Ouso falar por elas

Por Serli Andrade, formada em jornalismo na Universidade Tuiuti do Paraná, especialização em Sociologia pela Ufpr, Artes Cênicas e mestranda em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável pela Uffs

Se dar voz a quem não tem voz, é minha missão, aqui estou. Falo por elas, por todas as vidas que covardemente foram atacadas, naquele espeço que deveria estar sendo tombado, ao invés de destruído.

Passar pela primeira vez, ali, neste dia 18 de janeiro de 2023, foi uma dor imensurável, um sentimento de impotência como sociedade, tal qual aquelas árvores dilaceradas, amontoadas como se coisas sem importância, fossem. É realmente assustadora, a capacidade de destruição que o homem se dá ao direito.

Proprietários? Sinto vergonha alheia, por integrantes de minha espécie, se acharem proprietários de um patrimônio de importância social e coletiva. É uma demonstração de atraso absoluto. Uma derrota social para a estupidez.

Aquelas árvores que tanto se comunicaram conosco, por meio de suas vidas abundantes, que nos inspiravam a seguir caminhando, a sermos fortes e resistentes como elas, gostariam de dizer-lhes, independente que quem forem os senhorios, que tiveram tal atitude imoral e incondizente com quem pensa no próximo e nas próximas gerações. Vocês, desprezam o interesse coletivo, vivem apenas para si, só.

As árvores não são vingativas, nem todas aquelas outras vidas que nelas habitavam, nem as fontes de água que ali, ficaram desprotegidas e secarão. A sociedade que de toda essa diversidade depende, mesmo quando não a enxerga, também não as vingará.  Vocês, poderão ali, exibir seus comércios, suas mansões luxuosas, com seus carros de último modelo nas suas belas garagens. Certamente, ficará tudo muito luxuoso, ao gosto duvidoso dos senhores.

No entanto, a sociedade atual e as vindouras, ficarão cada vez com menos espaços como aquele. Seus descendentes, quando virem imagens do que foi aquele espaço, porque sim, os rastros ficam, talvez os avaliem por eles. Só posso desejar que os desconjurem. Sim, desejamos que os seus descendentes, sejam pessoas altruístas e sensatas.

Por fim, aquelas vidas todas, prejudicadas pela ganância ignóbil que lhes é farta, desejam-lhes, que não se tomem por exemplo, nem que sejam exemplo a ninguém, muito menos às sociedades futuras.  Que vocês sejam o exemplo daquilo que não se deve ser apontado na história, como aqueles que encheram de cimento e de suas vaidades, um local onde a beleza natural daquelas vidas tombadas por vocês, além de refrescar a memória de tudo que ali se passou, alentavam os olhares da vizinhança e dos passantes cotidianos e esporádicos.

PS. Quem bebe da fonte que jorra na encosta, não sabe do rio, que a montanha guarda. Elena Kolody.