O futsal paranaense sempre foi marcado pelos altos e baixos de seus clubes. Poucas equipes conseguiram uma estabilização no cenário estadual, como Cascavel e Campo Mourão.
Foz Cataratas e Pato, que detém atualmente a hegemonia da modalidade no estado, por exemplo, são recentes. O primeiro disputa a elite desde 2012. Já os sudoestinos voltaram à Série Ouro em 2017.
Mas dentre tantas equipes que deixaram o cenário das quadras, algumas deixaram sua marca imortalizada na memória dos torcedores. Uma deles é o Quedas.
2010-2013: os Anos Dourados do Quedas

Foto: Reprodução
Fundado em 1995, o clube sediado na homônima Quedas do Iguaçu começou a despontar em 2010. Primeiro, passou pela Série Bronze em 2005. Depois, foram quatro anos de saga na Série Prata, para Gralha a enfim alcançar o acesso à elite.
Rogério Pruêncio, o “Soneca”, era o treinador do time. Foi lá que projetou sua carreira. “O Quedas me deu a primeira oportunidade para ser técnico. Cheguei em 2006, dirigi o time naquele ano e também em 2007, 2009 e 2010 na Prata e em 2011 na Ouro”, conta.
Nesta época, a Araupel, empresa de beneficiamento de madeiras, era responsável por dar aparato financeiro ao time. “Havia uma gestão empresarial da Araupel que atraiu investimentos de vários segmentos cidade. Havia transparência de gastos, os salários estavam sempre em dia. Isso era um atrativo para os atletas. Para minha carreira o Quedas foi primordial”, discorre Soneca, que depois alçou trabalhos à frente do Caramuru, de Castro, e do Paranaguá.
A torcida era outro ponto forte do Quedas. O Ginásio Tarumã constantemente lotava. Márcio Rinaldo, técnico do Cascavelense, adversário quedense na decisão da Série Prata, lembra do rival com nostalgia.
“Vivi grandes momentos contra o Quedas. Enfrentei-o tanto na Série Prata quanto na Ouro. Em 2010 foi marcante. As duas equipes eram fortes. Fizemos o primeiro jogo da final em casa, vencemos. Depois, fomos jogar no Tarumã e conseguimos o título. O que impressionava é que, independente da fase, o ginásio sempre estava lotado”, relata.

Foto: Assessoria Paraná Clube
Entre 2011 e 2013, o Quedas atuou na Série Ouro sem fazer feio. Nunca lutou contra o rebaixamento, classificando-se nas três temporadas para as quartas de final. Em 2011, disputa a Taça Paraná – competição sem a participação das equipes da Liga Nacional – e elimina o Paraná Clube, terminando em 3º, após ser eliminado pelo Marreco.
No mesmo ano, vende caro a classificação para o Cascavel no estadual. Depois de perder o primeiro jogo das quartas em casa, por 1×0, o Quedas dificultou a vida da Serpente no Oeste. Ainda assim, o empate em 3×3 garantiu a vaga ao time de Nei Victor, que se tornaria o campeão daquele ano. “Eu lembro que o time era treinado pelo Soneca, e que tinha o ‘Lé’, que está no Carlos Barbosa”, conta Nei.

Foto: Reprodução
De fato, o Quedas também revelou bons nomes. O fixo Nenê, com passagens pela Seleção Brasileira, atualmente no Corinthians/SP, atuou pelo Tricolor. ‘Lé’, citado por Nei Victor, hoje no Carlos Barbosa, lembra com carinho da passagem em Quedas.
"O Quedas foi um divisor de águas na minha vida. Foi quem abriu as portas no momento que mais precisei. Em uma partida, fiz quatro gols e a torcida gritava 'ão ão aõ, Lé é Seleção'. Foi marcante", revela. Coincidência ou não, depois de ter a carreira guinada com passagens por Joinville, Atântico e Sorocaba, ele de fato foi parar na Seleção Brasileira.

Pedra no sapato do Marreco
O jornalista Luiz Carlos Baggio, de Francisco Beltrão, acompanha há anos o Marreco. Ele viu desabrochar certa rivalidade entre a equipe beltronense e o Quedas. "O Quedas sempre foi um espinho no caminho do Marreco. As partidas no Tarumã eram sempre complicadas. E no Arrudão jogos também não eram fáceis. Na época não haviam muitas equipes do Sudoeste no cenário do futsal, o que fez com Marreco e Quedas formassem um clássico. A torcida quedense muito vibrante".
Novo Quedas

Foto: Reprodução
Ao fim de 2013, o clube passou a ter dificuldades financeiras, desistindo da Série Ouro em 2014. Saiu do futsal sem um único rebaixamento. Em 2017, surge o Novo Quedas, aspirando resgatar os bons resultados do time extinto.
Daniel Pruêncio, irmão de Soneca, chegou a Quedas do Iguaçu em 2008, para ser o preparador-físico da equipe. Gostou da cidade e até hoje reside por lá. Em 2017, foi técnico do Novo Quedas, conseguindo a 6ª colocação da Série Bronze. Na temporada seguinte, sem Daniel, o time foi apenas o 18º. Desde então, não disputou mais o estadual.
“Conquistamos algo que a cidade nunca imaginaria que acontecesse: estar na elite do futsal paranaense. Depois vimos isso tudo se acabar. É muito triste ver o futsal quedense fora… O nosso saudoso ‘quedinhas’, como gostávamos de chamar”, lembra.
O ex-fixo Jean Magrão foi outro a participar dos dois projetos. “A gente espera que algum dia o time volte. Temos bons exemplos, como Chopinzinho, aqui perto de nós, fazendo um trabalho desde as categorias de base até chegar ao adulto. Talvez esse seja o caminho para o Quedas voltar”.
Superar ou não os feitos do período 2010-2013 é uma questão de detalhe. O que os torcedores quedenses e os embaixadores do futsal no Paraná querem mesmo é o retorno do Quedas às quadras. As hoje solitárias arquibancadas do Ginásio Tarumã anseiam por reviver os tempos de casa cheia.