Apesar da alta no preço, importação preocupa produtores de leite
Segundo o presidente da Colels, Lauro Schuster, não há otimismo. “Com a oscilação de preço, é preciso gerir o que há na propriedade sem altos investimentos. A situação do produtor não é favorável”
Desde janeiro de 2024, após uma série de quedas consecutivas em 2023, o preço do leite para o produtor registrou alta direta, alcançando um aumento de 4,5%. Este aumento levou o preço a atingir R$ 2,1347 por litro na média Brasil líquida, de acordo com dados fornecidos pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Porém, as importações de lácteos estão crescendo, o que afeta diretamente nessa atividade econômica.
Comparação
Apesar da alta, a média está 23,3% abaixo da registrada em janeiro de 2023 em termos reais. Os valores foram deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro de 2024. De acordo com o centro de estudos da Esalq/USP, o motivo do aumento do preço ao produtor é a menor produção no campo.
Importação
Mesmo com a implementação de um decreto do governo federal, assinado em outubro de 2023, que visa desencorajar as compras no exterior, as importações de produtos lácteos continuaram a crescer. Esse aumento levanta preocupações entre os produtores quanto à possível ineficácia da medida. O Ministério da Agricultura e Pecuária menciona “importações preventivas”, que foram feitas antes da legislação entrar em vigor. Apenas nos primeiros quinze dias de fevereiro, as importações de lácteos atingiram 187 milhões de litros em equivalente leite, ultrapassando o total registrado no mês inteiro de fevereiro de 2023, que foi de 156,5 milhões de litros, conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Os lácteos importados têm sua origem principalmente na Argentina e no Uruguai, países que subsidiam seus produtores, assim diminuindo os custos de produção.
Perspectivas
De acordo com o centro de estudos da USP, a previsão é que os preços do leite cru continuem em alta nos próximos meses. No entanto, fatores como consumo e importações estão influenciando esse panorama. O consumo de produtos derivados, no final da cadeia, é impactado pelo aumento nos preços dos produtos, e os laticínios têm enfrentado dificuldades para repassar o aumento dos custos da matéria-prima durante as negociações com os canais de distribuição.
O presidente da Cooperativa de Produtores de Leite de Laranjeiras do Sul (Colels), Lauro Schuster, atenta que o mercado está oscilando e o cenário é de insegurança. “O produtor de leite precisa fazer investimentos diários para se manter, porém nesse período arriscado, estamos todos de mão atadas”.
Ele complementa que apenas o produtor que consegue manter a eficiência dentro de sua propriedade, tanto de manejo como de administração, se mantém no azul. “Muitos pararam com a atividade pois não lucravam. Independente da oscilação de preços, as contas chegam e é necessário dar o giro. Não há lugar para correr”.
Cenário regional
Mesmo com o cenário de melhoras no preço nesses primeiros meses do ano, Lauro destaca que as informações das empresas não são muito animadoras, já que as vendas das indústrias para os atacados e varejos, não apresentaram alta e sim uma estabilidade, fazendo com que o desenho de mercado não apresente progresso. “A princípio não teremos um avanço alto nos preços do leite, porque as importações no mês de fevereiro bateram recorde, e isso é terrível. As indústrias que optam pela compra do produto importado quebram diariamente com a produção brasileira”. Por fim, Lauro afirma novamente que o cenário não é favorável e é preciso colocar o pé no freio. “Não há otimismo. Minha dica aos produtores é ter extremo cuidado com os investimentos altos e manter a propriedade com o que já possui. Dias melhores virão e quem tem fé em Deus acredita nisso. Aguentaremos firmes e torcemos por um futuro próspero”, finaliza o presidente da Colels.