Um dia desses eu estava falando com meu cachorro, veja bem ‘eu estava falando, não conversando’, pois tenho bem claro que conversar quer dizer ‘troca de palavras’, e não tenho a perspectiva de que ele me compreenda, ou a menor pretensão de que ele me responda. Pois bem, mas eu falava com ele, porque gosto de falar com quem demonstra uma escuta ativa e pensando bem, cachorros poderiam ensinar a muitos seres humanos, sobre escutar ativamente, ou seja, olhar nos olhos, dar atenção e mostrar algum sinal de interação, como eles fazem quando mexem as orelhas ou o rabo, mas voltando ao assunto, eu falava com ele sobre a demora do meu filho em sair para alimentá-lo, porque estava entretido com o computador, aí disse a ele que certamente ele (o cachorro), não sabia o que era um computador e para explicar-lhe disse que se tratava de algo que ‘rouba’ as pessoas das pessoas. Não acredito, como já disse, que ele tenha me entendido, mas lhe perguntei, ‘no seu mundo canino o que lhe rouba de outros cachorros? E em seguida respondi: Sei que muitas vezes é o ser humano. Pois alguns humanos, os separam e os tratam como humanos e esquecem que vocês são cachorros e precisam interagir com outros cachorros.
Então conclui minha reflexão com ele da seguinte forma: o computador rouba pessoas de pessoas; Pessoas roubam cachorros de seu direito de serem cachorros, que loucura é essa? Por que simplesmente as coisas parecem loucamente fora do lugar? Por que a tecnologia e o mundo virtual, não são vistos simplesmente como meios? Mas, ao invés disso, têm ocupado todos os aspectos de princípio, meio e fim? Por que de repente os equipamentos eletrônicos valem mais que pessoas? São mais bem quistos que gente? E daí vem a quase substituição de animais (pets) por companhia humana. Prefere-se um cachorro a um filho. Trata-se melhor um cachorro do que uma criança, veste-se cachorro, enquanto crianças passam frio, educam-se cães em escolas, enquanto crianças estão fora dela, alimenta-se com qualidade e preocupação os cães, enquanto o país ainda exibe níveis absurdos de desnutrição. Que valores são esses? O que está acontecendo com a humanidade?
É a chamada ‘Inversão de valores’? Será só isso? Ou trata-se de uma descrença total da humanidade, na humanidade? Se começarmos a refletir nisso com a seriedade que ela exige, vamos gritar como na antiga canção ‘parem o mundo que eu quero descer’, contudo não podemos ‘descer’, pois isso significaria desistir de ver mudanças, de ver as coisas voltarem para seus devidos lugares. Temos é que fazer a nossa parte, valorizar aquilo de que de fato tem valor, e amar mais pessoas que coisas, ou até mesmo amar mais pessoas que animais. Não significa que os bichinhos não precisam de atenção e cuidados, não me interpretem mal, gosto dos pets, só não posso me deixar levar por um amor desenfreado que supere a minha valorização e o meu amor pelo ser humano.