Diagnóstico tardio de autismo: autodescoberta e aceitação
Valquiria Vilczak, recebeu o laudo aos 24 anos. “Graças aos acompanhamentos e suportes, consegui estabilizar minha saúde o suficiente para receber um diagnóstico completo. Embora o processo possa ser demorado, vale a pena”
Para muitos, a descoberta tardia do autismo pode apresentar uma série de desafios únicos e complexos. A falta de consciência sobre os sinais e sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos, junto de estereótipos e a falta de representação adequada na mídia, pode dificultar a identificação e o entendimento do autismo em pessoas como Valquiria Regina Lima Vilczak, uma jovem de 24 anos, que compartilha sua jornada de autodescoberta e aceitação. Ela recebeu o diagnóstico recentemente, já na vida adulta.
Desafios na infância
Valquiria afirma que sua vida antes do diagnóstico e as dificuldades associadas ao TEA, moldaram sua experiência desde a infância, na qual enfrentou desafios que muitas vezes foram mal interpretados ou ignorados. “Me lembro que com 10 anos tive uma crise séria, chorava e gritava no chão, em meio a uma festa de casamento. Como meus pais não entendiam, aquilo foi visto como birra”. Além disso, destaca que somente hoje entende quando batia a própria cabeça na parede. “Era forma de me autorregular”.
Na escola, de acordo com Valquiria, enfrentou obstáculos significativos para entender e realizar tarefas, mas teve a sorte de contar com professores compreensivos e amigos solidários. “Uma professora me deixava usar fones de ouvido na hora de fazer as provas”, relatou.
No entanto, ela afirma que a falta de compreensão sobre o autismo levou a um ciclo de depressão grave, fobia social e ansiedade generalizada, que se agravaram durante a transição para a vida adulta. O apoio crucial de sua família a ajudou a buscar tratamento, mas, mesmo assim, enfrentou desafios adicionais, como a seletividade alimentar e dificuldades de comunicação.
Diagnóstico e aceitação
A descoberta tardia foi difícil e libertadora, segundo Valquiria, e precisou confrontar estereótipos prejudiciais sobre o autismo, especialmente o conceito do ‘anjo azul’ que é amplamente usado para designar autistas. “O termo traz um sentido no qual somos vistos como ingênuos e incapazes de falar sobre nós mesmos”.
Valquíria fala sobre a luta contra a marginalização e a falta de compreensão por parte da sociedade. “Faço parte de uma categoria que inclui autistas, membros da comunidade LGBTQ+, do qual me incluo, pessoas negras e mulheres, todos cientes das suas próprias lutas. No entanto, lidar com o capacitismo é especialmente desafiador, pois muitas vezes somos categorizados de forma simplista e não somos ouvidos”, relata.
Valquíria complementa sobre o tratamento da sociedade com um autista adulto. “Frequentemente, somos tratados como crianças ou nossos direitos são invalidados simplesmente porque não nos encaixamos em certas expectativas”.
Acompanhamento profissional
Desde os 17 anos, Valquiria recebe apoio de psicólogos e psiquiatras para lidar com suas dificuldades emocionais e mentais. Apenas recentemente, esses acompanhamentos a levaram ao diagnóstico completo do transtorno. “Graças aos acompanhamentos e suportes, consegui estabilizar minha saúde o suficiente para receber um diagnóstico completo. Embora o processo possa ser demorado, vale a pena. Por isso, sinto-me encorajada ao ver vídeos de pessoas que, mesmo aos 40 ou 50 anos, finalmente se descobrem autistas”, relata.
Ela também destaca que o acompanhamento profissional é para o bem-estar mental e encoraja outros a buscar ajuda sem sentir vergonha ou fraqueza. “Não é uma jornada fácil, mas é libertadora de certa forma perceber que nossas lutas não são falhas e que o sentimento de não pertencimento é legítimo. Recomendo enfaticamente que todos considerem buscar acompanhamento. Isso não é sinal de fraqueza, mas sim de autocompaixão e cuidado consigo mesmo”, conclui.