Cenário leiteiro tem estabilidade ameaçada para o final do ano

O presidente da Colels, Lauro Schuster, destaca que o Conseleite indica uma leve baixa. Ele aconselha os produtores a administrar a situação, a fim de evitar problemas financeiros

O mercado de leite brasileiro vive um momento de incertezas para o final de 2024. No Paraná, as projeções do Conselho Paritário entre Produtores de Leite e Indústrias de Laticínios do Paraná (Conseleite-PR), órgão que define uma referência de preço para o leite, indicam uma ligeira queda nos preços pagos aos produtores, um reflexo das oscilações econômicas e das políticas de importação e exportação. O presidente da Cooperativa dos Produtores de Leite de Laranjeiras do Sul (Colels) Lauro Schuster, detalha o cenário atual e alerta os produtores sobre a importância de investimento na propriedade para resistir a períodos de baixa.

Conseleite e Cepea

O Conseleite-PR estabelece projeções de preços baseadas em levantamentos de mercado, considerando custos de produção e vendas. Essas análises acontecem entre o final de um mês e meados do mês seguinte, o que, segundo Schuster, pode resultar em um valor que não reflete as flutuações mais recentes do mercado. “Às vezes, nos últimos dias do mês, o mercado reage, mas o Conseleite não acompanha, o que pode enganar o produtor”, explica.

Em contraste, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da ESALQ/USP, divulga valores mais próximos da realidade. Suas pesquisas são realizadas após o fechamento dos pagamentos aos produtores, garantindo que os preços divulgados já refletem as variações efetivas do mercado. “O Cepea traz um preço real, porque se baseia no que o produtor recebeu”, esclarece o presidente, indicando que muitos produtores preferem seguir as cotações do Cepea por serem mais precisas.

Projeções para novembro indicam queda

Na última resolução do Conseleite, divulgada semana passada, o preço do leite entregue em setembro e pago em outubro foi ajustado para R$ 2,60. Para o leite entregue em outubro e a ser pago em novembro, a projeção caiu para R$ 2,57, uma redução de três centavos. “Não é uma alta, é uma baixa. Já estamos vendo uma tendência de queda”, aponta Lauro.

Ele explica que a movimentação de preços é frequentemente influenciada por fatores externos, como a oscilação do dólar e as políticas comerciais do Brasil com países vizinhos, especialmente Argentina e Uruguai. Recentemente, o aumento do dólar e as restrições de importação de lácteos desses países sustentaram o preço do leite no Brasil, uma vez que as empresas locais foram obrigadas a buscar insumos nacionais. “Com o dólar alto, produtos lácteos importados ficam menos atrativos. Então, as empresas se voltaram para os produtores brasileiros, o que ajudou a manter o preço. Mas isso não dura para sempre”, observa Schuster.

Investimento na propriedade

Mesmo com o cenário relativamente estável, Schuster aconselha cautela e recomenda que os produtores utilizem o momento para preparar suas propriedades. Segundo ele, o ciclo de alta nos preços é sempre seguido por períodos de baixa, exigindo resiliência dos produtores. “Aproveitem o momento para investir. Quando o leite entra em crise, a propriedade bem equipada e organizada é a que consegue se sustentar”, orienta.

Ele sugere que os produtores direcionem recursos para melhorias estruturais, aumentando a eficiência e reduzindo custos operacionais. “Muitos não se preparam, e quando chega a crise, não conseguem suportar. É por isso que vemos muitos produtores desistindo da atividade”, reflete.

Expectativas para o final do ano

Apesar de algumas empresas estarem segurando os preços para não perder fornecedores, Lauro alerta que o mercado segue instável e que a pressão por quedas pode aumentar nos próximos meses. “O leite nunca sustenta preço alto por muito tempo. É uma gangorra: sobe por dois ou três meses, depois volta a cair”, comenta.

Com isso, a recomendação final dele é que os produtores estejam atentos às novas tecnologias e práticas de gestão, que podem ajudar a enfrentar as oscilações de preços. “A administração dessas altas e baixas é o que define a sobrevivência do produtor. Quem conseguir se adaptar e investir com sabedoria vai conseguir atravessar o período difícil”, conclui.

Um futuro incerto

O mercado de leite se mostra desafiador, com oscilações frequentes e influências externas imprevisíveis. Para os produtores, a mensagem é clara: adaptação e preparação são fundamentais. A recomendação de Lauro Schuster é que os produtores invistam em eficiência e estejam prontos para lidar com os altos e baixos. “O produtor que se antecipa à crise, se mantém”, resume ele, deixando um alerta sobre o risco de quedas mais acentuadas no final do ano