Volta às aulas: qual o sentido de ir para a escola?

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O ato de frequentar escolas nos remete aos movimentos da sociedade moderna, em que era preciso disciplinar as massas para o trabalho fabril com rotina e disciplina, e ao mesmo tempo, dar acesso à educação, especificadamente às crianças. Em uma época em que o acesso ao conhecimento produzido pela humanidade era ainda guardado a sete chaves em bibliotecas inacessíveis e apenas, os filhos de classes abastadas tinham acesso à professores particulares.

Antes da invenção da impressa (séc. XV), os livros só podiam ser reproduzidos se copiados palavra por palavra por profissionais conhecidos como copistas. O acesso às pesquisas, na Europa, era restrito apenas a poucos escolhidos, nos mosteiros, enquanto a população em geral, servos da gleba, raramente sabiam ler ou escrever. Na África e no Oriente Médio, os livros e as escolas circulavam com o comércio transaariano; no reino de Songai, por exemplo, Tombuctu foi um grande centro de estudos com carca de 180 escolas desde ensino infantil até universitário. E a tradição do conhecimento oral ou escrito das demais sociedades africanas, asiáticas ou americanas, construíam conhecimentos sobre o mundo e os deixavam para as próximas gerações, muitos ainda não decifrados por nós.

Por incrível que pareça, na antiguidade greco-romana da qual deriva o termo escola, scholé, ele significava lazer e tempo livre. O ato de se reunir em grupos para questionar, pesquisar e registrar os conhecimentos chegados era feito em sociedades secretas com um teor místico. Assim surgem as primeiras escolas filosóficas que vão alimentar o perfil das escolas no Renascimento, no período moderno. Na contemporaneidade, que tem a Revolução Francesa (1789) como marco possível, a luta pela democratização da educação possibilitou que as escolas e os livros didáticos fossem gratuitos, que as meninas e mulheres pudesses frequentar, que o ensino fosse obrigatório dos 4 aos 17 anos, a fim de evitar a exploração do trabalho infantil.

Voltar às aulas, contudo, carrega o significado de uma luta de séculos de acesso gratuito ao conhecimento sistematizado pela humanidade, a fim de que possamos exercer o direito a educação: ter o tempo, formas e espaços necessários para promover nossas habilidades em linguagens, ciências humanas e sociais, da natureza e matemáticas.