Em 2002, epidemia de dengue atingiu a principal novela da Globo

Quatro atores de “O Clone” contraíram a doença. Nesta semana, emissora interrompeu as gravações das tramas das 19 e 21 horas por conta do coronavírus

Os próximos dias serão históricos na grade de programação da TV Globo, mas não por bons motivos. A pandemia do coronavírus começa a atingir com mais afinco o Brasil e faz com que a sociedade tome medidas e paralise algumas atividades, principalmente aquelas que envolvem aglomeração de pessoas.

Entre estas, estão as gravações de telenovelas. A Globo interrompeu os trabalhos de “Salve-se quem puder” e “Amor de Mãe”, novelas das 19 e 21 horas, respectivamente. O folhetim das 18, “Éramos Seis”, está com atividades praticamente concluídas, e terá o último capítulo exibido no dia 27. A substituta, “Nos tempos do Imperador”, não estreará mais em 30 de março. Já a “Malhação” terá final antecipado.

Para ocupar o horário, a direção da emissora escalou reprises. “Amor de Mãe”, vai ao ar até sábado (21), e sairá do ar por tempo indeterminado. Em seu lugar, na segunda-feira (23), entra a reprise de “Fina Estampa”, novela de Aguinaldo Silva, exibida entre 2011 e 2012, que teve a maior audiência da década passada: 39 pontos de média.

Lilia Cabral como a protagonista de "Fina Estampa" Griselda, o “Pereirão”
Foto: TV Globo

Às 19 horas, “Salve-se” será apresentada até o dia 28. Depois, “Totalmente Demais” ganhará um repeteco. O folhetim de Rosane Svartan e Paulo Halm, mesmos autores de “Bom Sucesso”, foi veiculada entre 2015 e 2016, com êxito.

Enquanto isso, “Novo Mundo”, de 2016, será reprisada às 18. Ela preparará o terreno para a engavetada “Nos tempos do Imperador”. A primeira mostra a chegada da Família Real Portuguesa e o governo de Dom Pedro I, enquanto a segunda apresentará a vida de Dom Pedro II.

Coronavírus quebra tabu da Globo

A Globo não sacava reprises em seus horários tradicionais desde 1987, quando “Direito de Amar”, de Walther Negrão, precisou ter sua estreia adiada, por conta de pressões do Sindicato dos Artistas, que exigia que seus membros tivessem uma carga horária de seis horas diárias de trabalho. “Locomotivas” foi escalada para ocupar o horário até que a situação fosse ajustada e a nova produção fosse levada ao ar.

No horário nobre – 20/21 horas -, as reprises não eram vistas desde 1983, quando, após a morte de Jardel Filho, protagonista de “Sol de Verão”, e o eminente final antecipado da trama, a emissora teve que reapresentar “O Casarão”, enquanto a inédita “Louco Amor” não ficava pronta.

Em 1975, a 1ª versão de “Roque Santeiro” tinha as chamadas de estreia sendo exibidas nos intervalos, quando a censura do Governo Militar impediu que a história de Dias Gomes fosse ao ar, por encontrar uma relação entre a obra e a peça “O Berço do Herói”, do mesmo autor, que era considerada subversiva.

No lugar, a Globo colocou uma reprise de “Selva de Pedra”, enquanto a inédita “Pecado Capital” era produzida à toque de caixa. Curiosamente, “Roque Santeiro” foi regravada 10 anos depois, e se tornou o maior sucesso da história das novelas brasileiras.

Epidemia de dengue atingiu novela em 2002

Em uma situação não idêntica, mas que faz referência ao atual momento trazido pelo coronavírus, em 2002, “O Clone”, de Glória Perez, sofreu com uma epidemia de dengue.

A trama não foi paralisada, mas quatro atores contraíram a doença: Reginaldo Faria, Elisângela, Marcello Novaes e Stênio Garcia – este último, inclusive, foi contaminado por dengue hemorrágica. Os quatro precisaram ser afastados da novela, fazendo a autora reescrever diversas cenas.

Preocupada com novos casos, a Globo tomou medidas na época, como fazer com que o “carro fumacê” passasse duas vezes por todo o Projac durante cada dia.

Além do elenco da então novela das 20 horas, outros artistas da casa foram contaminados, entre eles Ana Paula Arósio, Lilia Cabral, Miguel Falabella e Heitor Martinez.

Glória Perez usou a epidemia como gancho para um merchandising social e abordou a dengue na trama, com Khadija (Carla Diaz), filha da protagonista Jade (Giovanna Antonelli), contraindo a doença.

Dora Jura (Solange Couto) e Basílio (Sílvio Guindane) foram os personagens encarregados de promover a conscientização do telespectador, através de cenas que apontavam a relevância dos cuidados com a água parada.

Ainda na mesma “O Clone”, Débora Falabella, a Mel, teve meningite virótica e se afastou do estúdio. Algumas de suas cenas foram gravadas no hospital em que a atriz ficou internada, como se a personagem estivesse internada por conta da overdose de drogas, já que Mel era uma dependente química.

Depois de um tempo, a irmã mais velha de Débora, Cinthia Falabella, também atriz, atuou em algumas cenas a substituindo.

Ruth de Souza, intérprete de Dona Mocinha, foi internada com pressão alta, Giovana Antonelli torceu o pé no Marrocos, e Haylton Farias, que fazia um psicanalista, foi esfaqueado por um vizinho. Ele ficou em estado grave, se recuperou, e não voltou mais para a novela.

Apesar de todo esse tenebroso cenário, “O Clone” foi um fenômeno de audiência e público. Teve 47 pontos de média, quando a meta exigida era 45 – o sucesso ficou ainda mais evidente quando sua substituta, “Esperança”, derrubou os índices para 38 pontos. Além de popular, a trama cumpriu seu papel na abordagem de temas de relevância social, como o alcoolismo, a dependência química e da cultura muçulmana – a novela estreou semanas após o atentado às Torres Gêmeas, quando o mundo o ocidente olhava com desconforto para o povo islâmico.

Foi reprisada em 2011 no Vale a Pena Ver de Novo, reerguendo a audiência da Globo. Está em cartaz, na íntegra, no canal de tevê fechada Viva, às 23 e 13h30.