Doutora Natália: exemplo de superação e determinação

Formada em Medicina na Bolívia, a médica de 26 anos que atende na saúde pública de Laranjeiras discorreu sobre sua trajetória de vida nesta reportagem

Não existem sonhos impossíveis. A doutora Natália, filha de um motorista e uma dona de casa, prova que com garra e determinação se chega lá. Formada em Medicina aos 26 anos, numa faculdade boliviana e tendo passado na prova do Revalida Brasil, ela já atende na saúde pública em Laranjeiras do Sul. Conheça um pouco de sua história.

História

Natália Kailer dos Santos tem 26 anos, nasceu em Laranjeiras do Sul, é filha do motorista Joldemar dos Santos e da dona de casa Néri Kailer Gava. Seu sonho de ser médica surgiu desde muito pequena. Sua formação até o primeiro ano do ensino médio foi na rede pública de ensino. “Estudei na escola Padre Gerson, depois cursei o ensino fundamental no colégio Érico Veríssimo e no ensino médio fui bolsista do colégio Sels”, complementa a médica.

Inicialmente para realizar o objetivo de cursar medicina ela tentou ingressar em uma faculdade pública no país. “Tentei um vestibular para medicina aqui no Paraná em 2012, mas não consegui aprovação, então decidi cursar enfermagem. Realizei um ano do curso, porém não me identifiquei na área”, acrescenta Natália.

“Em 2013, durante o curso de enfermagem, por meio de amigos, conheci a possibilidade de cursar medicina na Bolívia. Por não ter recursos necessários para ‘cursinhos’ de vestibular, decidi estudar fora, porém precisaria ter 18 anos, e eu completaria apenas no final daquele ano”.

Vida acadêmica

Natália menciona que enfrentou muitas dificuldades até sua mudança para a Bolívia. “Foi muito empenho para convencer a minha mãe, pois ela não aceitava por conta da distância. Precisei aprender espanhol pois é a língua usada no país. Mesmo ciente das dificuldades que enfrentaria estava disposta a encarar os desafios”, conta. Natália afirma que, diferentemente do Brasil, teve facilidade em entrar no curso na Bolívia. “Lá há muitas vagas. Precisei apenas fazer uma prova para atingir média. Não concorri com outras pessoas iguais aqui no país”, explica.

Ela estudou na Universidad Cristiana de Bolívia (Ucebol), que é particular, porém com custo mais baixo do que aqui no Brasil.  Hoje a mensalidade seria o equivalente a cerca de R$ 1.700. No Brasil nenhum curso de Medicina particular custaria menos que R$ 7.000.

Dificuldades

De acordo com ela além das dificuldades financeiras, precisava lidar com a saudade de casa. “Estudei em Santa Cruz de La Sierra, uma cidade grande da Bolívia, os alugueis eram caros e não conseguia trabalhar pois o curso era em período integral”. “Meus pais me ajudavam financeiramente e a faculdade dava desconto na mensalidade para o melhor aluno da turma. Fui a melhor em todos os semestres”, relembra a jovem médica.

 “Conseguia ver minha família apenas nas férias, as viagens eram longas e cansativas, passava dois dias dentro do ônibus”, destaca.

Natália recorda que durante todo período de formação, foi desmotivada por muitas pessoas. “Me falavam que não daria certo, inclusive alguns colegas médicos. Ainda existe muito preconceito por ter a formação em outro país. Mas, garanto que aprendi muito bem e a prova do Revalida atesta isso. Minha família é minha maior motivação”, detalha ela.

Conforme Natália, seu curso teve duração de seis anos e diferente do Brasil, o trabalho de conclusão é mais fácil. “Na Bolívia não temos o temido Trabalho de Conclusão de Curso. É feita uma prova oral com uma banca médica, chamada ‘exame de grado’, por conta da pandemia, meu exame demorou a ser marcado, meu diploma saiu apenas em 2020”.

Brasil

Depois que se formou ela voltou para o Brasil, para estudar para o Revalida, a prova para validar o diploma do curso de medicina de outro país. “Realizei a primeira etapa da prova em setembro de 2021 em Curitiba e a segunda em Campo Grande no mês de dezembro. “Para a prova teórica eu e meu esposo que também estudou na Bolívia, contratamos um curso online e para a prática estudamos sozinhos. Nós dois fomos aprovados”, acrescenta Natália.

“No início deste ano, fui aprovada na revalida e por meio de licitação, contratada para trabalhar como clínica geral em Laranjeiras, atualmente atendo na Unidade de Saúde da Família Dr. Carlos Felipe Sio”, completa a jovem.

Emoção da Família

Para o pai da Natália, “ter uma filha médica não tem explicação. Nós, como pessoas de classe baixa, com o meu salário de funcionário, conseguir formar uma filha em medicina é muita alegria e gratidão”, se emociona seo Joldemar, relembrando os enormes sacrifícios que a família fez para que ela pudesse estudar.

A mãe da médica, dona Néri, relata que faria tudo de novo para acompanhar a formação de sua filha. “É difícil descrever com palavras, são muitos sentimentos principalmente de gratidão e realização pessoal. Minha filha merece, pois é uma ótima pessoa. Nos sentimos realizados através da Natália e creio que é dever dos pais apoiar os sonhos dos filhos”, completa a mãe.

“Toda vez que carimbo uma receita agraço a Deus pela oportunidade que ele me deu, de cuidar das pessoas. Fico sem palavras, tenho orgulho de mim”, emociona-se a doutora Natália, que pretende se especializar em Pediatria.