O principal entrave para a reação imediata do mercado está na alta produção de grãos, especialmente soja e milho
Após enfrentar um 2024 marcado por eventos climáticos severos e fatores econômicos que impactaram diretamente o desempenho do setor, a indústria brasileira de máquinas agrícolas começa a vislumbrar uma recuperação nas vendas. No entanto, de acordo com o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) Pedro Estevão, uma retomada completa só deve ocorrer em 2027.
Superoferta de grãos freia novos investimentos
Segundo o dirigente, o principal entrave para a reação imediata do mercado está na alta produção de grãos, especialmente soja e milho, que respondem por cerca de 60% da demanda por maquinário no país. Com a superoferta, os preços caem, o que reduz a rentabilidade do produtor e, consequentemente, sua disposição para investir em novos equipamentos.“Temos uma grande oferta de soja, o que pressiona os preços para baixo. Atualmente, o bushel está em torno de US$ 10, enquanto em períodos de alta chegava a US$ 17. Isso mostra uma grande oscilação”, explica Estevão. “Esse excedente de soja e milho ainda deve se manter em 2025 e 2026. Só em 2027 é que podemos ver uma valorização melhor dos preços, e quando isso acontece, o produtor volta a investir em máquinas.”
Faturamento deve crescer
A projeção para 2025 é de que o setor alcance um faturamento de R$ 66 bilhões, representando uma alta de 8% em relação aos R$ 61 bilhões estimados para 2024. Mesmo com esse crescimento, o número ainda está distante do recorde de 2022, quando o setor atingiu R$ 97 bilhões em vendas.
Juros altos dificultam retomada
Além da queda nos preços dos grãos, outros fatores dificultam a recuperação do mercado. Um deles é a alta taxa de juros. Com a Selic acima de 14%, o custo do crédito pode chegar a 20% ao ano fora das linhas subsidiadas pelo Plano Safra — plano este que, até o momento, ainda não foi anunciado para o ciclo até 2026 e cujos recursos disponíveis para este semestre já estão praticamente esgotados.
Redução da demanda
Outro ponto que limita a expansão do setor é a estagnação da área plantada. “Entre 2019 e 2023, tivemos um aumento de cerca de 15 milhões de hectares em áreas agrícolas, o que impulsionou tanto a reposição quanto a aquisição de novas máquinas. Mas no ano passado não houve esse crescimento, o que naturalmente reduz a demanda por equipamentos”, ressalta Estevão.Além disso, o parque de máquinas atual ainda está em bom estado, especialmente entre os grandes produtores. “Para quem tem capacidade de investimento contínuo, a frota no campo é moderna, com muitos equipamentos recentes. Não há urgência na substituição.”
Depende
Com esses elementos no horizonte, o setor aposta em uma recuperação mais lenta, atrelada à melhora nos preços das commodities e a um cenário macroeconômico mais favorável. A expectativa é de que o setor recupere sua força total apenas a partir de 2027, quando as condições podem se mostrar mais propícias para novos investimentos.