Crise financeira no futsal pode ser “amenizada” com marketing esportivo, diz Amir Somoggi

Com alguns setores da sociedade com atividades paralisadas – entre eles o comércio, de onde surge boa parte da renda das agremiações, através dos patrocínios -, o faturamento necessário para manter a saúde financeira dos clubes de futsal fica ameaçada.

Como se não bastasse, os campeonatos e as respectivas atividades diárias nos clubes também não ocorrem há quase duas semanas. Entretanto, atletas, comissão técnica e demais funcionários são trabalhadores, que dependem do salário para sustentar-se.  Mas como os clubes arcarão com suas despesas, se não há jogos para obter renda, e o repasse do patrocinador é incerto?

O Correio do Povo do Paraná conversou com um dos mais respeitados nomes do marketing e gestão esportiva do Brasil, Amir Somoggi. Ele, que já desenvolveu projetos de consultoria para clubes do cenário esportivo nacional, falou sobre estratégias a serem adotadas para tornar o impacto da crise financeira que se anuncia o menor possível.

Um dos grandes desafios neste momento dentro dos clubes, é encontrar uma forma de suprir o retorno de mídia esperado pelos patrocinadores sem as competições.  Somoggi refuta que esta é uma missão desafiadora, pois no Brasil os patrocinadores estão focados no resultado obtido através da mídia, quando, por exemplo, a marca aparece na TV e conseguem retorno. "É uma mensuração efetiva. Aqui não existe um composto promocional, de vendas. Por isso, diante dessa perspectiva, o retorno fora das competições é muito baixo". 

Comparação com 2008

O especialista acredita que a pandemia do coronavírus ocasionará uma crise financeira mais grave do que a que ocorreu em 2008, que foi preponderante para que clubes deixassem o futsal, como a Ulbra/RS, tricampeã da Liga Nacional. "O impacto será maior agora pois em 2008 a crise foi concentrada no mercado financeiro, então quem estava muito exposto sofreu mais. Agora, afetará o consumo e a produção. Atingirá a todos". 

Como manter o ímpeto?

Em um contexto particular, o futsal do Paraná iniciava 2020 no embalo de sua maior fase da história, com os dois títulos da Liga Nacional do Pato, a popularização do Clássico das Penas – disputado entre o próprio Pato e o Marreco -, além presença de Cascavel, Campo Mourão e Foz Cataratas no cenário nacional da modalidade. O medo, tanto de quem atua dentro dos clubes, como dos próprios torcedores, é que a pandemia provoque um cenário "apocalíptico", com agremiações fechando as portas e atletas desempregados. 

Somoggi confirma as suspeitas: a queda brutal na arrecadação será evidente. No entanto, ele diz que há caminhos para as equipes seguirem, amenizando este impacto. "Muitas vezes, o patrocinador não tem interesse só na visibilidade. O clube precisa saber explorar isso de forma eficiente, criando novas alternativas. A crise permite que o time que não fazia nada fora da visibilidade da competição, tenha a possibilidade real de desenvolver um projeto de marketing digital, por exemplo. Podem usar os jogadores em alguma estratégia. Ações nas redes sociais, que parecem coisa pequena, pode ser uma nova ferramenta no futuro, e hoje precisa ser enxergada como investimento", argumenta. 

A inspiração está na Europa

Segundo o especialista, o futsal é uma modalidade com grande potencial, mas limitada do ponto de vista comercial, apesar de existirem exceções, como o mercado do Paraná. "No geral, o futsal é uma modalidade secundária, até se comparado com vôlei e basquete. É, junto com o futebol, a mais praticada, só que em termos midiáticos perdeu muito espaço. Mas existem investidores específicos do futsal, que estão junto com as Federações, com a Liga Nacional, e você precisa atrair esses parceiros. Para isso, são necessárias boas estratégias de marketing, focando no que os clubes da Europa fazem. Aqui no Brasil temos o problema de uma equipe como o Carlos Barbosa não ter um banking marketing. Grêmio e Internacional fazem muito pouca coisa que gere inspiração nesse sentido. Se quiser buscar inspiração, tem que olhar os Estados Unidos e a Europa". 

O Brasil, conforme Amir, não tem uma cultura de marketing esportivo agressivo, o que impede que a parceria entre clubes e patrocinadores explorem outros horizontes de suas parcerias. "O ideal seria fazer um patrocínio com uma pegada mais promocional, ofertando ao torcedor experiências que o patrocinador pode propor, mas infelizmente o clube não consegue desenvolver por falta de recursos, estrutura, criatividade ou de pessoal.  Acho que o futsal vai sofrer como todos as outras modalidades, mas esses investidores diretos são os maiores interessados em que esse esporte saia bem dessa crise. O papel deles é ajudar nesse processo".