Carmem Carlotto, a força da mulher na agropecuária laranjeirense
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher continuamos nossa série de entrevistas especiais. Desta vez com a agropecuarista de Laranjeiras, Carmem Carlotto
Produtora da comunidade Rincão Grande, ela é o exemplo de mulher que não se deixou abater frente as dificuldades de tornar-se viúva e dirigir uma propriedade rural
As mulheres ganham cada vez mais espaço em mercados antes dominados apenas por homens. O agro é um exemplo claro disso. Uma pesquisa Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que das 5 milhões de propriedades rurais no Brasil, cerca de 957 mil são lideradas por mulheres. Isso é algo muito significativo, visto que há dez anos a realidade encontrada era outra. Juntas, as mulheres somam a liderança de 30 milhões de hectares.
Laranjeiras tem uma representante de peso quando o assunto é agropecuária, a produtora do Rincão Grande, Carmem Carlotto.
Formada em Geografia e especializada em Educação do Campo, ela é filha de agricultores de Porto Barreiro e nasceu na comunidade Santa Rita, hoje assentamento da Manasa. Mudou-se para Laranjeiras para iniciar os estudos na Escola Vicentina Santana e atuou como professora estadual entre 2012 a 2016”.
Em 1994, quando se casou com Nelson Carlotto (in memoriam), Carmem mudou-se para o Rincão Grande, interior de Laranjeiras, onde deram início então às atividades agropecuárias.
Desde sempre a família de Carmem se dedica à cultura da pecuária leiteira, além do gado de corte e agricultura. “Mesmo quando trabalhei fora do meio rural, me mantive sempre ligada às atividades da propriedade e da lida do leite”.
Continuidade
Em 2018, ela ficou viúva e a simples pronúncia da palavra causa espanto em muitos. “Ao contrário do que muitos pensam, não sou merecedora de pena ou me tornei impotente por isso. Com determinação e perseverança sigo sempre de cabeça erguida, dando continuidade aos projetos e trabalhos árduos que desempenho diariamente ao lado dos meus filhos: Alessandro, Carolina e Matheus”.
Convivendo com a dor e a saudade, a família continuou forte, deu continuidade e ampliou os trabalhos, construindo um barracão leiteiro no sistema Compost Barn, proporcionando maior conforto aos animais, quesito primordial da propriedade. “Nosso rebanho é acompanhado por profissionais veterinários, acompanhamento nutricional, clínica, podologia e inseminação artificial”.
Preconceito
Para Carmem, no meio rural, há estranheza quando uma mulher está a frente dos negócios, ao invés, de somente ser dona de casa e mãe. “É histórico e intrínseco em nossa sociedade patriarcal, que o homem é o chefe da família e o provedor. Entretanto, com sutileza nós mulheres temos que quebrar esse paradigma, nos reafirmar diariamente nesse espaço que já conquistamos, nos mostrando tão capazes quanto os homens para desenvolver qualquer atividade que nos propusermos a fazer”.
A pecuarista relata, ainda, nunca ter passado por uma situação de preconceito. “Sempre agi com naturalidade, segurança e determinação e a recíproca se deu naturalmente, por parte de homens e mulheres nas instâncias que me direcionei”.
Conselho
O Dia da Mulher é lembrado por Carmem, como um marco de luta e respeito, em comemoração dos direitos já adquiridos. “Independe do gênero, todos somos chamados para a transformação e construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária, buscando e conquistando nosso espaço individual e coletivo, servindo de exemplo para que as futuras gerações sejam mais evoluídas e felizes”.
Carmem finaliza deixando um conselho especial para as mulheres do agro. “Nunca se deixem abater pelo preconceito ou opiniões alheias. Se mantenham de pé e acreditem no seu potencial, capacidade e intuição feminina”.
Confira o vídeo da entrevista: