O sedutor do Sertão ou o grande golpe da mulher e da malvada

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Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) foi um escritor, dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, artista plástico, professor universitário, advogado e palestrante brasileiro. Ariano é conhecido principalmente por sua obra-prima “O Auto da Compadecida” que se constituiu em grande sucesso no cinema e na TV. Sua obra aborda o folclore nordestino acerca de fatos históricos daquela região e do país. O coroamento da obra de Suassuna se deu com sua eleição para a Academia Brasileira de Letras em 1989, para a Academia Pernambucana de Letras (1993) e Academia Paraibana de Letras (2000). O livro aqui resenhado é o primeiro contato deste escriba com a obra impressa do escritor paraibano por nascimento e pernambucano por opção, do qual apenas tinha assistido o filme sobre “O Auto da Compadecida”, o qual contava com as inesquecíveis personagens de João Grilo e Chicó “trazidos à luz” respectivamente por Matheus Nachtergaele e por Selton Mello. Também havia assistido entrevistas de Ariano Suassuna, as quais traziam o seu humor impagável, dentre as quais uma dada ao saudoso apresentador Jô Soares no talk show por ele apresentado. Nesta ocasião ele levou a plateia e o apresentador às lágrimas ao tecer comentários sobre seu pavor em voar ante as recomendações agourentas acerca dos procedimentos a serem tomados quanto a possibilidade de um desastre aéreo.

A obra “O sedutor do Sertão” foi escrita em menos de trinta dias e tinha como objetivo virar filme, plano que foi frustrado e, por isso foi engavetada e publicada somente em 2020, ou seja, seis anos após a morte do autor. A obra de Ariano Suassuna além do característico bom humor tem sempre um tom de crítica social. O período ambientado na trama é o início da década de 1930, a qual foi marcada por vários movimentos revolucionários no país e, em especial, na Paraíba, ocasião em que lideranças do município de Princesa Isabel quiseram fazer dele um novo estado, independente portanto, da Paraíba. O líder de tal movimento era o Coronel José Pereira que, apesar de fazer parte do mesmo partido político do presidente (governador) João Pessoa era inimigo deste. O pai de Ariano Suassuna (João Suassuna), antecedeu João Pessoa no governo da Paraíba e ao se retirar do cargo, voltou a morar em sua fazenda em Taperoá (sertão da Paraíba). João Suassuna que continuou na política, porém como deputado federal, foi acusado injustamente da morte de João Pessoa. Seu pai foi absolvido no tribunal, porém, foi assassinado logo em seguida. Há rumores (nunca confirmados) de que parentes de João Pessoa estariam envolvidos em tal morte. A mãe de Ariano, em dificuldades financeiras, vendeu a fazenda e a família se mudou para a capital de Pernambuco (Recife). É nesta cidade que Ariano completa seus estudos e estréia na literatura.

Na trama de “O sedutor do Sertão” a personagem principal é Malaquias Pavão que tem em Miguel Biôco, seu fiel companheiro nas andanças pelo interior paraibano. Malaquias sempre que fiscalizado pelas autoridades, afirma ganhar a vida vendendo garrafadas (remédios feitos a partir de raízes e folhas de plantas) e impressos de contos e poemas. Malaquias, utiliza qualquer planta para fazer as ditas garrafadas, o segredo de seu sucesso é o discurso e encenações (exploração da boa fé das pessoas) onde seu ajudante Miguel Biôco que, como exemplo, aparece andando com muletas ante o ajuntamento de pessoas, toma uma garrafada “milagrosa” e fica “curado”, abandonando as muletas. Malaquias ganha muito dinheiro vendendo cachaça sem selo, isso longe da polícia, pois era considerado um delito grave. Malaquias faz várias trapaças, logra pessoas e lhes toma aquilo que lhe é de interesse, seja dinheiro ou cavalos. Malaquias tem duas paixões, o cavalo Rei de Ouro, considerado o melhor do Sertão e Silviana, a bela esposa de Sinfrônio Perigo, de quem é sócio no contrabando de cachaça do Brejo que vende no Sertão. Ambos tentam passar a perna um no outro, Sinfrônio quer ficar com todo o dinheiro do negócio e também com o cavalo de Malaquias, que por sua vez, quer para si, a mulher de Sinfrônio e, obviamente, ficar com todo o dinheiro. As personagens percorrem o interior da Paraíba e encontram grupos armados, ora leais ao Presidente João Pessoa, ora leais ao Coronel José Pereira, sendo obrigados a fingir que são apoiadores, ora de um, ora de outro, devido ao risco de morte em afirmar ser opositor. O autor faz uma crítica à polarização da época que dividiu a sociedade em amigos e inimigos. Como se isso não bastasse, havia ainda os inesperados encontros com os bandos do cangaço, os quais não apoiavam nenhuma das partes. Paro aqui para não dar spoiler. Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: O sedutor do Sertão ou grande golpe da mulher e da malvada.

Autor: Ariano Suassuna.

Editora: Nova Fronteira, 2020, 248 pág.