Entenda como os conflitos internacionais afetam o preço dos combustíveis no Brasil
O professor especialista em geopolítica e Relações Internacionais, Osnélio Vailati, discute os reflexos das guerras, especialmente no Oriente Médio. “O petróleo como arma política afetou a economia global e gerou instabilidades”
Em meio a um panorama mundial marcado por divergências e conflitos, o Brasil se vê diretamente influenciado pelos desdobramentos dessas disputas, especialmente quando se trata do setor de combustíveis. Em uma entrevista exclusiva ao Jornal Correio do Povo do Paraná, o professor, especialista em Geopolítica e Relações Internacionais, Osnélio Vailati, ofereceu uma análise direta sobre os impactos e como afetam o Brasil
Influência das guerras
A influência dos conflitos armados no Oriente Médio pode ser sentida nos preços dos combustíveis brasileiros. Diante de cenários cada vez mais adversos, essa repercussão global dos embates pelo mundo traz consequências diretas em diferentes setores da economia brasileira e no bolso do consumidor final.
De acordo com Osnélio, o Oriente Médio, detendo 60% das reservas globais de petróleo, é um barril de pólvora. “Conflitos étnicos, religiosos e políticos podem afetar a produção, comercialização e transporte de petróleo, especialmente em pontos estratégicos como o Estreito de Ormuz e o Mar Vermelho”.
Além disso, para o professor, a história mostra que guerras na região podem ser usadas como arma geopolítica, como ocorreu na crise do petróleo durante as guerras Árabe-Israelenses.
Crise do petróleo
Osnélio aponta que as estratégias geopolíticas impactaram a estabilidade econômica global e os conflitos armados têm criado uma crise do petróleo. “Durante as guerras Árabe-Israelenses, o Oriente Médio utilizou o petróleo como arma geopolítica, reduzindo a oferta no mercado internacional. Essa estratégia afetou a economia global e gerou instabilidades”.
Segundo ele, numa rápida pesquisa sobre a cotação do petróleo, se observa uma alta significativa após a deflagração da Guerra Rússia-Ucrânia. A Rússia foi imposta a maior carga e sanções da história, e acabou não tendo resultados quanto às exportações de petróleo e gás daquele país que é o terceiro maior produtor, pois, as redirecionou para outros clientes. “Os preços retornaram aos níveis anteriores à guerra. Os conflitos atuais no Oriente Médio, dentre estes Israel contra a Palestina ocupada, causam preocupação tendo em vista que podem trazer novos atores para o embate. Penso que, a tendência é os Estados Unidos da América às vésperas de uma eleição presidencial, e com o aumento da oposição interna de cidadãos estadunidenses contrários ao posicionamento de apoio ao governo de Benjamin Netanyahu, e apoiada por vários países tenda a forçar Israel a abandonar, pelo menos temporariamente, os ataques”, detalha. “Netanyahu está perdendo apoio interno e talvez seja forçado a renunciar. Israel certamente gostaria que os conflitos se espalhassem pelo Oriente Médio para deixar de ser foco da atenção da mídia. Estamos em uma nova Guerra Fria. não há mais certezas, a insegurança é a tônica e, os líderes das grandes potências imperialistas, procuram semear o medo, a insegurança, para justificar e ter a concordância da população para o aumento de impostos e, ou o redirecionamento de percentuais significativos do orçamento público para o setor militar. Uma nova corrida armamentista está em andamento”, afirma Osnélio.
Fatores internos e impacto a economia
Ainda segundo ele outro fator que contribui para os preços dos combustíveis é a privatização de refinarias. “A política de privatização traz um aporte de dinheiro para a estatal quase sempre inferior ao valor das mesmas, mas, privilegia enormemente as petroleiras estrangeiras que podem refinar com custos em reais e vender com preços em dólares. Não é uma política de caráter nacionalista, no entanto, a empresa se equilibra entre beneficiar o povo brasileiro, verdadeiro dono do petróleo nacional e seus acionistas que desejam dividendos.”
Sobre o impacto do custo do petróleo e seus derivados, o professor explica que ele pode ser sentido na economia brasileira. “Especialmente devido à nossa dependência do transporte rodoviário, pois, nossa infraestrutura rodoviária precária, e somada ao encarecimento do próprio combustível, eleva os custos de transporte de mercadorias, afetando o consumo interno e as exportações”, reforça.
Medidas para mitigar os impactos
Conforme Vailati, são essenciais medidas a médio e longo prazo, mas, poucas têm resultados imediatos e, mesmo estas têm pouco efeitos. “A redução de impostos sobre combustíveis, aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores, expansão do parque de refino nacional e revisão do Marco Regulatório do Petróleo são passos importantes”.
Ele também destaca a importância da manutenção da política de servir a dois senhores, acionistas e povo brasileiro, como compromisso em equilibrar interesses. “Não teremos gasolina barata, mas, aquele ímpeto de gasolina cara para aumentar os dividendos dos acionistas não será mais atendida”, explica.
“Revisar o Marco Regulatório do Petróleo poderia proporcionar maior controle sobre a política de preços, mas é uma mudança improvável, dadas as atuais dinâmicas políticas”, completa ele.
Perspectivas futuras
Para Vailati, a geopolítica global e as decisões internas continuarão norteando os preços dos combustíveis. “As perspectivas para os preços dos combustíveis no Brasil dependem do cenário internacional, da cotação do dólar e das políticas implementadas pela Petrobras. Acredito que, uma vez implantado todo o percentual de impostos que estão sendo gradativamente efetivados, não teremos aumentos com a frequência vista no governo anterior.” Vailati, também mostra confiança na estabilização, ressaltando que ajustes cuidadosos são essenciais.
Vailati prevê que com uma tributação adequada o preço dos combustíveis terá estabilidade, ainda que existam fatores esternos constantemente movimentando o mercado do petróleo. “Uma vez implantado todo o percentual de impostos gradativos, acredito que não teremos aumentos com a frequência vista no governo anterior. A estabilização será favorecida.”
Ele também expressa confiança na capacidade dos governos de enfrentar desafios, mesmo diante de um cenário internacional incerto. “Um aumento prolongado dos preços dos combustíveis teria impactos severos na economia brasileira devido ao baixo poder aquisitivo da população. A distribuição de renda e medidas estruturais são cruciais para evitar uma espiral de aumentos. Embora a instabilidade geopolítica represente riscos, confio na capacidade das lideranças globais de evitar conflitos extremos”, finaliza.