Impossibilitado de entrar em quadra por conta da pandemia, clube desistiu da disputa da segundona. Em entrevista exclusiva, presidente revela “caça a ginásios” e recusa de adversário. Entenda como fica o campeonato
A pandemia deixa sequelas no futsal paranaense. Depois da desistência de 14 dos 32 inscritos na Série Bronze, de cinco dos 15 integrantes da Série Ouro Feminina e do Prudentópolis na Prata, mesmo quando a bola voltou a rolar, em 22 de agosto, algumas equipes respiram com ajuda de aparelhos. Em um caso que dividiu opiniões, o Seleto de Maringá viveu um drama nas últimas semanas.
Clube foi contra a retomada
O clube do Norte do Paraná foi o único entre os 10 da Série Prata a se posicionar contra o retorno do estadual no fim de agosto. Voto vencido, a equipe passou a encarar um dilema que culminou com sua retirada do campeonato.
A diretoria pediu o adiamento do jogo de estreia, contra o Mariópolis, fora de casa. Terceira maior cidade do Paraná, Maringá atravessa um quadro epidêmico mais delicado que dos demais municípios que integram a segundona. “A cada dia, Maringá têm, em média, 120 casos de contaminação. Até o começo de junho, não tínhamos 10 mortes aqui e, de lá para cá, já são mais de 90. Temos um decreto que proíbe treinamentos e jogos. O prefeito está sendo rigoroso. Eu concordo”, conta a presidente do Seleto, Suzana Souza.
Além de não ter liberação para disputar uma partida em casa, o Seleto via-se inerte para deixar o município, como no caso do jogo em Mariópolis. O transporte dos atletas é cedido pela secretaria de Esportes e o serviço está suspenso. “Poderíamos até viajar em carros particulares, mas e depois, quando voltássemos, teríamos que enfrentar todo aquele protocolo de segurança, de isolamento”, argumenta Suzana.
Polêmica sobre as dimensões da quadra
E se inicialmente a Federação Paranaense de Futebol de Salão (FPFS) concordou com um adiamento, a entidade pediu que, em 72 horas, a equipe regularizasse a situação para receber a Apaf, no dia 26 de agosto.
A diretoria iniciou uma saga em busca de um ginásio. “Fui atrás de Cascavel, Campo Mourão, Nova Esperança, São João do Ivaí e em muitas cidades vizinhas. O único local que ofereceu ajuda foi Itambé, que, inclusive, se propôs a arcar com a logística de ambulância e segurança”, revela a presidente.
Problema resolvido? Não! O Seleto esbarrou na burocracia. A quadra do Ginásio Guido Izidoro Costa, em Itambé, não tem as dimensões oficiais – 40 metros por 20 – exigidas no regulamento da Série Prata. A Apaf se recusou a enfrentar o adversário nesta condição.
“Disseram que não jogariam em Itambé, por conta do ginásio não ter as medidas oficiais, acertadas no arbitral. Jamais imaginei que iriam levar isso a ferro e fogo. Não sei qual era a intenção do pessoal de Paranaguá, se era ganhar o jogo a torto ou direito. Até uma semana antes do início da Série Prata, o pessoal dizia que deveríamos nos ajudar, que os clubes deveriam se unir para realizar o futsal e, na primeira oportunidade, acontece isso”, questiona Suzana.
Bituruna e Mariópolis disputam a Série Prata em ginásios que não possuem as medidas oficiais. Só que de acordo com o assessor jurídico da FPFS, Eduardo Vargas, estes casos foram aprovados como ressalvas no regulamento. “A Apaf possibilitou, em vão, a realização do jogo em Paranaguá”, diz Vargas.
O diretor da Apaf Rodrigo Gonçalves, justificou a recusa a Itambé. “Nós também não tínhamos ginásio para treinar e jogar. Um dia antes do jogo contra o Operário Laranjeiras, conseguimos, através de um decreto da prefeitura, a liberação para jogar. Até então, havíamos acertado para jogar em Fazenda Rio Grande. Corremos atrás das especificações e fizemos tudo para não deixar o adversário na mão. Com o Seleto, apenas cumprimos o regulamento. Se eles não conseguiram jogar em Maringá, não é culpa e má vontade nossa. A logística estava pronta e o ônibus pago. Se não houve organização, não coloquem na nossa conta. Se queremos o futsal forte, precisamos tomar decisões de acordo com o arbitral”.
WO
Sem solução para o impasse, a FPFS declarou WO do Seleto no jogo. Até sexta-feira (28), os maringaenses tinham um novo prazo para ajustar a situação. Conforme o regulamento, uma nova incidência de WO resultaria na eliminação do time.
E, embora garantisse, no decorrer da semana, que viajaria até Bituruna, onde enfrentaria a equipe da casa no sábado (26), o Seleto anunciou, na manhã do compromisso, a retirada da Série Prata.
“Somos uma entidade vinculada à FPFS há mais de 20 anos. Não começamos ontem e não brincamos de fazer futsal. Temos história e respeitamos a saúde de nossos contratados”, concluiu a presidente.
E agora, como fica?
Segundo Eduardo Vargas, a desistência pode gerar punições – como multas ou suspensão – ao Seleto. “Esses casos são enviados para a Comissão de Processos Administrativos, que avaliarão a questão”.
Conforme prevê o regulamento, a saída do Seleto faz com todos os jogos da equipe sejam desconsiderados – neste caso, os três pontos do WO deixam de ser contabilizados à Apaf.
O campeonato passa a ter nove integrantes, nove rodadas, com uma equipe folgando em cada uma. Portanto, ao fim da 1ª fase, um único time será eliminado.
Elenco
Os 17 atletas que disputariam a segundona pelo Seleto não ficarão desamparados. Segundo o ala Montanha, o clube já se comprometeu a manter seus salários até o fim do ano, quando findaria a temporada.
Ao comentar os desdobramentos em que atravessou a equipe maringaense, o jogador de 24 anos disse que faltou bom-senso por parte da FPFS.
“Ficamos de mãos atadas. A gente tenta, não tem respaldo da Federação e sem forças para brigar. Nos sentimos deslocados nessa situação. Ruim para Maringá, ruim para o Seleto e ruim para o futsal”.