Não digas que a vida é triste

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Será que não nos falta um pouco mais de poesia na vida?

Falamos não apenas dessa linguagem bela dos poemas, dos versos rítmicos e das rimas aqui ou ali. Referimo-nos a essa forma inspirada e sensível de enxergar o mundo, a vida, as coisas em geral.

Não digas, coração, que a vida é triste,

porque a vida é grandeza permanente

e a natureza, em tudo, é um cântico de glória,

desde o sol até a semente.

Mágoas? Dizes que as mágoas lembram trevas,

que nem de longe sabes entendê-las…

contempla o céu noturno, revelando

avalanches de estrelas.

Asseveras que os sonhos são feridas,

quais picadas de espinhos agressores…

fita o verde das árvores podadas,

recobertas de flores.

Nos dias de aflição, ante a força das provas,

recorda, na amargura que te oprime,

que a ostra faz nascer, do próprio seio em chaga,

a pérola sublime.

Assim também, nas trilhas da existência,

se choras sem apoio e caminhas sem paz,

não te queixes do mundo… serve, ama,

espera e vencerás!

A vida… toda vida é luz eterna!

Escalando amplidões e buscando apogeus…

e a presença da dor, em qualquer parte,

é uma bênção de Deus.

Não se trata também de visão ingênua ou distorcida, que deseja fugir de uma realidade dura. Trata-se, justamente, de uma lente que nos ajude a entender melhor os mecanismos, as leis, o funcionamento do Universo, tudo que nos rodeia.

A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir – recita um poeta amigo.

No entanto, o mesmo olhar que enxerga os alfinetes percebe que as bênçãos são muito mais numerosas do que as dores. Os dias de sol, de vento brando não são mais numerosos do que aqueles de cinza e frio?

A poesia na vida nos ensina a equilibrar a medida, a ponderar os lados, a não nos permitir cair nas armadilhas poderosas e frequentes do pessimismo destruidor.

A inspirada poetisa brasileira, Cecília Meireles, falando das pequenas felicidades certas, dizia: Uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

O convite de aprender a olhar está posto. Um aprendizado necessário, indispensável, podemos dizer, numa vida de muitas lutas e tantos momentos de tristeza.

A lente da poesia é tão grandiosa que nos permite inclusive viver a tristeza sem medo, e vislumbrar beleza até mesmo na melancolia – este movimento de recolhimento da alma que lhe é sempre aprendizado valioso.

A poesia nos convida a pousar na dor, mas não fazer morada nela. Convida-nos a renascer e a nos renovarmos com a natureza, que exulta à nossa volta, num apelo constante a seguir adiante.

A poesia nos convida a admirar o sol e a chuva com o mesmo encanto. O frio e o calor como sendo necessários. A noite e o dia como irmãos e não adversários.

A vida… Toda a vida é uma luz esplendorosa. Por isso, nunca digas, coração, que a vida é triste.