Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completou 42 anos de literatura neste ano de 2022. Amorim é detentor da cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras
Fui convidado a escrever sobre o que os governos devem fazer para incentivar o hábito da leitura no Brasil há um tempo atrás, por um grande jornal do Nordeste. E este é um assunto que dá pano pra manga, pois nosso governo tem prometido repetidas vezes zerar o número de escolas e de cidades sem bibliotecas, em nosso país, mas isso ainda não aconteceu.
Outros programas oficiais têm sido implantados, mas o que funciona mesmo são as iniciativas privadas de pessoas e grupos abnegados e dedicados que colocam em prática suas ideias inovadoras e realmente colaboram para que um número maior de pessoas sejam incentivadas a ler mais. Tenho falado desses casos por anos a fio e isso rendeu inúmeros artigos, porque esses casos bem-sucedidos devem ser conhecidos e copiados.
Como exemplo desse tipo de iniciativa, temos o projeto “Ler é viajar sem sair do lugar”, da professora Marisa, de Joinville, que angaria livros para distribuí-los em hospitais, escolas, consultórios, etc., e um outro similar da professora Edna Matos, de Divinópolis, Minas Gerais, fazendo a diferença.
O Brasil precisa parar de destinar dinheiro público – muito dinheiro – para os partidos políticos, por exemplo, como se fez recentemente, diminuindo a verba dedicada à cultura e à educação. Isso é descaso, desrespeito, para não dizer crime, pois o aumento da violência e da criminalidade em nosso país deve-se à baixa qualidade de nossa educação, deve-se à falência de nossa educação e à desvalorização da cultura pelos detentores do poder.
Num dia 23 de abril de um ano não muito distante, quando se comemora o Dia Mundial do Livro, o Congresso Brasileiro instalou a Frente Parlamentar Mista em defesa do livro, da leitura e da biblioteca. Duzentos parlamentares assinaram requerimento para a criação da força tarefa legislativa em prol do incentivo ao hábito da leitura e, quem sabe, da melhora do acesso ao livro. Esperávamos que realmente fosse implantado, mas não foi o que se viu: o tempo passou e tudo continua igual. Esperávamos muito que funcionasse, mas não funcionou.
A verdade é que muito pouco se faz no Brasil para que o hábito da leitura seja assimilado pelos leitores em formação, para que se possa dizer, mais adiante, que o brasileiro está lendo mais.
Na contramão disso, o resultado da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil denunciou, há algum tempo, que o índice de leitura dos brasileiros caiu de 4,7 livros por pessoa para quatro títulos e o número de leitores caiu de 95 milhões e meio para 88 milhões. E olhe que a população tem crescido muito.
A principal causa disso e a falência da educação brasileira, relegada ao esquecimento pelos detentores do poder. E a medida para melhorar esse estado de coisas é justamente melhorar o ensino público, estruturá-lo, dar a atenção e a importância que ele realmente tem, capacitar os professores e pagá-los dignamente. O Estado precisa priorizar a educação e não desconstruí-la, como vem fazendo. Resgatar e valorizar a educação é uma coisa que precisa ser feita imediatamente. Pois já é muito tarde. Além do descaso dos “governantes” para com a educação, tivemos a pandemia, que paralisou o ensino por dois anos. Uma educação já combalida não aguenta ainda mais isso. Nossos alunos estão passando de ano sem base alguma, sem ter aprendido quase nada, e isso vai do primeiro grau até a universidade. Que profissionais sairão das faculdades? Já não eram os melhores antes da pandemia, o que serão daqui pra diante? Muito preocupante.