A emissora interrompeu a gravação das novelas das 21 e 19 horas, e analisa a possibilidade de colocar reprises no ar, assim como fez em 1975
As consequências do coronavírus começam a ser devastadoras também no Brasil. Enquanto as competições esportivas e as universidades interrompem sua programação, a pandemia agora passa a colocar em xeque o produto de maior audiência da televisão brasileira: as telenovelas.
A Globo, principal emissora do país, tem um problema grave para resolver. As gravações de “Amor de Mãe” e “Salve-se quem puder”, novelas das 21 e 19 horas, respectivamente, foram suspensas, em prevenção.
A emissora tem um contingente de capítulos gravados de aproximadamente duas semanas. Mas já na próxima semana, a novela das 21 deverá sair do ar por tempo indeterminado, e os telespectadores ficarão sem uma novela inédita. A direção da Globo fará uma reunião na tarde desta segunda-feira para definir o que será colocado no lugar – entre as cogitações, está a reprise de novelas ou minisséries consagradas.

A atual novela das seis, “Éramos Seis”, tem o último capítulo programado para ir ao ar no próximo dia 27 e, portanto, está com boa parte de seus trabalhos concluídos, não tendo alteração na programação. Já sua substituta, “Nos tempos do Imperador”, não deve ser levada ao ar tão cedo.
Também em reta final, a “Malhação” deve seguir com suas gravações, mas a próxima temporada terá trabalhos pausados.
Repetir atitude tomada na Ditura Militar
O horário de novelas das 20/21 horas existe na Globo desde 1965. Em quatro ocasiões houve a interrupção do horário. A mais famosa, ocorreu em 1975, quando a emissora já havia gravado 20 capítulos de “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, e inclusive vinculava as chamadas durante a programação.
No entanto, a censura da Ditadura Militar descobriu que o enredo era baseado em “O Berço do Herói”, peça teatral do mesmo ator e considerada subversiva. A Globo então foi obrigada a não exibir o folhetim. De última hora, a opção foi colocar uma reprise de “Selva de Pedra”, de Janete Clair, e não "O Bem-Amado", como informamos anteriormente, para ocupar o horário.
Curiosamente, em 1985, já sem o domínio dos militares, a Globo regravou “Roque Santeiro”, a produção tornou-se o maior fenômeno da história da televisão brasileira, com seu último capítulo ultrapassando os 90 pontos.
Em 1982, a novela “Sol de Verão”, de Manoel Carlos, era exibida, até que seu protagonista, Jardel Filho, faleceu, fazendo com que a trama tivesse final antecipado. A substituta, “Louco Amor”, estrearia apenas três semanas após o último capítulo de “Sol de Verão”, e a solução para intervalo foi colocar a reapresentação de “O Casarão”.