Ter dois empregos. Às vezes, esse é o caminho tomado por quem quer encontrar a estabilidade financeira. Mas e no esporte, até que ponto pode gerar bons resultados para os dois projetos? Em 2020, o público do futsal terá a oportunidade de acompanhar uma situação como essa no Campeonato Paranaense.
O técnico Everton Paulino de Mattos, o ‘Veto’, resolveu encarar jornada dupla: vai treinar o Caçula, na Série Ouro Feminina, e o CAC, na Série Bronze Masculina – ambos os clubes da cidade de Cantagalo. Ele ainda equilibra as funções da modalidade com a função de professor de Educação Física.
Como vai conciliar?
No Caçula, clube em que está desde 2019, quando levou o time à 5ª colocação da elite do estadual feminino, Veto ministra treinos às segundas, quartas e sextas, das 18 às 20 horas. No CAC, os trabalhos acontecem todos os dias no período da manhã e à noite, a partir das 20 horas.
Cronogramas de treinamentos conciliados. Certo. Mas e quando a bola rolar ‘pra’ valer? Até então, os jogos da Série Ouro Feminina aconteceram nos mesmos dias das partidas das divisões masculinas. Veto tem a solução.
“Nós vamos conversar com a Federação, para que, quando uma das equipes for jogar fora de casa, a outra folgue. Também queremos fazer rodada dupla de jogos em Cantagalo”.
Veto está retornando ao CAC 10 meses após ser dispensado. Em 2018, ele fez o Galo bater na trave pelo acesso à Série Prata: foi 5º colocado. “Na época do meu desligamento, saiu um comentário de que eu havia pedido para sair, o que não é verdade. A diretoria antiga foi quem tomou a decisão”.
Em Cantagalo, os santos da casa fazem milagre, diz diretoria
O presidente do CAC, Izaias Sirigalli, tem evidenciado que o elenco de 2020 será formado por atletas da casa. Veto diz que tem participado da montagem do plantel e acredita que esse é o caminho mais curto para o clube ter êxito.
“Estou voltando para devolver o respeito ao CAC. Os torcedores têm me parado na rua e perguntado ‘é verdade que você vai voltar?’. Eles estão entusiasmados, dizem que vão ir mais ao Barbosão (ginásio da cidade)”, conta Veto.
A ideia para 2020 no CAC é apostar nos talentos da casa. Em 2019, o Galo teve Felipe Quadri (de Pato Branco) e Paulo César Franco (de Quedas do Iguaçu) no comando, além de muitos atletas de outras regiões. O time não alcançou o resultado pretendido pela torcida: foi 12º.
Acreditar que os “santos da casa” podem fazer “milagre”, parece ser a estratégia para a nova temporada. Nomes como o goleiro Júnior, o ala Chiquinho e o pivô Pipa já acertaram a renovação. Carazinho e Ronaldinho, vindos de Pinhão e Operário Laranjeiras, devem ser repatriados. “Eu quero superar a campanha de 2018 do CAC. Temos condições de chegar entre os quatro primeiros”, argumenta o treinador.
A situação é legal perante a Federação?
De acordo com o assessor jurídico da Federação Paranaense de Futebol de Salão (FPFS), Eduardo Vargas, não há ilegalidade em um treinador comandar duas equipes, desde que elas não estejam na mesma competição. “É uma situação peculiar, não é comum, mas não existe vedação”.
Jornada dupla? O que pensam as diretorias ?
O diretor do Caçula, Leonan Paulo Di Domenico, diz que o clube entende a jornada dupla de Veto como uma valorização à sua trajetória, e que não se opõe. “Quem não gostaria de ter um técnico como o Veto? É o melhor da Cantu. Ele foi disputado por outros clubes do Paraná, mas quis ficar em Cantagalo. O olhar da diretoria entende a valorização do profissional, pelo trabalho no CAC em 2018, pelo que fez no Caçula no ano passado. Houve entendimento entre os dois clubes, então estamos satisfeitos.”.
No lado do CAC, o presidente Sirigalli demonstrou confiança no sucesso do trabalho de Veto. “Nossa pretensão é disputar a Série Bronze para conquistar o acesso e não tínhamos outro nome melhor como o Veto para assumir o comando. Nós convidamos ele para voltar ao clube. Algumas situações foram elencadas, entre exigências de nossa parte, outras por parte dele – como por exemplo, comandar os dois clubes. Nós aceitamos”.