Miopia já atinge 1 em cada 3 crianças no mundo, aponta estudo

Análise global revela crescimento alarmante da doença nesta faixa etária, com previsão de 740 milhões de novos casos até 2050

A dificuldade de enxergar objetos distantes, conhecida como miopia, afeta atualmente uma em cada três crianças e adolescentes em todo o mundo. De acordo com um estudo global publicado na revista científica British Journal of Ophthalmology na última terça-feira (24), a condição deve superar os 740 milhões de novos casos entre jovens de 5 a 19 anos até 2050.
O levantamento indica que, entre 1990 e 2023, a incidência de miopia foi mais alta em países de baixa e média renda, mas o Japão liderou as estatísticas globais, enquanto o Paraguai teve o menor número de casos. Durante o período estudado, a miopia foi mais comum entre adolescentes, atingindo 54% deles entre 2020 e 2023. No entanto, o aumento proporcional entre crianças foi o dobro do registrado entre adolescentes.

Fatores que influenciam a prevalência
Entre os principais fatores associados ao aumento da miopia estão viver no Leste Asiático (35% de prevalência), morar em áreas urbanas (29%), ser do sexo feminino (34%) e estar na adolescência (47%). Além disso, o estudo aponta que o cenário atual deve se manter nos próximos anos.
Os pesquisadores sugerem que o desenvolvimento econômico acelerado em regiões como Leste e Sul da Ásia está relacionado ao aumento expressivo da miopia nesses locais. “Observamos uma ligação entre o início precoce da educação formal e a ocorrência da miopia em algumas nações do Leste Asiático”, afirmam.
Em contraste, as populações africanas apresentam menores índices de miopia, atribuídos a fatores como taxas mais baixas de alfabetização e o início tardio da educação formal, geralmente entre 6 e 8 anos. A diferença entre os gêneros também pode estar associada a mudanças comportamentais na puberdade, que fazem as meninas passarem mais tempo em casa, se dedicando a atividades como leitura e o uso de dispositivos eletrônicos.

Metodologia do estudo
O estudo analisou 276 pesquisas e relatórios governamentais de 50 países da Ásia, Europa, África, Oceania, América do Norte e América Latina. Ao todo, mais de 5 milhões de crianças e adolescentes foram avaliados, resultando em aproximadamente 2 milhões de diagnósticos de miopia. “Apesar das limitações conhecidas, devido ao tamanho da amostra, nossas estimativas refletem a realidade da prevalência global de miopia, que pode se tornar um grande desafio para a saúde pública”, concluem os autores.

Impacto do uso excessivo de telas
Outra pesquisa, publicada na Jama Network, mostrou que o aumento do uso de telas e a redução de atividades ao ar livre durante e após a pandemia da Covid-19 contribuiu para o crescimento dos casos de miopia entre crianças. O estudo comparou dados de mais de 20 mil crianças de 6 a 8 anos em Hong Kong, dividindo a análise em três períodos: antes da pandemia (2015-2019), durante o isolamento social (2020) e após o relaxamento das restrições (2021).
A Academia Americana de Oftalmologia (AAO) estima que até 2050, metade da população mundial terá miopia. Para mitigar esse problema entre os mais jovens, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam que os pais incentivem atividades que envolvam olhar para o horizonte, promovendo brincadeiras ao ar livre.

Limites no uso de telas para crianças
Outra orientação importante é restringir o uso de telas para crianças. Até os dois anos de idade, o contato com dispositivos eletrônicos deve ser evitado. Para crianças de 5 anos, o tempo de uso deve ser limitado a uma hora diária, sempre com supervisão. Já para aquelas entre 6 e 10 anos, o limite é de duas horas, e para adolescentes, três horas por dia.