Preço do litro de leite a R$ 3? Veja as perspectivas para os próximos meses

Apesar de pequenas altas nos preços pagos por litro, a situação é de alerta. “Alguém está ganhando muito dinheiro nessa cadeia, mas não é o produtor,” afirma o presidente da Colels, Lauro Schuster

O mercado da pecuária leiteira vive de incertezas, altos e baixos. O setor, no Paraná e no Brasil, tem enfrentado um cenário desafiador nos últimos 12 meses, conforme relata o produtor e presidente da Cooperativa de Leite de Laranjeiras do Sul (Colels), Lauro Schuster. A situação dos pecuaristas, especialmente os pequenos, está longe de ser confortável, apesar de pequenas altas nos preços pagos ao produtor nos últimos meses. “Estamos enfrentando dificuldades há praticamente 12 meses. Recentemente, houve uma pequena alta, o que traz algum alívio, mas muitos produtores ainda recebem menos de R$3 por litro de leite. Enquanto isso, os consumidores acham que está caro no mercado porque o produtor está ganhando muito, mas essa não é a realidade”.

Preocupação
Ele enfatiza que os produtores estão apenas cobrindo os custos de produção, sem conseguir realizar os investimentos necessários nas propriedades. E é essa falta de investimento que preocupa Lauro. De acordo com ele, a falta de recursos para reinvestir na produção pode trazer sérios problemas no futuro, principalmente para os pequenos produtores que dependem exclusivamente da produção de leite. “Os grandes produtores conseguem se manter porque têm outras fontes de renda, mas o pequeno, que vive da agricultura familiar, está em uma situação muito complicada,” explica.
Para ele, nos últimos meses, houve um aumento de aproximadamente R$ 0,15 no preço pago por litro, mas essa alta não se refletiu de forma proporcional para o consumidor final, que viu o preço do leite subir mais de R$1. “Acompanhei os supermercados na região de Laranjeiras e vi que, enquanto o produtor teve um aumento pequeno, nas gôndolas o preço subiu mais. Alguém está ganhando muito dinheiro nessa cadeia, mas não é o produtor,” afirma o presidente.

Futuro próximo
A perspectiva para os próximos meses não é animadora. Ele menciona que, embora haja expectativa de uma nova resolução do Conseleite em Curitiba, não acredita que as indústrias vão continuar praticando altas significativas nos preços pagos aos produtores. “A tendência é que, se vier alguma alta, será muito pequena. Há até o risco de queda nos preços repassados, pois algumas empresas já estão se retraindo devido às dificuldades”, alerta.
Um dos fatores que contribuíram para a recente alta foi o dólar elevado, que tornou as importações de leite mais caras e menos frequentes, forçando as indústrias a procurarem mais no mercado interno. “O dólar alto dificulta a importação, beneficiando temporariamente o produtor brasileiro, mas isso não garante uma melhora sustentável no longo prazo,” conclui Schuster.

Preços de mercado
No mês de maio, dois dos principais derivados lácteos apresentaram aumento de preço no varejo paranaense: o leite em pó subiu 1,61% e o leite longa vida, 5,86%. No entanto, em comparação com maio de 2023, os preços estão mais baixos. As informações são do Boletim de Conjuntura Agropecuária, elaborado pelos técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
O documento, referente ao período de 14 a 20 de junho, destaca que o maior custo de produção e o volume reduzido de captação nessa época do ano costumam contribuir para a elevação dos preços pagos aos produtores, o que, consequentemente, reflete no preço ao consumidor nos supermercados. Segundo o Deral, é provável que essa alta se estenda pelo inverno, o que pode limitar a demanda e reduzir a presença desses produtos na mesa das famílias.
Apesar do aumento recente, os preços, em comparação com maio de 2023, estão 5,73% mais baixos para o leite em pó e 4,71% para o leite longa vida. O médico veterinário do Deral, Thiago de Marchi, avalia que, com a previsão de um inverno menos rigoroso e com a queda nos preços dos grãos em 2024, é provável que os aumentos sejam contidos. Isso deve reduzir o risco de atingir patamares elevados como os de 2022, quando o preço do litro de leite longa vida chegou a R$ 6,96 na média estadual, durante o auge da estação.