Protestos, mortes e expulsão de diplomatas: Venezuela pós eleições
Após a vitória de Nicolás Maduro, a oposição, a população e países estrangeiros apontam manipulação. O país enfrenta um cenário de caos, com manifestações e sanções impostas por forças extremistas
Ontem (29), manifestantes de várias regiões da Venezuela tomaram as ruas em protesto contra uma eleição contestada, envolvendo-se em confrontos com a polícia em meio a alegações de fraude eleitoral. A eleição, considerada uma das mais cruciais dos últimos anos, trouxe à tona a fragilidade da situação política e econômica do país.
O presidente Nicolás Maduro, que está no poder desde 2013, continuará promovendo o “Chavismo”, uma ideologia populista de esquerda associada ao falecido Hugo Chávez. O principal opositor, Edmundo González, emergiu como candidato após a exclusão de María Corina Machado, uma figura importante da oposição, sob alegações de irregularidades fiscais.
Manipulação?
Os resultados oficiais, divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), indicam que Maduro teria obtido 51,2% dos votos, enquanto González teria recebido 44,2%. No entanto, a oposição contesta esses números, alegando que suas próprias contagens mostram uma vitória para González, com mais de 6 milhões de votos contra 2,7 milhões para Maduro. A oposição e vários líderes latino-americanos rejeitaram os resultados e pediram mais transparência.
As alegações de irregularidades incluem a falta de acesso das testemunhas da oposição durante a contagem dos votos e a interrupção do envio de dados das assembleias de voto para o CNE. O Carter Center e a ONU também expressaram preocupações sobre a transparência do processo eleitoral. O governo, por sua vez, enfrenta acusações de manipulação eleitoral, uma questão recorrente desde 2017.
Protestos
Em resposta aos resultados e alegações, o país vivenciou protestos significativos. Em Caracas, manifestantes exigiram mudanças e justiça, enquanto o governo de Maduro condenou as manifestações, alegando que eram instigadas por forças externas. O clima de tensão é familiar para os venezuelanos, que já enfrentaram repressões semelhantes em protestos anteriores.
Mais protestos estão ocorrendo hoje (30), e as forças de segurança responderam com gás lacrimogêneo e balas de borracha, além de disparos com arma de fogo em algumas localidades. A ONG Foro Penal relatou uma morte em Yaracuy, o El País mencionou uma em Zulia e o La Nación citou uma em Maracay, enquanto o El Mundo confirmou mortes em Yaracuy, Zulia, Maracay e Caracas. A contagem exata de mortos permanece incerta devido à repressão das forças de segurança e à dificuldade de acesso à informação.
A comunidade internacional está dividida. Muitos líderes ocidentais, incluindo os Estados Unidos e países da União Europeia, expressaram preocupações sobre a integridade do processo eleitoral. Por outro lado, aliados de Maduro, como China, Cuba, Irã e Rússia, reconheceram a vitória do presidente.
Organização dos Estados Americanos
Hoje a Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgou uma denúncia de que as eleições presidenciais na Venezuela, realizadas no último domingo e que resultaram na reeleição de Nicolás Maduro, foram marcadas por uma “flagrante manipulação”. Em comunicado assinado pelo secretário-geral Luis Almagro, a OEA afirmou que o regime venezuelano empregou um esquema repressivo e ações destinadas a distorcer o resultado eleitoral, permitindo uma manipulação significativa e inaceitável dos resultados.
Venezuela expulsa corpo diplomático de 7 países
Ainda ontem, o governo venezuelano anunciou a expulsão do corpo diplomático de sete países, incluindo Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamar Nicolás Maduro como presidente da Venezuela. A medida foi justificada pelo governo sob a alegação de que esses países atentaram contra a “soberania nacional”. Argentina, Chile, Peru e Uruguai já haviam contestado os resultados das eleições presidenciais na Venezuela, enquanto Estados Unidos, Reino Unido, Colômbia, Alemanha e Equador também expressaram dúvidas sobre o processo eleitoral. O comunicado foi divulgado por Yván Gil Pinto, ministro das Relações Exteriores, que afirmou que a Venezuela rejeita as críticas, considerando-as parte de uma conspiração de governos de direita e ideologias fascistas. O Brasil ainda não se posicionou oficialmente, aguardando informações adicionais e acompanhando de perto o processo de apuração.