Dilvo Grolli: de vendedor de leite a líder da cooperativa que fatura R$ 5,8 bi
Presidente revisita tempo das vacas magras, quando a Coopavel tinha uma moeda no ativo para cada três no passivo
Uma recepção com a hospitalidade de sempre. Este é um dos casos raros em que o cargo não se sobrepõe à simplicidade da personalidade. Mesmo sendo o presidente da Coopavel, a 15ª maior cooperativa do Brasil; o precursor da maior feira de tecnologia do agronegócio da América Latina, o Show Rural e um líder respeitado, Dilvo Grolli nunca deixou de ser ele. Quem conhece sabe. Dilvo é espontâneo, sorridente e dono de uma memória incrível, com datas e números que fluem naturalmente.
O talento se revelou cedo. Dilvo Grolli nasceu em Cascavel em 1953 e herdou do pai o amor pelo agro. O primeiro emprego foi como vendedor de leite. “Tínhamos uma chácara, minha mãe tirava o leite, e eu, como filho mais velho, levava o leite para a cidade para vender de casa em casa”, relembra.
Os estudos nunca ficaram de lado, e nem o trabalho. Na juventude, Dilvo foi garçom de bares e restaurantes, e os atos de atender e servir as pessoas foram grandes experiências.
Em outra etapa da vida, trabalhou em um banco e logo entrou para a faculdade. Ciências Contábeis foi o primeiro diploma. Administração de Empresas, o segundo. E assim o empreendedorismo, que já corria nas veias, ganhou intensidade.
Coopavel
A partir desta parte do texto, outra personagem entra em cena: a Coopavel. As histórias estão fortemente conectadas. Quem conhece a trajetória sabe que não há como pensar em Coopavel sem Dilvo e em Dilvo sem Coopavel.
A cooperativa foi fundada em 15 de dezembro de 1970, mas nasceu de novo 15 anos depois, quando uma corajosa equipe se dedicou ao resgate. A falência era uma realidade e parecia um caminho sem volta.
O encontro de Dilvo com a Coopavel foi em 1985. Abrindo um parêntese e mergulhando no túnel do tempo, este foi o ano da última eleição indireta no Brasil que declarou a vitória de Tancredo Neves. Nesta época, José Richa era o governador do Paraná e Fidelcino Tolentino era o prefeito de Cascavel, cidade que tinha cerca de 170 mil habitantes, metade da população de hoje. A situação econômica era completamente desfavorável, com inflação mensal de 15%.
Eram tempos difíceis. A Coopavel estava a um passo do fim, declarada insolvente pela Justiça, ou seja, o valor das dívidas era maior que a soma do seu patrimônio.
Foi neste contexto que o Dilvo disse sim ao convite da cooperativa para integrar uma comissão interventora, criada com a missão de recuperar o que parecia irrecuperável. A data está na memória. “No dia 2 de fevereiro de 1985, passei a fazer parte da comissão. Fui convidado por ser produtor rural e associado. A junta era formada por seis pessoas e estávamos diante de um desafio enorme. Se fossemos comparar na moeda de hoje, para cada R$ 1 de capital a Coopavel tinha R$ 3 de dívida”, relembra Dilvo.
A comissão virou diretoria: Salazar Barreiros (in memorian) era o presidente, o agropecuarista Ibrahim Faiad o vice, e Dilvo atuava como diretor-secretário. “Tínhamos a incumbência de fazer com que a cooperativa não gerasse mais prejuízo à sociedade. E como não havia capacidade de pagar todas as contas, tínhamos que administrar o que restou”.
Foram cinco anos apenas pagando contas e saneando problemas. A cooperativa optou por deixar de atuar na região Sudoeste, atestando inviabilidade naquele momento. Enquanto isso, o Oeste enfrentou uma grande reestruturação. “Conseguimos colocar em dia os salários dos funcionários, atrasados há mais três meses. Outra meta era pagar os produtores rurais que haviam colocado a produção na cooperativa. O produto tinha sido negociado sem que eles fossem remunerados. Mais um desafio foi dialogar com os credores e depois com os bancos”, pontua Dilvo.
A virada de chave
Até aqui, uma coletânea de dificuldades. Para driblar os obstáculos, estratégias de gestão foram criadas. Depois de tantos sufocos e malabarismos, o equilíbrio das contas foi conquistado.
Em 1989, com Ibrahim Faiad na presidência, a Coopavel entrou em um novo momento. Era preciso empreender para crescer. Meta? Reativar o que estava parado. Nada menos que uma indústria de óleo, uma fábrica de ração, um pequeno frigorífico e um laticínio.
Nada simples, principalmente porque não havia dinheiro e nem crédito para investir. Por conta disso, a batalha do projeto de carnes levou cinco anos para ser concluída e somente em 1995 entrou em operação.
O que virou o jogo?
A credibilidade. “As pessoas tinham que acreditar na gestão, em quem estava lá estava na tentativa de fazer a coisa certa. Tínhamos apenas o nosso trabalho para colocar à disposição e as pessoas confiaram na equipe. Conhecíamos as dificuldades, mas não tínhamos noção de quanto tempo levaríamos para sair do atoleiro. As pessoas vinham até nós e diziam: “Nós confiamos em vocês e vamos entregar nossa produção”. Sentimos o peso da responsabilidade”, declara Dilvo.
Depoimento
Esta é uma história que te emociona?
“Claro, eu passava a noite sem dormir. Eu tinha que fazer alguma coisa, as pessoas tinham confiado, era muita responsabilidade. Gente!”. A frase termina com um suspiro profundo e lágrimas nos olhos.
Tem algum lado do Dilvo que as pessoas não conhecem? Nós conhecemos o Dilvo da Coopavel, o Dilvo do Show Rural, o Dilvo líder, defensor das bandeiras do Oeste. E o outro Dilvo, este que está aqui agora?
“Quando tem algumas coisas em que preciso me aprofundar no eu, me isolo. Vou para a minha propriedade e fico, eu e Deus. Tenho que ter espaço para olhar. Em momentos assim, não posso ficar pensando numa sala fechada”. Mais uma vez um suspiro com olhos marejados. Durante a tarde com o Dilvo, tivemos a certeza de que liderar é uma tarefa de grandes angústias, mas neste caso, a história termina com vitória.
Show Rural, do guardanapo de papel ao mundo real
Eis que o jogo virou e a Coopavel encontrou o caminho do crescimento. Talvez seja novidade para muita gente, mas o Show Rural nasceu de um desenho feito num guardanapo de papel. E de duas mentes geniais: Dilvo Grolli e Rogério Rizzardi, o agrônomo e parceiro de longa data.
E é sempre assim. As ideias só nascem quando os problemas realmente incomodam. E o êxodo rural era uma “senhora” pedra no sapato. Nas décadas de 70 e 80, o campo passava por um processo de esvaziamento pra lá de preocupante. “Essa situação tirava a nossa paz e queríamos algo novo para fixar os produtores aqui. Em 16 de setembro de 1988 fomos para os Estados Unidos conhecer uma exposição chamada Farm Progress Show. Nos deparamos com um evento completamente diferente, somente de tecnologia. Foi um choque e saímos convencidos de que era o modelo que precisaríamos trazer para o Brasil”, conta Dilvo.
Neste formato, o Show Rural Coopavel foi pioneiro no país. A história marcou tanto, que os detalhes de como tudo surgiu permanecem frescos na memória. “No dia 30 de setembro de 1988, no voo dos Estados Unidos para o Brasil, avião da Varig, na hora do jantar, eu e o Rogério começamos a fazer o desenho do evento num guardanapo. A área tínhamos na cabeça, onde já aconteciam os dias de campo”. E assim o Parque Tecnológico virou um berço de inovação do agro.
Com o sinal verde do presidente, o projeto ousado começou a ganhar corpo. Primeiro evento: 110 pessoas. “Poderíamos ter começado e desistido, afinal tínhamos imaginado algo grande e não aconteceu conforme o planejado. Mas sabíamos que aquele era o caminho!”. Dilvo encerra a frase com um tapa na mesa ilustrando a certeza que tinham de que esta era a chave da porta que estavam buscando. Eureca!
Hoje o Show Rural é o maior da América Latina. Mas é muito mais do que tamanho e público. “O Show Rural fez com que tivéssemos um aumento de 100 a 200% nas produtividades e acabou com o êxodo rural”.
A feira ganhou recentemente um novo espaço, o Impulso, que tem atraído os jovens com sede de inovação e tecnologia. O evento impulsionou a sucessão familiar. O olhar visionário, de início, assustou os quem tinha um pensamento mais conservador. Mas a linha de raciocínio estava certa. O futuro chegou. “A juventude quer que o trator seja pilotado pelo celular, quer saber na tela do smartphone quantos grãos estão caindo por metro e qual a profundidade. É isso!”
A 35ª edição já tem data marcada, 06 a 10 de fevereiro de 2023. A feira virou referência no mundo e é um encontro de gerações de olho no futuro.
Coopavel no Ranking
– 15ª maior cooperativa agro do Brasil;
– 10ª maior cooperativa agro do Paraná;
– 8.500 colaboradores;
– 6.500 associados;
– Em 2021, o faturamento foi de R$ 4,9 bilhões, com crescimento de 42%;
– Para 2022, previsão de recorde. A expectativa é atingir R$ 5,8 bi.
Estrutura
34 filiais;
Indústria de esmagamento de soja;
Indústria de moagem de trigo;
4 indústrias de produção de ração;
1 frigorífico de carne de frango;
1 frigorífico de carne suína;
1 indústria de fertilizantes sólidos;
1 indústria de fertilizantes foliares;
1 indústria de produtos de limpeza;
1 indústria de fertilizantes biológicos.
Números do agro no Brasil
– Mais de 50% das exportações;
– 24% do PIB;
– 27% dos empregos;
– De 2005 a 2015, o Brasil saltou de 100 milhões de toneladas de grãos para 200 milhões de toneladas;
– De 2015 a 2023, o país deve crescer 105 milhões de toneladas;
– Até 2030, a previsão é atingir 400 milhões de toneladas.