Neste momento em que escrevo estas linhas, me assalta a mente o pensamento de que deveria ter escrito sobre esta obra há mais tempo. Quisera não estar escrevendo acerca da mesma pelas circunstâncias que o destino implacável sempre acaba por impor. Laranjeiras do Sul e região perderam uma pessoa que valorizava a cultura popular e a história regional como poucos, e que inconformado ao ver as sombras que pairavam sobre os momentos fundantes de nossa região, ou nas palavras do saudoso e inesquecível João Olivir Camargo, as raízes da nossa terra resolveu desenterrar a nossa história pesquisando os poucos documentos restantes e, ouvindo testemunhas oculares dos fatos aqui ocorridos. Sou um feliz proprietário de um exemplar de seu livro Nerje: Laranjeiras do Sul publicado em 1999. A obra não teve reimpressão, o que causa o lamento de pessoas que conheço que afirmaram querer um exemplar. Sob outras circunstâncias que não as ditadas pelo destino, antes de escrever sobre sua obra, faria a releitura, tendo em vista tê-la lido há muito tempo.
João Olivir Camargo foi radialista, colunista e historiador. Mantinha no Jornal Correio do Povo do Paraná a coluna intitulada O Ponto do Conto em que relembrava fatos pitorescos ocorridos na região envolvendo personagens que marcaram tempos passados de nossa terrinha. Tratava-se de uma leitura descontraída tão necessária em tempos angustiantes como os que vivemos, pois, resgatava e valorizava a cultura popular. Como radialista, João Olivir iniciou sua carreira na Rádio Educadora na década de 1960. Como historiador, sempre que convidado, se dispunha a dar palestras aos estudantes sobre a história de Laranjeiras do Sul e região. Mesmo que seu livro, cuja abordagem metodológica, seja alvo de críticas por alguns historiadores, ainda assim, trata-se de obra pioneira, e que cumpriu seu papel de lançar luzes ao passado histórico da região, cujo desconhecimento era marcante por parte da população residente.
Em seu livro, João Olivir, inicia discorrendo sobre o Tratado de Tordesilhas, o qual colocava estas terras como pertencentes à Coroa Espanhola e acerca da passagem de padres jesuítas que mantiveram os primeiros contatos com os indígenas locais. Trata das bandeiras preadoras que tinham como objetivo a captura de indígenas para a escravatura. Também relata que esta região era terra de degredo, pois, após o rio Boca da Mata, atual rio Cavernoso, iniciava a selva. Guarapuava constituía o último núcleo de civilização. José Nogueira do Amaral, o pioneiro de Laranjeiras do Sul, morador de São Paulo (o Paraná era parte da Província de São Paulo), atocaiado por dois vizinhos de propriedade por motivos de divisas de terras, deu cabo dos dois e foi condenado à morte pela forca, mas teve sua pena comutada para degredo perpétuo, vindo a ser abandonado nestas terras com a condição de não mais voltar à civilização. Como degredado, inicialmente procurou evitar contato com os indígenas bravios que havia na região, mas, o tempo provou isso não ser possível, porém, como alguns índios sabiam falar português devido ao contato com religiosos que percorreram a região, explicou-lhes ter sido expulso pelos brancos e, com o tempo ganhou a simpatia dos indígenas. Algum tempo depois, sua família veio residir na região, embora consentida, a vinda de sua família a região causou certa animosidade aos habitantes nativos. Com o tempo vieram outras famílias e os choques com os índios se tornaram comuns. O livro discorre sobre as famílias pioneiras, as atividades comerciais e militares na região. Também faz o registro do tempo em que sob o nome de Iguassú, Laranjeiras do Sul foi a capital do Território Federal de mesmo nome. A obra após relatar a gigantesca área inicialmente formada pelo município de Laranjeiras do Sul, explica a formação dos novos municípios dele desmembrados. O livro traz também imprescindíveis imagens de época.
Em nome de todos (as) que valorizam a cultura e a história de nossa região, ao João Olivir Camargo, prestamos a nossa homenagem e gratidão!
Sugestão de boa leitura:
Título: Nerje: Laranjeiras do Sul
Autor: João Olivir Camargo.
Editora: Gráfica e Editora Vicentina Ltda, Curitiba, 1999, 228 p.
Preço: R$59,90 – R$ 69,90 (capa comum)
*Somente dois exemplares (usados) estão disponíveis no site da Estante Virtual – garanta o seu!