As vestes da Verdade
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A pintura A Verdade saindo do poço é um quadro idealizado pelo escultor e pintor francês Jean-Léon Gérôme. Está ligada a uma parábola do Século 19, que narra o encontro da Verdade com a Mentira, durante um passeio.
A Mentira elogiou o dia, o sol brilhante, sem nuvens. A Verdade concordou, salientando a beleza dos pássaros que as rodeavam, com suas plumagens variadas.
Porque o dia estivesse muito quente, a Mentira sugeriu que se refrescassem nas águas convidativas de um lago. Ambas se despiram, deixando suas roupas à margem e mergulharam. Porém, logo que a Verdade se distraiu, a Mentira saiu da água às pressas, vestiu a roupa da Verdade, desaparecendo a correr.
Percebendo que tinha sido enganada e que estava sem suas roupas, a Verdade saiu do lago. No entanto, se negou a vestir as roupas da Mentira. Decidiu que não tinha do que se envergonhar, e que, mesmo sem roupa alguma, caminharia até sua casa.
Todos os que a viram, andando despida, sequer indagaram o que poderia ter acontecido, ou porque ela se apresentava assim. Houve somente críticas para a sua atitude.
Percebeu, então, que as pessoas tinham mais facilidade em aceitar uma Mentira fantasiada de Verdade, do que ela mesma, sem nenhuma vestimenta.
Essa situação se reprisa, em nossos dias, repetidas vezes. A Mentira disfarçada atrai mais pessoas e ilude aos desavisados, que a aceitam, sem nada questionar. A sua aceitação tão rápida se deve ao fato de que, de um modo geral, damos mais importância às aparências, que nos parecem, quase sempre, muito atraentes e sedutoras. É assim que se acrescentam itens inexistentes a fatos, que se ilustram notícias, aumentando-lhes os detalhes. Tudo para parecer mais interessante.
Importante nos indagarmos como nos comportamos, nesse mundo em que abundam as mentiras fantasiadas de verdade. Quantos de nós, desejosos de sermos os primeiros a dar a notícia retumbante, simplesmente repassamos a terceiros o que ouvimos, lemos, ou recebemos em nossos grupos de WhatsApp.
No entanto, abraçando a verdade, consideremos que ela é como o alimento, que deve ser ingerido, sem exagero, a fim de não provocar problemas. Ou como a água, que mata a sede, mas deve ser bebida na quantidade exata, devagar.
Por isso, a verdade não deve ser aplicada com dureza, como se fosse uma arma para destruir os outros. É necessário tato para mostrá-la. Há muitas formas de ser apresentada, sem que maltrate os outros ou fira sentimentos, sem necessidade.
Não é tanto o que se diz, que oferece resultados positivos ou desagradáveis, mas a forma como se diz. A verdade jamais deve ser adulterada. Também não deve ser lançada como uma bomba, destruindo corações frágeis. Dosagem certa, no momento exato.
Importante nos perguntarmos: A verdade que sabemos é realmente verdade? Se é, a quem trará benefícios a sua divulgação? Essa medida nos dirá, exatamente, o que devemos ou não divulgar, como e quando fazê-lo.
Pensemos nisso.