Entenda como a terapia pode ajudar na seletividade alimentar infantil

A nutricionista Jamile Gasparin revela causas, estratégias de tratamento e como cultivar hábitos alimentares saudáveis desde a infância

A seletividade alimentar infantil é um fenômeno observado globalmente, impactando crianças em diversas faixas etárias e contextos sociais. É caracterizada por recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse pelo alimento. Compreender suas causas e adotar estratégias eficazes para lidar com essa condição é essencial para cultivar hábitos alimentares saudáveis desde a infância. Para entendermos melhor esse distúrbio, a nutricionista Jamile Kailer Gasperin, com formações em terapia alimentar, seletividade e dificuldades alimentares, além de terapia nutricional e suplementação no transtorno do espectro autista, nos traz sua visão esclarecendo diversos pontos e mostra como pode ser o tratamento por meio da terapia alimentar infantil.

O que é terapia alimentar?
Atuando desde 2017 nessa área da nutrição, Jamile afirma que é uma abordagem que utiliza estratégias para reduzir a seletividade e a recusa alimentar em crianças. “Tudo é realizado de forma lúdica, proporcionando estímulos cognitivos, motores, orais e sociais, tudo com muita autonomia”.

Seletividade alimentar x dificuldade alimentar
Jamile explica que a seletividade alimentar pode variar de níveis leves a graves, impactando significativamente o desenvolvimento infantil. Embora as crianças naturalmente desenvolvam preferências alimentares, a seletividade pode limitar a ingestão de nutrientes essenciais. “A criança sempre terá suas preferências alimentares de acordo com os cuidados e hábitos da família, porém quando a seletividade está presente, muitas vezes mesmo com todo cuidado familiar a criança não consegue consumir determinados alimentos, limitando seu repertório alimentar e consequentemente limitando os nutrientes necessários diariamente”, assegura.
As principais causas da seletividade incluem fatores sensoriais, como desconforto com certas texturas, e neofobia, que é o medo de experimentar novos alimentos. Transtornos como o TARE (Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo) também contribuem para a seletividade, necessitando de uma abordagem multidisciplinar. “Pode existir uma aversão sensorial e emocional dos alimentos, precisando sempre de um trabalho em conjunto com demais profissionais da área infantil”, destaca.
As dificuldades alimentares, segundo a especialista, estão mais associadas a questões orgânicas do desenvolvimento da criança. “Questões do próprio organismo da criança, como limitações físicas, alterações orais, respiratórias, gastrointestinais que interferem na aceitação de determinados alimentos e texturas”.

Alerta e tratamento
Períodos de oscilação de apetite são comuns na infância, mas ela atenta que a limitação severa da alimentação e o desconforto com certos alimentos são sinais de que é necessário buscar ajuda profissional. “Quando o pequeno passa a limitar a sua alimentação e sente-se desconfortável com os outros alimentos já é um sinal de alerta para procura profissional, pois algumas vezes os pais podem tentar forçar uma alimentação e prejudicar o processo de aceitação alimentar e piorando a seletividade”, diz.
O tratamento nutricional para crianças com seletividade ou dificuldades alimentares é individualizado. Jamile destaca a importância do envolvimento familiar desde o início do acompanhamento, com sessões realizadas com a criança e resultados repassados aos pais. “Cada criança traz uma demanda e uma abordagem única. Sempre inicio o acompanhamento com um atendimento familiar para conhecer a família, em seguida, se a criança já estiver confortável, as sessões são realizadas apenas com a criança e são repassados os resultados para a família, esta que precisa estar sempre envolvida em todo o processo, muitas abordagens são realizadas em casa também, onde o convívio diário favorece o comportamento infantil para melhorar a aceitação alimentar”, explica a profissional.

Caso de sucesso
A especialista conta que em todos os anos de profissão teve vários pacientes que marcaram sua trajetória. Ela compartilha o caso marcante de um paciente com seletividade alimentar grave, que fazia náuseas e até vomitava ao tentar consumir certos alimentos. “Ele estava com deficiências nutricionais graves. E junto da família, conseguimos reverter a seletividade e adequação nutricional. Ver ele bem e sorrindo durante o tratamento e ver a família mais tranquila foi e sempre será gratificante”.

Recomendações para os pais
Para os pais que enfrentam dificuldades alimentares com seus filhos, Jamile recomenda permitir que as crianças comam sozinhas, brinquem com a comida e transmitam confiança e autonomia. “A principal abordagem a ser realizada é em casa com cuidados diários que transmitam sempre muita confiança e autonomia. Nunca utilizem suplementos alimentares sem recomendações de profissionais, pois podem agravar a seletividade. Sempre falo que o profissional é apenas uma ponte para auxiliar a chegada no sucesso. Seu filho vai comer pela vida toda e porque não ser da forma mais agradável possível? Comer vai além do nutrir”, finaliza.