Incêndios no interior de SP podem elevar preços do açúcar e etanol
As chamas também destruíram rebrotas, afetando futuras safras e forçando os agricultores a replantar. As perdas agrícolas, estimadas em R$ 1 bilhão até agora, incluem outras culturas e animais de criação
A série de incêndios que atingiu o interior de São Paulo está causando um impacto significativo nas lavouras de cana-de-açúcar, exacerbando as perdas que já vinham sendo registradas desde abril devido à seca prolongada. O fogo devastou áreas cultivadas, comprometendo não apenas a safra atual, mas também as futuras colheitas, ao destruir rebrotas essenciais para as safras subsequentes. Esse cenário de destruição traz sérias consequências econômicas, como aumento dos custos de produção, redução da produtividade e possível elevação nos preços do açúcar e do etanol, alertam especialistas do setor.
Efeitos no campo e na economia
A safra de cana-de-açúcar em São Paulo, o maior produtor do país, enfrenta uma queda significativa devido à seca severa e uma onda recente de incêndios. Desde abril, as estimativas de colheita foram revisadas para baixo, com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) prevendo agora 370 milhões de toneladas, uma redução de 12% em relação à previsão inicial de 420 milhões de toneladas. Os incêndios devastaram 59 mil hectares, queimando 5 milhões de toneladas de cana, o que representa 1,5% da produção estadual. Além dos danos imediatos, as chamas destruíram rebrotas, afetando futuras safras e forçando os agricultores a replantar ou enfrentar uma redução na produtividade das lavouras. Em entrevista ao G1, o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, alerta para os impactos financeiros diretos, já que “queimar cana é queimar dinheiro”. A colheita rápida da cana queimada é urgente para evitar contaminação por fungos e bactérias, mas a capacidade das máquinas é insuficiente para atender à demanda imediata.
Incêndios e perspectivas fruturas
Os incêndios recentes não são um evento isolado, mas parte de uma série de problemas que têm afetado a produção agrícola em São Paulo. O estado, que lidera a produção de cana-de-açúcar no Brasil, enfrenta uma combinação de fatores climáticos adversos e desafios estruturais que ameaçam a estabilidade da cadeia produtiva. A falta de chuvas desde abril não apenas reduziu a quantidade de cana disponível, mas também comprometeu a qualidade da matéria-prima, que está mais seca e menos adequada para a extração de açúcar e etanol.
A Orplana planeja divulgar novos dados sobre o impacto dos incêndios nos próximos dias, mas as projeções já indicam uma necessidade de revisão das estimativas de produção para o restante da safra. “Devemos revisar as projeções de produção para baixo”, antecipa Nogueira, em referência ao impacto contínuo da seca e dos incêndios.
Impactos no mercado
Os efeitos econômicos dos incêndios já estão sendo sentidos no mercado internacional. Os contratos futuros de açúcar bruto na bolsa de Nova Iorque registraram uma alta de 3,5% logo após os incêndios no Brasil, o maior produtor mundial de cana. Esse aumento reflete a preocupação dos investidores com a redução da oferta global de açúcar, um cenário que pode ser exacerbado se as condições climáticas adversas persistirem.
Além do açúcar, o mercado de etanol também deve sentir os efeitos dessas perdas. O analista da Safras e Mercados, Maurício Muruci, alerta que o impacto no preço do etanol ao consumidor deve ser percebido em um prazo de 15 a 20 dias, tempo necessário para que a cana prejudicada seja processada e chegue às distribuidoras. “É o tempo desta cana que foi prejudicada ser colhida, processada, ir para distribuidora e chegar nos postos”, explica Muruci.
Com a previsão de seca se estendendo até setembro, as perspectivas para a produção de cana em São Paulo continuam sombrias, com impactos que se estenderão ao longo da cadeia produtiva e podem resultar em preços mais altos para os consumidores finais de açúcar e etanol. As perdas agrícolas, estimadas em R$ 1 bilhão até agora, incluem também outras culturas, como frutas e seringueiras, além da morte de animais de criação, como bois e vacas, ampliando o impacto econômico e social dos incêndios na região.