CONCLUSÃO DE BOM-SENSO

Nas horas em que o Codificador do Espiritismo, Allan Kardec, desenvolvia os primeiros lavores junto aos desencarnados que se apresentavam nos célebres encontros mediúnicos da época, com as jovens Baudin, com os Plainemaison, com Rute Japhet e outros medianeiros daquelas primeiras horas, teve ensejo de observar, com profundidade, o procedimento, as falhas, os raciocínios de incontáveis comunicantes, compondo o seu dossiê a respeito do que captava dessa insólita convivência com o mundo invisível.

De suas conclusões, Kardec declara que os desencarnados não eram mais sábios do que quando estiveram encarnados. Mostravam-se, em geral, com os mesmos limites intelecto-morais, forçando-o a ter os devidos cuidados com esse relacionamento, a fim de que não adviessem prejuízos para a instrução argumental da Doutrina, em processo de estruturação.

Para os espiritistas, o enunciado do Codificador traz no seu bojo a chamada de atenção para o exercício do bom-senso, grandemente desusado, pouco desenvolvido, pouquíssimo valorizado neste momento ciclópico do mundo.

Entretanto, por demais comum é o encontrar-se os indivíduos vendados para as realidades da existência, deixando-se levar por incontáveis vozes do Além, admitindo que, pelo fato de serem expressões do ultratumba, serão, forçosamente, superiores e indiscutíveis.

Criou-se, em oposição ao pensamento lúcido de Allan Kardec, um sistema capaz de considerar infalível tudo quanto proceda do mundo dos mortos, o que se torna profundamente perigoso, por desguarnecer as pessoas do uso da razão crítica.

Verdadeiras multidões de inadvertidos fazem-se piegas ou fanáticas, acatando cegamente, sem nenhuma reflexão, os ensinos, as teses e as informações de desencarnados, que se arvoram como amigos espirituais, mentores ou guias, sem qualquer exame acurado, sem qualquer análise, deixando-se embair, marchando engodadas, instrumentos passivos e irrefletidos de tais entidades.

Não se trata de adotar um sistema de descrença pala descrença.

Trata-se, isto sim, de conciliar as almas a adotar as referências de João, o Evangelista, ao exprimir-se em sua primeira epístola propondo que não se cresse em todos os Espíritos, mas que, antes, se verificasse se os Espíritos vinham da parte de Deus.

O próprio Jesus Cristo teve ocasião de propor o cuidado com os falsos profetas, por enganadores que se fazem ele, enquanto o Codificador chama a atenção para o cuidado que se deve ter com os falsos profetas do mundo invisível, pelas mesmas razões.

O que percebemos digno de lastimar-se, no pujante movimento do Espiritismo no mundo, dificultando-lhe o avanço e a limpidez de seus ensinos e das suas práticas, é o pouco gosto de se desenvolver como pessoa de enorme número de irmãos que têm verdadeiro horror ao conhecimento libertador, e que preferem as revelações, as consultas inacabáveis e repetitivas, os petitórios inconcebíveis, a comodidade, enfim…

Considerando a lógica da observação e da conclusão Kardequianas, seria excelente que os espiritistas dos dois hemisférios da Vida, pudéssemos unir-nos em torno dessa gritante necessidade de melhor conhecer as teses da nossa veneranda Doutrina, a fim de servirmos melhor, rechaçando os arremedos que persistem envolvendo parvos e estultos, tenham diplomas ou não, em vastos magotes pelas estradas do mundo. É tempo de trabalharmos na área do desenvolvimento do senso moral, da maturidade, dentro da proposta da Codificação…

 

Do Livro: NOSSAS RIQUEZAS MAIORES. Camilo (Espírito), psicografia de José Raul Teixeira. Fráter Livros Espíritas. Niteroi – Rio de Janeiro – RJ 2013. 2ª Ed.

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