explica. Ela destaca ainda a importância de prestar atenção às frases ou ameaças sobre a morte. “Frases como ‘eu quero morrer’ ou ameaças de suicídio não devem ser ignoradas ou normalizadas”, acrescenta.
Ainda que o suicídio seja um tema delicado, é essencial que o assunto seja abordado de maneira aberta e direta. Segundo a OMS, quase todos os casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, como depressão, ansiedade e esquizofrenia. A psicóloga reforça que, com o tratamento adequado, muitos casos podem ser evitados. “A psicoterapia, combinada ao uso de medicamentos, pode ser uma estratégia eficaz”, aponta. Além disso, ela enfatiza a importância da rede de apoio, composta por familiares e amigos, que pode oferecer suporte emocional e evitar o isolamento.
Grupos de maior risco
Cheila menciona que alguns grupos são mais vulneráveis ao suicídio, especialmente pessoas que sofrem de transtornos mentais. “Os homens têm uma taxa mais alta de suicídios consumados, enquanto as mulheres fazem mais tentativas sem consumação. Já em relação à faixa etária, o suicídio atinge tanto adolescentes quanto adultos e idosos”. Esses dados reforçam a importância de ações de prevenção direcionadas para os diferentes grupos de risco, considerando suas particularidades.
O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, de acordo com dados da OMS. A profissional aponta que a realidade alarmante entre os jovens deve ser enfrentada com ações efetivas de promoção da saúde mental e prevenção do suicídio. A atuação de profissionais de saúde mental é essencial nesse processo. “Os psicólogos possuem as habilidades necessárias para intervir em crises e promover a recuperação e o bem-estar a longo prazo”, afirma.
Desmistificando mitos
Uma das grandes barreiras na prevenção do suicídio são os mitos que envolvem o tema. “Um dos principais mitos é a ideia de que ‘quem fala que vai se matar nunca se mata’. Muitas pessoas que pensam em suicídio comunicam isso de maneira direta ou indireta, e ignorar esses sinais pode ser perigoso”, adverte ela. Outro equívoco comum é a crença de que as pessoas que pensam em suicídio o fazem apenas para chamar atenção. A psicóloga esclarece que, na realidade, essas pessoas estão em um estado de dor e desesperança tão intenso que acreditam que a morte é a única forma de aliviar o sofrimento.
Ela reforça a necessidade de desmistificar essas ideias para que as pessoas em situação de crise possam receber o apoio adequado. “A campanha do Setembro Amarelo, com seu foco em conscientização, busca justamente quebrar esses estigmas e incentivar a busca por ajuda”.
Fortalecendo a rede de apoio
Um dos principais focos da prevenção ao suicídio é o fortalecimento das redes de apoio nas comunidades. Negretti salienta a importância de criar ambientes de acolhimento e compreensão, onde as pessoas em sofrimento possam encontrar caminhos para superar crises. “Ajudar as pessoas a superar crises é essencial, e isso só pode ser feito se não banalizarmos ou julgarmos a dor dos outros”, afirma.
Além das redes informais de apoio, como familiares e amigos, é essencial que as políticas públicas garantam o acesso a tratamentos adequados de saúde mental. A profissional acredita que conscientizar a população sobre a importância da saúde mental e facilitar o acesso a esses tratamentos são passos fundamentais para prevenir o suicídio. “O atendimento psicológico pode identificar os fatores de risco, oferecer manejo clínico específico para diferentes grupos e promover um ambiente seguro para enfrentar momentos de crise”, assegura.
Reflexão e ação
O Setembro Amarelo serve como um convite à reflexão sobre a importância da vida e da promoção da saúde mental. As ações realizadas durante a campanha buscam conscientizar a população sobre os sinais de alerta e incentivar a busca por ajuda, enfatizando que, por mais difícil que seja a situação, é possível encontrar caminhos para superar a dor.
O lema deste ano, ‘Se precisar, peça ajuda!’, reforça que o diálogo sobre saúde mental deve ser aberto, livre de julgamentos e focado na promoção do bem-estar. A psicóloga conclui que, ao falar sobre o tema, é possível quebrar preconceitos e ajudar mais pessoas a buscarem o apoio de que precisam. “Conscientizar sobre a importância da saúde mental pode salvar vidas”, finaliza.
O Jornal Correio do Povo do Paraná lembra que a campanha do Setembro Amarelo 2024 é uma oportunidade para lembrar que, em meio às dificuldades, pedir ajuda é sempre uma escolha possível e que a vida é sempre a melhor escolha.