Há algumas semanas publiquei neste espaço o artigo o pior dos mundos afirmando ser um (improvável) confronto entre Alckmin (PSDB) x Bolsonaro (PSL). Reitero que há muito tempo sou opositor ferrenho ao que o PSDB representa na política brasileira. Porém, as leituras e o tempo de reflexão me esclareceram sobre o que faria neste embate que não se realizou. No Rio, ferrenhos opositores de Eduardo Paes (DEM) estão declarando voto nele, pois consideram Wilson Witzel (PSC) ainda pior. Eu, mesmo que a contragosto, votaria em Alckmin para evitar que um político fascista e tudo o que ele representa suba a rampa do Palácio do Planalto. Logicamente faria isso por não haver alternativa, com Alckmin perderíamos os anéis (aprofundamento do neoliberalismo, desmonte de direitos trabalhistas, reforma previdenciária, privatizações entreguistas, corte de gastos sociais, aumento da desigualdade social, etc.), mas, manteríamos os dedos (a democracia). Com Bolsonaro perderíamos os anéis e também os dedos, basta verificar todas as suas falas fascistas que evidenciam o seu pensamento, que infelizmente seduz milhões de seguidores que se vêm nele representados.
Apesar das orientações de que era necessário dialogar com os bolsonaristas, esclarecer o perigo que Bolsonaro representa para a nação, excluí mais de duzentos seguidores de Bolsonaro da minha rede de amigos virtuais do Facebook. Porém, nem isso me livra da decepção que com eles tive, pois, não se trata de mera divergência ideológica, mas, moral. Na Alemanha, berço do nazismo, há um adágio que explica o que penso: se em uma mesa estão sentadas dez pessoas, e nela um nazista vem se sentar. Se as dez pessoas não se retirarem, na mesa estarão onze nazistas. Sei que nada demove os bolsonaristas de sua intenção, o fascismo está em seu DNA. De igual forma, na Alemanha pré-nazista, nada foi capaz de mudar a opinião dos judeus que pretendiam votar em Hitler, apesar dos esforços dos judeus opositores do líder nazista em esclarecer o perigo que ele representava para o povo judeu. Sempre disse que sou avesso a qualquer tipo de ditadura seja de direita ou de esquerda e defendo sempre a democracia, que pode não ser perfeita, mas ainda é o que há de melhor.
A história demonstra que temos uma tradição autocrática, a democracia ocorre nos intervalos de períodos autoritários. Esse apego de grande parcela do povo brasileiro aos regimes autoritários tem sua raiz no sistema escravagista, que em nosso país persistiu por tanto tempo que fez dele o último a extinguí-lo. Li que na época da escravidão, havia uma parcela de trabalhadores livres (imigrantes europeus) que eram contrários à libertação dos escravos. Sentiam-se superiores, pois, embora miseráveis, não eram escravos. Da mesma forma, há na atualidade, trabalhadores que se dizem de classe média (equívoco conceitual) que são opositores de qualquer programa que vise melhorar a situação da parcela miserável da sociedade. Gostam de se sentir especiais devido às qualidades pseudo meritocráticas que atribuem a si próprios.
O único lado positivo do Golpe de Estado de 2016 e de tudo que se seguiu a ele foi o fato de desnudar a sociedade brasileira evidenciando perante o mundo que se Deus é brasileiro, não é muito popular nestas bandas. Aqui há grande possibilidade de um político que já afirmou ser defensor da tortura e da morte se eleger com o apoio de religiosos cristãos que esquecem que Cristo foi torturado e morto. Estes religiosos apóiam a política do bandido bom é bandido morto tal como os religiosos que pediram a morte de Cristo. Enfim, o Brasil demonstra não ser um pais sério como diz a célebre frase. A eleição está sendo e poderá ser decidida por fake news em grupos de Whatsapp. Será por vontade do povo se Bolsonaro for eleito, mas, não sem importantíssima contribuição da Mídia, do Poder Legislativo e Judiciário que chocaram o ovo da serpente desde 2013 (guerra híbrida). Resta pedir ao eleitor indeciso que reflita sobre qual Brasil quer para si, seus filhos e netos, pois, a arma (Bolsonaro) que muitos desejam ver liberada pode se voltar contra você e sua descendência! A democracia pode não ser perfeita, mas, ainda não se criou nada melhor! A democracia acima de tudo!
P.S. A frase o Brasil acima de tudo denota a origem, pois, na Alemanha Nazista se utilizava a expressão: Deutschland über alles, ou seja, A Alemanha acima de tudo!