Houve um tempo absurdo em que estar no guidão era coisa de homem. Em 1895, um artigo científico publicado na renomada revista Scientific American propôs a questão singela: devemos permitir que mulheres andem de bicicleta? Não seria melhor, para preservá-las e zelar pela sua saúde, mantê-las afastadas do guidão? Ao final, o autor do estudo sugeria que era, sim, melhor proibir mulheres de dirigir bicicletas. O exercício físico necessário seria, de acordo com os especialistas, muito distinto daqueles com os quais as mulheres têm familiaridade – como o esforço muscular para operar, por exemplo, uma máquina de costura.
Para o cirurgião francês que assinava o artigo, o sexo feminino não estaria apto, por natureza, para conduzir bicicletas. Uma mulher não chamava de “movimentos musculares violentos”. Esse é apenas um exemplo de narrativa funcional da nossa sociedade, que sistematicamente nega a mulher possibilidades e oportunidades. “A mulher é diferente” é a versão menos agressiva dessa história. “A mulher é inferior” é a versão menos polida.
Ambas as frases eram empregadas para cercar nossa liberdade de andar de bicicleta na virada do século XIX. Hoje, ambas persistem e continuam sendo parte do repertório dos que não nos querem decisões.
É fato: avançamos. Não há nenhuma empresa séria hoje que não esteja em alguma medida pensando em como incorporar noções como diversidade e inclusão em seu dia a dia. É resultado do fantástico desempenho das poucas mulheres que conseguem chegar aos postos superiores em ambientes corporativos e da força e exuberância do incansável movimento de mulheres por direito.
Toda porta que escancaramos deve ser comemorada, mas ainda há muitos que fazer rumo a igualdade. No que tange ao ambiente de trabalho, temos que seguir combativas, entendemos que os espaços de tomada de decisão estão em disputa.
Diversidade no ambiente de trabalho significa aceitar, compreender e valorizar todas as experiências e trajetórias. Indivíduos de todas as cores, etnias. Gêneros. Idades, religiões, habilidades especiais, orientações sexuais e formações devem ter assento nas salas de reunião. E jamais devem ser diminuídas ao ocupá-lo. Inclusão por sua vez, significa garantir que o ambiente de trabalho seja acolhedor, participativo, estimule a colaboração e o respeito.
Conseguimos conquistar o direito de andar de bicicleta. E não foi fácil. Hoje queremos conquistar o direito de dirigir a fábrica que o produz e ganhar o mesmo que nossos pares homens que realizam função semelhante. Nada nos deteve antes. Nada nos deterá agora.