Especialista alerta sobre a doença de Newcastle e o impacto nas importações

De acordo com a veterinária especialista em aves, Maria Letícia dos Santos, a enfermidade provoca sinais respiratórios, manifestações nervosas, diarreia e edema na cabeça no animal

Na semana passada, no Rio Grande do Sul, foi registrado um caso da Doença de Newcastle (DNC), levando o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) a suspender temporariamente as exportações de carne de frango para diversos países. Essa doença viral altamente contagiosa, que afeta tanto aves domésticas quanto silvestres, foi detectada em uma granja de produção avícola comercial em Anta Gorda, gerando grande preocupação no setor agropecuário. Para entender melhor a doença, utilizaremos dados do Mapa e a experiência da médica veterinária especializada em aves de corte e postura, Maria Letícia dos Santos, que atua no Sudoeste paranaense.

O que é a enfermidade?
De acordo com o Mapa e a veterinária, a DNC é causada por um paramixovírus aviário do sorotipo 1 (APMV-1). “Ela provoca sinais respiratórios em aves, frequentemente seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema na cabeça. Embora a doença possa afetar uma variedade de aves, ela é particularmente devastadora para as aves comerciais devido à sua alta transmissibilidade e mortalidade” afirma Maria.
“A transmissão da DNC ocorre principalmente por aerossóis de aves infectadas, mas também pode acontecer através de produtos contaminados, como ração e água. Além disso, vetores como roedores, insetos e outros animais podem contribuir para a disseminação do vírus”, destaca a profissional. Além disso, ela explica que a infecção pode se espalhar rapidamente, levando a surtos severos se não forem implementadas medidas de contenção imediatas.

Impacto nas exportações
O Mapa revisou os protocolos de emissão de certificação para exportações de carnes de aves e seus produtos, afetando temporariamente as vendas para 44 países. A certificação para exportação é um acordo bilateral entre países-parceiros, e a modificação preventiva do Certificado Sanitário Internacional (CSI) visa atender às garantias e requisitos acordados.
Para mercados como China, Argentina, Peru e México, a suspensão das exportações vale para todo o Brasil. Já outros países, como África do Sul, União Europeia e Vietnã, impuseram restrições específicas para o estado do Rio Grande do Sul ou para regiões em um raio de 50 km do foco identificado. Essas medidas visam prevenir a disseminação da doença e garantir a qualidade dos produtos brasileiros.
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior exportador de carne de frango do Brasil, ficando atrás do Paraná e de Santa Catarina. Nos primeiros seis meses do ano, o estado vendeu para o exterior 354 mil toneladas, gerando uma receita de US$ 630 milhões. Essas exportações representaram 13,82% dos US$ 4,55 bilhões gerados pelo país e 14,1% das 2,52 milhões de toneladas exportadas pelo Brasil no mesmo período.

Medidas de contenção
A médica veterinária destaca a rapidez e eficácia das medidas de contenção implementadas. “A resposta rápida das autoridades foi crucial para controlar a situação. Exames realizados pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária descartaram a possibilidade de novas ocorrências de foco neste momento”, enaltece a especialista.
De acordo com o Mapa, as amostras coletadas na zona de proteção estabelecida para DNC foram transportadas para o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em São Paulo em um esforço conjunto do Governo – Casa Civil, Ministério da Defesa e Força Aérea Brasileira (FAB). As análises foram processadas em tempo recorde, confirmando a ausência do vírus nas propriedades suspeitas.
Após a detecção da enfermidade, mais amostras de aves recolhidas em Anta Gorda testaram negativo para a doença de Newcastle no último sábado (20). A análise envolveu animais em um raio de até 10 quilômetros do aviário com foco registrado. Seis barreiras sanitárias foram instaladas pelo governo estadual. As contenções, feitas por 50 servidores da Secretaria de Agricultura e soldados da Brigada Militar, desinfetarão veículos que transportam ração ou pintos e desviarão cargas de maior risco durante a semana.

Segurança do consumo
Apesar do episódio, o Mapa garantiu que o consumo de carne de frango e ovos inspecionados pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO) permanece seguro. “A doença de Newcastle pode causar conjuntivite transitória em humanos, mas não há risco significativo associado ao consumo de carne de frango e ovos”, explicou Maria Letícia. “O ministério reforçou que os produtos avícolas inspecionados continuam seguros e sem contraindicações” reitera a especialista.

Histórico
Os últimos casos confirmados de DNC no Brasil haviam ocorrido em 2006, nos estados do Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. A especialista relembra que, naquela época, foram necessárias medidas drásticas, como a eliminação de aves infectadas e a interdição de estabelecimentos avícolas, para conter a disseminação da doença.

Impacto econômico
O impacto financeiro pode ser significativo. “Além das perdas diretas com o sacrifício de aves, há também o efeito nas exportações, que são suspensas temporariamente. O Mapa suspendeu as exportações por 90 dias” comenta Maria Letícia.
Além disso, ela relembra que o Rio Grande do Sul é um dos principais exportadores e enfrenta uma potencial perda de receitas. “Não é apenas a propriedade afetada que sofre prejuízos, a economia do estado como um todo também é impactada, dada a importância das exportações de carne de frango para a economia regional”, finaliza a veterinária.