O amor de verdade

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O cachorro estava com câncer terminal. Sofria muito. O veterinário falou em sacrificá-lo. Aqui, amigo leitor, abro parêntesis para considerar a questão da eutanásia, a chamada morte branda, com o que se pretende evitar a cacotanásia, a morte em meio a grandes padecimentos.

Todas as religiões, incluindo o Espiritismo, lhe são frontalmente contrárias. A razão é elementar: se a vida procede de Deus, somente o Criador tem o direito de eliminá-la.

Seguindo essa linha de raciocínio, por que, em se tratando de um animal, deveríamos outorgar aos donos o direito de decidir quando deve deixar de viver?

Fala-se em misericórdia. Coitado! Sofre tanto! Argumento infundado! Evocando-o, poderemos pelo mesmo motivo, abreviar os sofrimentos de um familiar, paciente terminal.

Outra alegação: o moribundo com dores atrozes cumpre um carma. Cachorro não tem dívidas a pagar. Não precisa sofrer para morrer…

Mas quem pode dizer que não há razão para os sofrimentos do animal? Será que Deus errou? A Doutrina Espírita ensina que as dores que enfrenta o princípio espiritual que anima um ser inferior da criação aceleram o desenvolvimento de suas potencialidades, ajudando-o a desenvolver a complexidade que lhe permitirá transformar-se em ser pensante.

Seria a dor da evolução. Deus não faz nada por mero diletantismo. Tudo tem uma razão de ser. Fecho parêntesis.

Sugestão aceita, a família observou o veterinário aplicar o anestésico fulminante no animal. Depois conversavam, questionando a brevidade da existência dos cães, que bem poderiam viver mais tempo.

O filho, uma criança de quatro anos, que tudo ouvia, disse:

− Eu sei por que os cachorros vivem pouco…

Para surpresa de todos explicou:

− Mamãe diz que pessoas nascem para aprender a ser boas, a amar todo mundo. Não é isso mesmo?

− Sim meu filho.

E o menino:

− Os cães já nascem sabendo fazer isso, portanto não precisam viver tanto tempo…

Sábio menino! Faz-me lembrar a diferença entre o cão e o homem. Se você fechar, por horas, um cachorro no porta-malas de um carro, ao libertá-lo ele lhe fará festas, amigavelmente.

Se fizer o mesmo com um homem, terá um inimigo feroz. Se tivermos de definir o que estamos fazendo na Terra, qual o objetivo primordial da existência humana, responderíamos, como o menino, que estamos aqui para aprender a exercitar aquela que é a lei maior do Universo – o Amor.

Isso não é novidade. Desde as culturas mais remotas temos sido instruídos nesse sentido. E Jesus, o orientador maior que a Humanidade já recebeu, enfatizou, quando lhe perguntaram qual o mandamento maior da lei mosaica (Mateus, 22:38-40): Amarás o senhor teu Deus de toda tua alma, de todo teu coração, de todo teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo. Esses dois mandamentos resumem a lei e os profetas.

Importante considerar que antes de amar o semelhante é preciso aprender a respeitá-lo em seus direitos e necessidades.

Foi exatamente isso que nos ensinou Moisés, com a Tábua dos Dez Mandamentos, onde está registrado o que não devemos fazer, como: não matar, não roubar, não trair, não mentir, não cobiçar…

Considerar que nossos direitos terminam onde começam os direitos do próximo. Diríamos que não fazer ao próximo o que não queremos para nós, na senda da Justiça é o primeiro passo para que aprendamos a fazer ao próximo o que queremos para nós, no caminho do Amor.

Livro: Amor Sempre Amor. Richard Simonetti. CEAC Editora. 1ª ed. Bauru. SP. 2010.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. CEAC Guaraniaçu – PR. manoelataides@gmail.com