Por que a imprensa não deve divulgar suicídios?

A reprodução em massa de casos de suicídio pode causar o conhecido ‘Efeito Werther’

Setembro acabou e com o mês também se encerra a campanha ‘Setembro Amarelo’. O movimento, que embora seja mundial, foi criado no Brasil pela Associação Brasileira de Psiquiatria com o Conselho Federal de Medicina, e surgiu como uma tentativa de sanar o problema global que ceifa mais de 700 mil vidas por ano, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Algumas entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV) defendem que o problema de saúde pública deve ser abordado com extrema responsabilidade por veículos de comunicação a partir das diretrizes do Manual para Profissionais da Mídia, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Manuais de redação de grandes empresas jornalísticas proíbem que seja dada visibilidade à casos de suicídio. Este é um acordo extra-oficial de veículos de imprensa que determina a não divulgação de atos suicidas em noticiários.

Conforme o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros o determinado é que não se divulgue informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos.

Diversos estudos alertam que dar visibilidade para os casos de suicídio podem influenciar outras pessoas a fazer o mesmo. As pesquisas indicam que em algumas situações pode ocorrer o chamado efeito “copycat”, ou seja, de imitação da prática, fazendo com que vários episódios semelhantes ocorram por causa da divulgação.

Um dos casos mais memoráveis da história é o chamado ‘Efeito Werther’ que ocorreu na Europa em meados de 1700 quando o escritor Johann Wolfgang Goethe desenvolveu o enredo ‘Os sofrimentos do Jovem Werther’ história mórbida que segue a vida de um jovem apaixonado por uma mulher que irá se casar com outra pessoa e por isso comete suicídio. A obra que poderia ser apenas mais uma em meio a tantas outras gerou um grande problema, suicídios em massa ocorrendo por todo o continente da exata maneira que o personagem comete na saga.

Um caso mais recente foi a série americana ‘Os 13 porquês’ baseado em um livro, que seguia a história de uma jovem americana que antes de tirar a própria vida deixou 13 fitas cassete onde cada uma era um motivo que pessoas próximas a ela teriam dado para ela cometer o ato. A série foi duramente criticada e acusada de romantizar o suicídio e a automutilação da personagem que foi explicitamente mostrado.

A responsabilidade de qualquer veículo de comunicação durante um momento delicado como este é grande, e não deveria envolver o almejo por cliques ou visualizações e sim o cuidado com a saúde pública de toda a população que o canal envolve.

Caso você conheça alguém que está dando indícios que cometerá suicídio ou se automutilará, ouça a pessoa e a oriente a buscar ajudar psicológica. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza atendimento para pessoas em sofrimento psíquico por meio dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Canais como o 188 do Centro de Valorização da Vida realizam apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.