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Após superar problema de saúde, Foca quer retomar carreira de treinador

Campeão mundial de futsal, técnico de 66 anos revisita trajetória, critica falta de apoio à base e marca posição na intriga entre Federação e Liga Paraná

Campeão paranaense, brasileiro e mundial. Antônio Rúbens Alves, o ‘Foca’, é um dos mais experientes e admirados técnicos de futsal do Paraná. Filho de jogador de futebol, não enveredou pela carreira de atleta. Foi quando adulto e trabalhando como técnico mecânico, que deu os primeiros passos à beira da quadra. Passos que tornar-se-iam sinônimo de conquistas.

Aos 66 anos e após superar um problema de Saúde, ele pretende retomar a carreira de técnico. Em entrevista exclusiva ao Correio do Povo do Paraná, Foca comparou o futsal do passado com o do presente, fez críticas à falta de apoio às categorias de base e disse que a Liga Paraná representa evolução


Desde os tempos de berço, Antônio Rúbens Alves viveu em um ambiente de badalação quando o assunto era o esporte. Seu pai, Bolívar Caetano, foi goleiro e participou de importantes capítulos do futebol do Paraná. Em 1955, foi campeão estadual pelo Monte Alegre, de Telêmaco Borba. Foi a primeira vez que um clube do interior faturou o campeonato. 

 


Infância com um campeão

Pai de Foca, Bolívar Caetano foi goleiro do Monte Alegre em 1955, quando o time sagrou-se campeão paranaense de futebol
– o primeiro clube do interior a alcançar o feito/ Foto: Reprodução

Ironicamente, Foca, filho de um atleta, foi incentivado a seguir carreira de atleta. Quando jovem, foi para Curitiba para formar-se técnico mecânico. O envolvimento com o esporte foi fluindo. Participou da base do Coritiba, mas quando pensou em dedicar mais de sua vida ao futebol, recebeu um conselho do pai: “você está em Curitiba para estudar”. 

Quando começa a trabalhar na Klabin, passa a ajudar o pai nas escolinhas oferecidas aos filhos dos funcionários da empresa. Já no final da década de 1980, faz um curso para treinador de futsal, que lhe possibilitou a ida para Arapoti. Lá, ajudou a inserção da Inpacel no cenário profissional da modalidade. “A cidade não tinha ginásio, nem hotel para os jogadores, que ficavam na pensão. Enquanto era construída uma quadra própria, jogávamos num ginásio da cooperativa de holandenses”, recorda Foca.

Foi necessário pouco tempo para um sucesso histórico. Foram três títulos da extinta Taça Paraná e três da Taça Brasil.O título mundial de 1994 coroou o clube, mas marcou também o fim da trajetória de glórias e de atividades.

No ano seguinte, a Federação Paranaense de Futebol de Salão (FPFS) deu início ao Campeonato Paranaense da Série Ouro. Até então, a Inpacel participaria do certame, mas anunciou a saída um dia antes do congresso técnico. 

1994: Inpacel coloca a pacata Arapoti no topo do futsal mundial
Foto: Reprodução

Da Itália a Guarapuava

Com o nome consagrado, Foca deixou Telêmaco Borba e rodou o Paraná e o Brasil. Passou 10 anos na Itália. Foi técnico das seleções da Bahia e do Rio Grande do Norte. Ainda no nordeste, dirigiu o ABC/RN. No Rio Grande do Sul, comandou Carlos Barbosa e Passo Fundo

Trabalhou também no Atlético Patobranquense e no extinto Foz. Foi o responsável pelo primeiro acesso do Dois Vizinhos à Série Ouro, em 2014. Seu último clube foi o CAD, em 2018. Na época, ele precisou deixar a equipe para cuidar da saúde. “Fumei muito e sai para me tratar. Quando estava na Itália, fumava três carteiras de cigarro por dia. Isso me prejudicou muito”.

Num de seus últimos trabalhos, Foca levou o Dois Vizinhos pela primeira vez à Série Ouro, em 2014
Foto: Jornal de Beltrão

Futsal: passado e presente

Para o técnico, as últimas décadas trouxeram de bom para a modalidade o profissionalismo. “As quadras agora estão com uma medida-padrão. Os atletas evoluíram fisicamente e as equipes se estruturaram, tanto que quem não treina mais do que um período dificilmente alcança seus objetivos”. 

Como ponto negativo, Foca citou a falta de contato com o futsal do nordeste, sendo o calor do tradicionalismo dos clubes daquela região uma lacuna impreenchível. “Antes tínhamos competições abraçando equipes de norte a sul, que chamávamos de intercâmbios. A verdade é que perdemos o contato com o futsal para cima de Minas”. 
 


“Falta incentivo à base”

É impossível negar o sucesso que os clubes do Paraná têm alcançado nos últimos anos no futsal. O bicampeonato da Liga Nacional pelo Pato – competição que até então nenhum time do estado havia vencido – e o título da Copa do Brasil em 2020 pelo Dois Vizinhos servem de provas. 

Mas para Foca, os dirigentes estão pecando na forma como conduzem as equipes. “Parece que perdemos a base. Os times do Paraná não investem nisso. Valorizamos pouco os jogadores da casa, do estado. Boa parte dos jogadores da Série Ouro vem do nordeste. Ninguém quer incentivar a base pois ela demora a dar retorno e os dirigentes querem resposta de imediato. Por isso temos tantos clubes que surgem meteóricos e da mesma forma acabam”. 

Foca citou o vice-campeonato da Taça Brasil sub-17 pelo Coronel como exemplo de projeto visionário. “Fiquei sabendo do feito do Coronel. Em quatro anos, eles terão jogadores da base no time profissional. Estão enxergando longe, com Mocelin. Estão fabricando jogadores para eles, com custo menor, mais qualidade e envolvendo a comunidade”

 


Federação versus Liga

O veterano tem acompanhado os embates entre a FPFS e a Liga Futsal Paraná. Na opinião dele, a Liga representa evolução para a modalidade no estado. “Sou sempre pela evolução. Não podemos voltar atrás. A Federação está se restringindo e vai chegar um momento em que a Liga vai prevalecer perante os clubes e ela vai servir para organizar Seleção. Precisamos evoluir e não só no aspecto financeiro”. 


Futsal feminino em Telêmaco

Arapoti e Telêmaco Borba estão para sempre ligadas à história de Foca. Enquanto a primeira não possui representantes no estadual, a segunda tem um dos principais clubes do futsal feminino. “Lá em Telêmaco, a comunidade fortificou o projeto, a faculdade começou a dar bolsas de estudo aos atletas. Isso é dar qualificação e cultura. As jogadoras retribuem dando aula nos projetos sociais. Espero que o projeto se mantenha por muitos anos e que forme o time masculino”. 

Foca elogiou elegeu Anderson Valério como um dos melhores técnicos da nova geração. “Eu admiro muito o Anderson, ainda mais por ser o feminino. Ele estuda e vive 24 horas. No Paraná estamos bem servidos de treinadores”. 

 


Rotina e volta ao trabalho

Após décadas “casado” com o futsal, Foca experimenta rotina sem viagens, ao lado da família
Foto: Arquivo pessoal

Desde que se afastou das quadras, Foca vive em Curitiba com a família. Ainda assim, tem uma rotina consagrada ao esporte. “Durante a semana, escrevo textos sobre o futsal para a minha página no Facebook e assisto a uns quatro jogos. Nos finais de semana, vejo também basquete e vôlei. Minha vida é assim há décadas, não saio nem para ir ao banco”, revela. 

Descartando uma nova incursão fora do país, Foca pretende aplicar os estudos dos últimos anos num novo trabalho, que aguarda. “Estou bem, superei o problema que me afastou e sou um treinador à procura de uma oportunidade. Não estou aposentado”. 

 

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