Por Irini Tsouroutsoglou, advogada, CEO da IR Consultoria. Membro da Comissão Especial de Juristas na elaboração do Novo Código Comercial no Senado Federal. Especialista em reestruturação de empresas, consultora em projetos relacionados ao agronegócio e energia renovável
Outubro chegou trazendo um panorama internacional preocupante, lamentável, de muita dor! Ao mesmo tempo que nos deparamos com notícias aterrorizantes, nos perguntamos: quais impactos esses conflitos em Israel trazem para o agro no Brasil?
Os impactos do conflito entre Hamas e Israel para o Brasil podem ser divididos, a princípio, em dois grupos: econômicos e políticos. E, muito provável que esses conflitos possam vir a aumentar os custos agrícolas da safra 2023/2024 no Brasil. Entre os principais motivos, estão o risco de oferta de petróleo, com consequente alta de preço de energia e do gás natural, que acumulou ganhos de 30% já nos 3 primeiros dias de conflito.
Ao olharmos o cenário geopolítico partimos sempre da mesma premissa: o que acontece lá fora tem potencial de impactar a formação de preços de commodities agrícolas, a formação de custos de produção e isso afeta diretamente o agronegócio, porque o agro é um dos setores mais internacionalizados da nossa economia.
Uma das perguntas que mais surge é se há impactos para a formação de preços de insumos? Como que fica esse mercado? E, uma coisa é certa: Israel está entre os principais exportadores globais de fertilizante e isso importa diretamente a nós brasileiros, porque precisamos entender qual é o impacto de uma guerra no fornecimento desse fertilizante num horizonte de curto, médio e longo prazo.
Dos fertilizantes que compramos no Brasil, uma quantidade significativa tem origem em Israel. Existe uma importância clara de Israel no fornecimento desses insumos! E isso pode significar um risco ao Brasil!
Dentre os principais impactos econômicos do conflito, podemos destacar que a alta do preço do petróleo, petróleo que é uma commodity global, em qualquer conflito no Oriente Médio tende a aumentar seu preço. No caso do conflito entre Hamas e Israel, o preço do barril de petróleo Brent chegou a subir para US$ 88,15, o maior valor desde março de 2022. E muitas pessoas ainda se perguntam, o que o nosso agro tema ver com isso?
O aumento do preço do petróleo pode afetar a economia brasileira de várias maneiras, como por exemplo, aumentando os custos de produção. Temos o petróleo como matéria-prima importante para a produção de muitos bens e serviços, como combustíveis, fertilizantes e plásticos. O aumento do preço do petróleo pode levar a um aumento dos custos de produção dessas propriedades, afetando diretamente toda a cadeia produtiva, o que pode ser repassado aos consumidores na forma de preços mais altos.
Isso sem falar que, o aumento dos custos de produção pode levar a um aumento da inflação, afetando o poder de compra dos consumidores, além de afetar negativamente as exportações de commodities agrícolas brasileiras, que são concorrentes dos produtos agrícolas produzidos no Oriente Médio e de diversas outras regiões do mundo.
O conflito entre Hamas e Israel pode gerar instabilidade na região do Oriente Médio e essa instabilidade regional pode também levar a um aumento do preço do seguro de transporte, o que pode encarecer as importações e exportações brasileiras.
Quando passamos a analisar os principais impactos políticos do conflito constatamos que o Brasil tem uma posição histórica de neutralidade no conflito israel-palestina. No entanto, o conflito entre Hamas e Israel pode levar o Brasil a adotar uma posição mais ativa na região, seja para apoiar uma solução pacífica ou para mediar o conflito.
É importante ressaltar que os impactos do conflito ainda estão sendo avaliados, e é possível que novos impactos sejam identificados no futuro.
Isso tudo tem o condão de impactar ainda mais o produtor rural brasileiro que já vinha sofrendo com as oscilações do mercado, com os impactos negativos da guerra entre Ucrânia e Rússia, que já vem sendo afetado pelo encarecimento das commodities e já vinha realizando muitos esforços para lidar com todas essas situações adversas através de muito trabalho envolvendo ações das indústrias, do governo e de entidades setoriais do agronegócio.