E essa tal felicidade compulsória?

Olá caros leitores, quando estou no início de um tratamento ou com um novo paciente faz parte de minha anamnese questioná-lo sobre sua motivação para buscar o tratamento, quase em sua totalidade as respostas surgem com o desejo pela felicidade, confesso que tenho aprendido vários significados desse substantivo feminino. Para alguns ela é uma nova casa, para outros sucesso profissional e beleza, outros ainda dão a ela nomes próprios, delegam a tal felicidade nas mãos do parceiro dizendo que se não forem felizes com “aquele” não serão com mais ninguém.

Ao longo de minha trajetória de escuta o que me surpreende é que nenhum destes pacientes cogita a possibilidade de ser infeliz, ou ainda de que felicidade não é um estado absoluto, que não dura para sempre. Quando falo que a felicidade não é condição para existência e sim uma emoção passageira, na maioria das vezes é visível   um desapontamento, as pessoas interpretam a ausência de felicidade como fracasso ou fraqueza. Por isso o título deste texto.Reduzir a experiência de viver a um proposito pequeno como a felicidade a meu ver pode até ser um pouco egoísta e limitado. A experiência de viver é tão cheia de desafios, provocações, altos e baixos, muitas perdas e sofrimento, mais é justamente essa tensão que faz a vida valer a pena, é o que nos torna melhores, aprendizes, passivei de superação. Se abrirmos mão de tudo isso visando essa tal “felicidade constante” não estaríamos passando pela vida de modo simplista e egoísta?

Compreendo também (e principalmente quando utilizo minhas redes sociais) que muitas pessoas afirmam que a finalidade de sua vida é ser feliz e buscam impetuosamente o que entendem ser a felicidade e o exibem nas mais variadas formas. Pergunto a você: O mundo perfeito que assistimos pelos smartphones correspondem à realidade?

Muitas pessoas ao serem ouvidas e acolhidas em momentos de intensa angustia e desespero, na iminência de atitudes também desesperadas, conseguem acalmar seus temores e sentimentos ao perceber a vida sob outros aspectos. Em um tempo que todos reclamam da falta de tempo, as críticas e julgamentos estão muito presente nas relações, ser ouvido por alguém pode fazer toda a diferença. A única certeza que temos ao nascer é nossa finitude, entender a vida como imprevisível, cheia de felicidade mais também de tristezas faz com que passemos por ela de maneira significativa, uma escuta certa em horas incertas, pode fazer a diferença em momentos considerados “sem saída”. Aliviar o sofrimento de alguém começa pela postura de não julgamento.

Para finalizar gosto de lembrar que a borboleta passa um bom tempo presa no casulo, escuro e bem desconfortável, até que completa o ciclo e desenvolve as asas coloridas e segue o seu voo colorido e encantador. Como elas também passamos por momentos de recolhimento, desconforto e tristeza que fazem parte de nossa caminhada e tornarão nossas conquistas mais significativas. Neste mês de combate e prevenção ao suicídio utilizo esse espaço e essas palavras pra afirmar que Eu acredito que toda história de vida é importante, não precisa sofrer sozinho, busque ajuda.

Até a próxima semana te espero na terapia.

@neziapsicologa.