Ceebja Laranjeiras e o trabalho contra o analfabetismo
Em funcionamento desde 86, a instituição atende cerca de 180 alunos de toda região, é ponto de encontro da comunidade surda, e agora, oferece a modalidade EAD. Matrículas estão abertas
A educação não tem fronteiras ou limite de idade. Essa é a premissa do governo Federal ao regulamentar a lei referente aos antigos supletivos em 1971, um marco para a Educação de Jovens Adultos (EJA). O local de acolhimento e que prioriza a empatia e o cuidado, muito além da carteira e quadro em sala de aula, merece reconhecimento no Dia Nacional da Alfabetização, comemorado hoje (14).
Em Laranjeiras do Sul, o Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja), atende desde 1986 e hoje, cerca de 180 alunos de toda a região e de várias idades procuram a sede com o mesmo intuito: aprender ler, escrever e possuir um diploma.
Analfabetismo
Apesar da busca pela educação, atualmente, o Paraná lidera a região Sul na taxa de analfabetismo. Segundo dados colhidos na App Sindicato, são mais de 365 mil pessoas que não sabem ler.
De acordo com a pedagoga do Ceebja, Mari Lucia Dalmolin, que há 15 atua na instituição, o papel da escola é justamente acolher e mostrar que nunca é tarde para aprender. “É muito importante que todos saibam que aqui, tudo é diferente. Entendemos que vários motivos os afastaram da sala de aula, mas todos são ouvidos e tratados com dignidade e empatia”, enfatiza a pedagoga.
O trabalho realizado diariamente de cuidado e incentivo aos moradores de toda região são vistos por Mari como grande potencial para o futuro, já que a educação muda o mundo. “Aqui, já tivemos tantas histórias inspiradoras. Desde o senhor que se formou com mais de 80 anos, a mulher que trabalha de sol a sol na rua, catando recicláveis e quem formou no antigo supletivo e agora, são professores aqui. Todos acolhidos e sempre incentivados”, relembra Mari.
Ponto de encontro
Além de acolher toda a região, o Ceebja é ponto de encontro de surdos.
Conforme a professora Sintia Francelise Rosa, na Sala de Recursos, ela trabalha como educadora bilíngue junto do professor Marcos Andruck, que é surdo. “Nossa parceria dura cerca de 13 anos. Atendemos a comunidade surda da região, incluindo Nova Laranjeiras, Rio Bonito, Marquinho, Virmond e Cantagalo. O Ceebja é o ponto de encontro para eles, onde alguns estudam disciplinas durante o horário regular, e participam das atividades da sala no contraturno”.
Sintia destaca que a dinâmica do trabalho envolve Marcos, que utiliza a Língua Brasileira de Sinais, para ensinar novos movimentos aos surdos. Ela, como professora bilíngue, trabalha para integrar o português e a Libras, estabelecendo uma relação que proporcione compreensão. “Para os surdos, o português é a segunda língua, sendo a Libras a língua-mãe. Assim como nós, que aprendemos inglês na escola, enfrentaríamos desafios ao expressar-nos por escrito nessa segunda língua. Meu papel é trabalhar o português escrito, ajudando-os a entender o significado e o uso das palavras, não apenas focando na gramática, mas também na questão do bilinguismo, integrando as duas línguas”, explica.
Acolhimento
A professora enfatiza que um momento memorável em todos os anos de atendimento é a confiança que os alunos sentem ao chegar no Ceebja. “O local é acolhedor, eles se sentem verdadeiramente em casa, parte da comunidade escolar. A capacidade de se comunicar com todos é notável, pois, através do contato, mesmo que em pequenas interações, conseguem compreender e estabelecer uma comunicação eficaz com os surdos”, destaca ela.
A presença das intérpretes, como Luísa, Katia e Nilce, que trabalham durante as aulas e disciplinas, contribui para esse ambiente inclusivo. Laranjeiras não conta com associação para surdos ou algo relacionado à comunidade surda, o que faz com que a instituição tenha se tornado o espaço central onde eles se concentram.
“Temos estudantes de diversas idades, desde os mais jovens, que começaram conosco aos três anos, até adultos na faixa dos quarenta. No próximo ano, teremos outra aluna de Diamante do Sul”, completa Sintia.
EJA EAD
Segundo o diretor da instituição, Rodrigo Pereira, é visível que a demanda por escolarização tanto do Ensino Fundamental quando do Ensino Médio em Laranjeiras e região é grande. Infelizmente, ainda uma grande parte da nossa população ainda não concluiu os seus estudos por motivos muito variados. “É exatamente nesse sentido, que segue nosso atendimento, sempre tentando incluir as pessoas que precisam estudar e que de alguma forma ficaram fora da escola por motivos pessoais”, destaca Rodrigo.
O atendimento acontece nos períodos manhã, tarde e noite e as turmas são abertas conforme a demanda de alunos buscam pela matrícula. “Temos turmas presenciais, que tem suas aulas com os professores nos cinco dias da semana de forma presencial. Nossos educadores são os melhores da cidade, vários lecionam em escolas particulares e agregam não só em sala, mas na vida de cada estudante”, destaca o diretor.
A novidade que o Ceebja oferece é o atendimento à distância, que funciona da seguinte forma: os alunos dessa modalidade vão até a escola dois dias e nos outros três, realizam atividades por meio de uma plataforma. “Quando estão aqui, os professores trabalham os conteúdos e aplicam avaliações normalmente. Ainda, há a possibilidade de utilizar a própria sala de informática para aulas online”.
Muito mais que educação
Para acolher e incentivar a realização de tarefas, um dos pontos fortes da instituição é a oferta de materiais didáticos e um espaço acolhedor. A pedagoga Mari, salienta que tudo é diferente de uma escola regular. “Cada aluno que chega, é visto como gente. Aqui, nossa premissa é acolher, respeitar e incentivar, por isso todas as salas são temáticas de acordo com a matéria ofertada. Além disso, temos uma biblioteca aberta com clássicos e materiais importantes para mantê-los conosco. Aqui, a educação é vista com outros olhos”.
Com o objetivo de oferecer ensino de qualidade em qualquer idade, as matrículas do Ceebja para 2024 estão abertas. “Torne esse sonho realidade. Ler abre caminhos e muda a vida de todos. Venha até a instituição para conhecê-la e tenha a chance de mudar de perspectiva”, finaliza a pedagoga.