O dilema na integração da agricultura convencional e agroecologia

“É essencial deixar de lado desavenças políticas e ideológicas e buscar um diálogo entre as diferentes práticas agrícolas”, afirma o engenheiro florestal
Avelino Badotti

A agricultura convencional, que surgiu na década de 1970, e a agroecologia, que preza pela preservação ambiental e sustentabilidade, são abordagens distintas, mas podem aprender uma com a outra e trabalhar em conjunto. De acordo com o engenheiro florestal e colunista do Correio do povo, Avelino Badotti, a troca de experiências e a adaptação de técnicas entre as duas práticas agrícolas são fundamentais para o avanço da agricultura como um todo.

Convencional ou agroecológica?

Segundo o engenheiro, a agricultura convencional tem como base o sistema de plantio direto, rotação de culturas e uso intensivo de fertilizantes e agroquímicos. Porém, desvios como a redução da rotação de culturas e a falta de compensação no preço dos grãos dificultam a sustentabilidade do sistema. Enquanto a agroecologia foca na integração da produção agrícola com a preservação ambiental, por meio do uso de biofertilizantes, inoculantes e técnicas da agricultura biodinâmica.

Integração

Já existem exemplos de integração entre as duas abordagens, como a utilização de inoculantes na agricultura convencional, para aumentar a retenção de nitrogênio e diminuir a quantidade de adubação nitrogenada no cultivo da soja. Outras tecnologias integradas incluem a utilização de lagartas trituradas como repelentes naturais em lavouras.

A busca por estímulos e técnicas que possam ser adaptadas para melhorar o cultivo das plantas é o principal foco de pesquisas na área de Agronomia. A agricultura biodinâmica, por exemplo, oferece opções como o uso de bioestratos e insumos que podem beneficiar a agricultura convencional. Integrar essas técnicas pode melhorar a produtividade e a qualidade dos alimentos produzidos.

“É essencial deixar de lado desavenças políticas e ideológicas e buscar um diálogo entre as diferentes práticas agrícolas, pois não existem duas agriculturas distintas, mas sim uma única agricultura com métodos de cultivo diferentes”, afirma Avelino.

Benefícios mútuos

Conforme o engenheiro florestal, a integração entre a agricultura convencional e a agroecologia é essencial para alcançar um equilíbrio entre quantidade e qualidade na produção agrícola. Focando nos pontos em comum e nos benefícios mútuos que podem surgir dessa colaboração, é possível promover a preservação do meio ambiente, a saúde do solo e a melhoria da qualidade dos alimentos produzidos.

Pequenos produtores ou assentamentos podem se beneficiar do uso coletivo e cooperativo de maquinário e tecnologia, auxiliando na realização de mapeamento de solo em 3D, na implementação de curvas de nível ou na redução das perdas de solo por erosão.

A agricultura convencional pode se beneficiar das práticas agroecológicas que visam melhorar a qualidade dos alimentos e a saúde do solo, enquanto a agroecologia pode aproveitar os avanços tecnológicos e a eficiência proporcionada pela agricultura convencional. “Ao unir forças, esses dois sistemas podem trabalhar juntos para promover uma agricultura mais resiliente, sustentável e eficiente”, diz Badotti.

“Garantir uma produção de alimentos de alta qualidade em quantidade suficiente para atender às demandas crescentes da população é um dos principais desafios do setor agrícola. A integração de práticas e o compartilhamento de conhecimentos e experiências entre os produtores e pesquisadores, são fundamentais para alcançar esse equilíbrio e enfrentar os desafios globais, como mudanças climáticas e perda de biodiversidade”, conclui Avelino Badotti.