Do que vivem os homens?

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Costumo dizer que não tenho compromisso com o erro, dessa forma estou sempre disposto a mudar de posicionamento, caso eu obtenha novos conhecimentos teóricos ou experimentais que assim me convençam.

Prova disso são essas linhas que parecem distantes, mas, são de um artigo deste ano: ‘[…] Não tenho a predileção pela leitura de contos, menos ainda de resenhá-los neste espaço. Gosto de obras com maior número de páginas para nelas fazer uma imersão’.

Tendo reservado parte de meu tempo para um novo curso de pós-graduação, optei por leituras mais leves e menos extensas, deixando de lado os calhamaços (livros com mais de quinhentas páginas).

Resolvi dar oportunidade aos livros de contos, que são leituras rápidas, tendo como objetivo o relaxamento, a descontração.

E eis que peguei o gosto pela leitura de contos, talvez tenha ajudado o fato de ter me debruçado sobre as produções literárias do russo Liev Tolstoi (1828-1910). Tentei também as HQ’s (histórias em quadrinhos), mas não funcionou.

Tenho o hábito de utilizar camisetas estampadas com frases literárias ou críticas de autores e obras. Uma delas dizia o seguinte: “Era tão pobre, mas tão pobre, que só tinha dinheiro”. Alguns estudantes me perguntaram: “como uma pessoa pode ser pobre, se tem dinheiro?”

Expliquei que uma pessoa pode ter dinheiro, mas, pode ser pobre de cultura, de educação, de honestidade, de solidariedade, de fraternidade, etc.

Certa vez entabulei uma conversa com um empresário da capital do estado (Paraná), disse a ele que não tinha uma piscina em minha casa, mas, que tinha uma biblioteca (o que, em meu ver, é algo muito mais importante) e que nunca tive e não tenho ambição por dinheiro, basta-me ganhar o suficiente para ter algum conforto material, mas, não propriamente esbanjar ou viver luxuosamente.

O empresário disse que eu era pobre até nos pensamentos e passou a falar sobre a piscina que tinha em sua casa e, também sobre as viagens que o dinheiro lhe proporcionava.

Penso que a frase da camiseta é acertada, a pobreza não é apenas a resultante da falta de recursos financeiros, da mesma forma, a riqueza não se encontra apenas na acumulação do vil metal. Lembro que uma vez conversei com uma ex-empresária de minha cidade, a qual largou os negócios e passou a viver melhor após ter se conscientizado que caixão não tem gaveta (para levar dinheiro).

Com tais palavras, não digo que ter dinheiro é desimportante, mas, que viver para acumulá-lo (sem viver) é escravidão e, escravos costumam ser pobres, de uma forma ou de outra. Mas, como diria Odorico Paraguaçu de “O Bem Amado” da obra de Dias Gomes (1922-1999), “Vamos botar de lado os entretantos e partir logo pros finalmentes”.

No conto “Do que vivem os homens?” de Liev Tolstói, o humilde sapateiro Simon, sai para fazer cobranças referentes a trabalhos prestados em seu estabelecimento e obviamente não quitados. Antes de sair, ele pega o pouco dinheiro que possui em casa, com a intenção de juntá-lo ao que arrecadar com as cobranças e, comprar peles para que sua esposa faça casacos, com os quais possam suportar melhor o duro inverno russo.

Simon, não tem tido dias fáceis, com seu trabalho, tem conseguido apenas o suficiente para comprar alimentos. As roupas de frio dele e de sua esposa estão em estado deplorável. Ela vive reclamando da falta de dinheiro para fazer frente a outras necessidades.

Ocorre que os devedores também estão passando por dificuldades financeiras e, Simon não consegue juntar o valor necessário. Aborrecido e humilhado pela situação de pobreza, sem coragem de voltar para a casa e dar a má notícia para a esposa. Antevendo as reclamações desta, ele entra num bar e se embriaga e, ao sair observa que volta para casa com menos dinheiro do que quando saiu.

No caminho, já na madrugada, encontra um homem (quase congelado) deitado no chão e praticamente sem roupas, imediatamente, passa para ele seu casaco puído e o leva para casa, não sem imaginar as broncas da esposa, quanto ao fato de levar um estranho para dar hospedagem e alimentação num lar onde o alimento que há é pouco até para os que nele habitam. Paro aqui, para não dar spoiler! Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: Do que vivem os homens?

Autor: Liev Tolstói.

Editora: E-Book Kindle, 2020, 33 pág.