Li um artigo em que o jornalista criticava a Senadora Gleisi Hoffmann (PT) afirmando que ela delirava ao atribuir o sucesso das Olimpíadas a Lula e a sua sucessora Dilma, cujo governo desempenhou importante papel nas ações de planejamento e suporte necessárias à realização do evento. Caso as Olimpíadas fossem um fracasso certamente culpariam Lula e Dilma, porém, exitosa, excluem ambos dos méritos.
Penso que algumas pessoas têm um ódio tão profundo à classe trabalhadora e aos partidos que a representam que acabam por abandonar o equilíbrio, a sensatez e a honestidade. Negar o reconhecimento à Lula do importante papel que exerceu na indicação e escolha do Rio para a sede das Olimpíadas, mesmo com a imensa repercussão midiática à época, sendo que o próprio presidente Lula fez parte do vídeo enviado ao Comitê Olímpico Internacional discursando sobre os motivos pelos quais o Rio deveria ser escolhido não constitui ato de desinformação e sim de má-fé.
No entanto, é possível entender a lógica de tal ação, visto que vivemos tempos pós-democráticos, e os inimigos da democracia procuram apagar todo vestígio de ações levadas a cabo por seus adversários políticos, especialmente, aquelas que abonam no todo, ou em parte, a boa governança destes. Assim, agiam alguns faraós no Egito Antigo, que movidos por divergências políticas e mesmo por inveja, apagavam dos monumentos públicos, as referências aos antecessores que defenestravam, alterando dessa forma a história oficial, condenando importantes figuras políticas daquele país ao limbo do esquecimento.
É dessa forma que vejo a ação de jornalistas e de importantes meios de comunicação, especialmente, a Rede Globo que ao relembrar a conquista do Rio para ser a sede das Olimpíadas de 2016 teve o cuidado de não mostrar Lula nas imagens, ao contrário do que fez à época da escolha, quando exibiu Lula e Pelé abraçados com Nuzman (COB) comemorando a conquista e entrevistando-os. O motivo da exclusão de Lula, bem ao estilo dos faraós do Egito é próprio do modus operandi do Grupo Globo que constitui um império, e, segundo Paulo Henrique Amorim, seus proprietários, são desprovidos de brilho pessoal, inversamente ao pai e fundador do Grupo Globo, o jornalista Roberto Marinho, que também protagonizou ações incompatíveis com o espírito democrático ao se aliar à ditadura militar e ao utilizar a sua poderosa emissora para manipular a opinião pública em benefício dos candidatos que apoiava quase sempre visando interesses particulares.
Não faltam artigos e livros mostrando o caráter perverso das organizações Globo para a democracia e a soberania nacional, pois, os ideais defendidos por tal império midiático costumam ser em benefício de grupos econômicos nacionais e estrangeiros e contrários aos interesses genuinamente nacionais e do povo brasileiro. A TV Globo, tal como o Oráculo de Delfos da mitologia grega, acredita proferir por meio das imagens e das falas de seus jornalistas e comentaristas a verdade universal, a única verdade possível. A voz da TV Globo é a voz de Deus e não pode ser contestada sob pena de heresia. Penso que as pessoas que acreditam no jornalismo da TV Globo teem uma fé inabalável, pois, é preciso muita fé e pouquíssima racionalidade.
Ao excluir Lula e Dilma dos méritos a mídia golpista visa não solapar o golpe à democracia parcialmente arquitetado e operado nas salas de seus executivos, pois, não lhes convém elogiar adversários. O golpe à democracia tem como objetivo fazer o parto por meio de fórceps de um projeto político que jamais passaria pelo crivo das urnas, afinal, menos educação, menos saúde pública, redução da soberania nacional, extinção de direitos trabalhistas e entrega do Pré-Sal e da Petrobrás à iniciativa privada, especialmente estrangeira, não tem apelo popular. Porém, se nossas elites teem uma mente colonizada e não se sentem confortáveis com o país conduzido de forma soberana e o preferem sob a tutela das nações imperialistas, principalmente dos EUA, o povo brasileiro, por sua vez, possui uma apatia considerada incompreensível para os jornalistas estrangeiros que cobrem o golpe de Estado aqui desferido em pleno século XXI e que rebaixa o Brasil ao status de República das Bananas.
O país ainda vive o espírito da Casa Grande e da Senzala, nossas elites ainda não conseguiram assimilar a Lei Áurea e envidam esforços para acabar com tantos direitos trabalhistas quanto possível, e o povo inerte, alienado pelas novelas e o jornalismo manipulado da TV Globo não reage. O Brasil somente vai ser um país soberano, e, portanto, com um projeto nacional, quando a Senzala (classe trabalhadora) perceber que os Senhores da Casa Grande (elite econômica) jamais lhe chamará para o banquete e passar a agir em consonância com seus reais interesses de classe, então, neste dia utópico (de difícil realização, mas, de imprescindível porvir), serão senhores de seus destinos!