Com atletas disputando a fase nacional dos Jogos Escolares e a Superliga A, Guaraniaçu desponta no voleibol e mira o profissionalismo
Transformar seus municípios um pólo de referência esportiva é uma das ambições dos dirigentes esportivos. Quando se trata de uma modalidade coletiva, essa cunho fica, costumeiramente, destinado aos grandes centros urbanos, por disporem de mais material humano e recursos para desenvolvê-lo.
Na contramão dessa tendência, Guaraniaçu conquista respeito através do vôlei – de areia e de quadra. Nos últimos anos, a cidade do oeste paranaense, com cerca de 15 mil habitantes, colheu resultados expressivos. Nos Jogos Abertos da Cantuquiriguaçu (Jarcans), venceu as últimas quatro disputas no vôlei de quadra feminino. Neste mesmo período, abocanhou três medalhas de ouro no masculino.
Só que o reconhecimento não fica fadado ao regionalismo. Também no vôlei de praia, venceu as duas últimas edições da fase final dos Jogos Escolares do Paraná, o que outorgou à cidade representar o estado na fase nacional da competição.

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Willian Giasson: o capitão-mor
Quem vem capitaneando essa surpreendente trajetória é o professor Willian Giasson. Guaraniaçuense de nascença, desde cedo se apegou ao vôlei. Sem oportunidades para desenvolver habilidades na terra-natal, foi para Cascavel. Na capital d’oeste, disputou as competições escolares. Quando se formou em Educação Física, em 2011, buscou especialização, fez cursos na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e passou a planejar estruturar Guaraniaçu para dar às novas gerações aquilo que não lhe foi oportunizado: jogar vôlei pela cidade.
O projeto embrionário começou a ser colocado em prática em 2015, com escolinhas de mini-vôlei. Aos poucos, a estrutura foi se expandindo e hoje atende às categorias de base e adulto, com aproximadamente 130 atletas mobilizados.
“Montamos uma planilha de objetivos com cada categoria. No início, as aulas eram recreativas e não conseguimos resultados expressivos. Então, mudamos o foco. Passamos a trabalhar a coordenação motora dos atletas mais novos, para que pudéssemos iniciar uma parte tática avançada”, conta Willian.
Guaraniaçu nas Olimpíadas?
Camile Grzybowski, 17 anos, e Heloísa Fedatto, 16, formaram a dupla do vôlei de praia que despontou para o cenário nacional em 2018 e 2019 – com os títulos da fase estadual dos Jogos Escolares e a consequente classificação para a etapa nacional.
A primeira iniciou no esporte logo aos sete anos, em Guaramirim/SC. Aos 12, passou a integrar as categorias de base comandadas por Willian Giason. Heloísa também começou a treinar com a mesma idade da parceira e diz que as conquistas das últimas temporadas equivalem a concretização de sonhos.
Neste ano, as duas encerrariam o ciclo de participação nos Escolares. A pandemia tornou a aguardada despedida em algo incerto, motivo de lamentação para o professor Willian.
Elas fazem parte do programa Geração Olímpica, e recebem uma bolsa para treinar, assim como Willian, como técnico-formador. “Elas são apostas para as Olimpíadas de 2024”, acredita o treinador.
Campeonato estadual
Com resultados tão satisfatórios, o próximo objetivo de professor Willian é colocar Guaraniaçu no campeonato estadual. O município, inclusive, já vem exportando atletas para clubes de outras cidades do estado. O levantador Rafael Murilho, por exemplo, atuou no ano passado pelo Caramuru, de Ponta Grossa, que integra a Superliga A (elite do vôlei brasileiro).
Érica Dalla Rosa, Julia Woguel e Maria Cristofolli jogam por Cascavel. Bruna Marchetti e Gabriela Soares defendem Dois Vizinhos, enquanto Eloisa Araújo atua por Cafelândia e Gabriela Dias por Maringá.
Entre os garotos, Vitor Chimilouski, José Acácio e Thomas Pinheiro defendem Ubiratã. Getúlio Santin veste as cores da UFPR de São José dos Pinhais. Ainda há Heloísa Fedatto, já citada, fazendo parte do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia.
Os tantos talentos podem, num breve futuro, ajudar a escrever mais uma nova e feliz página da história do esporte de Guaraniaçu. Por esse objetivo, o professor Willian promete se engajar. “O planejamento é jogar a segunda divisão do paranaense”.
Guaraniaçu: na contramão do cenário nacional do esporte

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Num país em que o futebol tem a esmagadora preferência do público – no interior do Paraná, dividindo o posto com o futsal -, despertar nos jovens o interesse pelo vôlei é um desafio à parte, mas que vem sendo superado em Guaraniaçu. A cidade, inclusive, não possui equipe representante no estadual de futsal, e ao que parece, por lá, o vôlei é modalidade soberana.
“Com as meninas, é mais fácil motivá-las a treinar, mas com os garotos é diferente. Eles têm o futsal e as novas tecnologias – celular e computador. Mas a tradição alcançada por nós têm feito estes se render”, conta Willian.
“Em Guaraniaçu, existe uma predisposição pelo voleibol que parte logo do prefeito, Osmário Portella, que é professor de Educação Física. Então, essa visão diferenciada dá a cidade esse status. Possuem uma base bem-sucedida e que a longo prazo pode gerar uma consolidação ainda maior a nível de estado. O vôlei exige muita técnica coletiva e individual. O atleta precisa ser preparado minuciosamente desde pequeno, por isso a importância do trabalho de base, de ‘formiguinha’, competentemente feito pelo Willian”, argumenta o chefe da 10ª Regional de Esportes do Paraná, Edson Pereira.
Caminho não-convencional
O secretário de Esportes do município, Renato Dri, credita o mérito do vôlei da cidade ao trabalho de Willian. “Ele dedicou sua vida a isso. É um atleta-nato. Nossos atletas, em contrapartida, são dedicados e talentosos. Guaraniaçu vive uma grande fase no esporte, com a bocha e o bolão se destacando também”.
Segundo Renato, em vez de investir em uma modalidade como o futsal que, para grandes êxitos, exigiria a contratação de jogadores de outras localidades, a pasta prezou por valorizar os “pratas da casa”.
“Estamos investindo de da mesma forma em todas as modalidades. Mas a verdade é que temos o Willian se diferencia através do vôlei e transfere sua dedicação para os atletas. Quando os resultados aparecem, fica confortável para dar sequência ao trabalho”.