Sobre lobos e cordeiros
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Vivemos uma época complexa, a revolução dos transportes deixou o mundo menor, mas a distância física entre as pessoas só fez aumentar, por sua vez, a revolução das telecomunicações tornou a informação acessível, porém, nunca entendemos tão pouco acerca do mundo. Essa dificuldade afeta até mesmo os líderes e intelectuais que já afirmam não dar conta de entendê-lo tendo em vista a celeridade de suas transformações. Se o rol das pessoas que entendem com clareza o que vem a ser a globalização e o neoliberalismo atual diz respeito à pequena parcela da sociedade, a coisa degringola de vez quando o assunto é o pós-modernismo predominante.
O momento atual é de ruptura, uma crise civilizacional, em que as ideologias (conjunto de idéias, crenças e valores) que sustentam ou sustentaram o período da história humana conhecida como modernidade encontram-se em questionamento e mesmo sendo refutadas. É como alguns palestristas a quem assisti afirmaram categoricamente “é a negação da história”. Já não valem mais as ideologias, ou seja, os valores que sustentaram o mundo nos últimos séculos. O que reina é o caos, a destruição da ordem até aqui conhecida.
E neste mundo complexo, em que as pessoas não sabem mais distinguir esquerda e direita na política, seja por alienação e também por dificuldade mesmo, pois, a forma de agir dos partidos políticos e suas estranhas alianças contribuem muito pouco para o entendimento por parte da sociedade. Há até mesmo pessoas que afirmam que os conceitos de esquerda e direita serem coisas ultrapassadas, que na prática isso não existe mais.
Há algum tempo um líder de partido político declarou que o mesmo era “desideologizado” e se engana quem pensa que o político entrevistado era ingênuo, lógico, que a afirmação da desideologização do partido não tem sustentação científica, pois, não existe neutralidade, porém, as pessoas gostam da ilusão de um mundo “desideologizado”, de um partido “desideologizado”, do ensino “desideologizado”, sobre este último há até ONG para defendê-lo. Dessa forma, sendo a neutralidade impossível, as pessoas que a propõem estão longe de serem consideradas ingênuas, só me resta imaginá-las numa sala escura cheia de teias de aranhas, em frente a um caldeirão preparando a receita de como dominar as mentes inocentes que compram esse discurso fantasioso da neutralidade.
A neutralidade é um discurso falso e devemos ter um pé atrás com quem não tem uma ideologia definida, pois não ter uma ideologia definida é a principal característica dos oportunistas, hoje eu digo isso e abraço fulano, amanhã digo o contrário e abraço o ciclano. Ouvi até que o sindicato que representa os trabalhadores da educação deveria ser “desideologizado” e que na sua diretoria não deveria haver pessoas ligadas a partidos políticos, ora quem é engajado na luta da classe trabalhadora, está fazendo a luta econômica no sindicato e a luta política no partido como o afirmou Lenin. Talvez estas pessoas pensem que o sindicato não deveria estar nas mãos de trabalhadores da educação, isso seria entregar os cordeiros para serem cuidados pelo lobo! Não obstante os defensores de uma vida “desideologizada” sou mais fã de Cazuza quando cantava “ideologia, quero uma para viver”.