Fé e devoção: Sant’Ana, uma festa construída por muitas mãos

Atrás dos balcões e churrasqueiras trabalham mais de 300 voluntários, que há mais de 15 anos movimentam o dia dedicado a padroeira de Laranjeiras. Conheça-os

Quando se trata de uma festa grandiosa como a em Honra Sant’Ana, padroeira de Laranjeiras do Sul e que acontece hoje, muito se fala da devoção e de quantas pessoas participam do evento religioso. Entretanto, um dos pilares são as ‘formigas’ que trabalham quase que escondidas no pavilhão e churrasqueira da Matriz: os mais de 300 voluntários.

Dedicação na cozinha

Quem passa pela cozinha desde o início da novena, encontra um grupo de senhoras atarefadas de touquinha e avental. Em escala, por noite, cerca de 15 se dedicam aos pastéis e mais pratos que são apresentados ao público.

Se contabilizarmos quantos anos dedicados ao voluntariado de Sant’Ana, cada uma brinca que pelo menos dez anos foram servindo à Santa.

Na lida do cilindro com a massa de pastel, a animada Ivanir Zocche esbanja um sorriso no rosto ao relembrar quanto tempo dedica ao trabalho. “Há mais de 15 anos venho aqui a trabalho. Encontro minhas amigas, brincamos e rimos, o que contagia nossa tarefa diária. É uma alegria imensa poder estar aqui”, disse ela.

Dona Nice Stefenon voluntária há mais de 20 anos na Festa de Sant’Ana, expressa sua gratidão e compromisso com o trabalho comunitário. “Para mim, é uma grande satisfação participar desse evento. Trabalhar aqui é uma maneira de servir à nossa comunidade e de retribuir as inúmeras graças que recebemos ao longo dos anos. Tenho ajudado há mais de duas décadas, principalmente na parte do pastel, e sempre encaro essa atividade como uma forma de contribuição significativa”, disse.

Para ela, esse trabalho de formiguinha é essencial para fazer a festa acontecer. “Até o dia da festa, estive aqui em vários turnos. Realizamos nossas tarefas com muita alegria, sem esperar recompensas. A equipe está sempre animada e feliz, e o espírito de colaboração faz com que tudo funcione perfeitamente”, declara.

Para ela, certamente, enquanto tiver saúde, contribuirá com o trabalho. “Sou imensamente grata pela oportunidade de participar e de manter nossa tradição viva. Muitos gostariam de estar aqui e não podem, então enquanto temos saúde, seguiremos contribuindo. É assim que sentimos e fazemos a diferença”, destaca.

A vontade de ajudar também permeia gerações, como o caso de dona Nair Salete da Cruz. Influenciada pela mãe, Lurdes Alves da Cruz, já falecida, o que a marcou foi dedicar-se à paróquia, mesmo depois de retornar de Curitiba. “Ajudo há muito tempo, mas me mudei para Curitiba. Ao retornar, a primeira coisa que garanti é que trabalharia novamente por Sant’Ana”, disse.

Nair afirma que enquanto Deus e Sant’Ana derem força, continuará ajudando. “Às vezes, não me sinto bem, mas quando venho aqui, me sinto revigorada, sem dores, e cheia de energia. Recebo muitas graças que melhoram minha saúde para o próximo ano”, finaliza.

Lareira em peso

Outro movimento presente na organização da festa é a Lareira. O coordenador Carlos Acir Siqueira, que é voluntário desde 2019, destaca que se dedicar à padroeira é necessário, por conta da religião. “É extremamente importante tirar um tempo para Deus e nisso, a Lareira é exemplo. Somos um movimento grande que dá show em tudo que ajuda e aqui não é diferente. Estamos muito felizes de ajudar e com certeza, enquanto houver força, estaremos aqui”, finaliza.

Churrasco e boa prosa

Outro setor da festa que não pode passar em branco é o da churrasqueira. Quase o coração da festa. Alí, muitas caras conhecidas se reúnem anualmente para trabalhar desde cedo, antes do sol nascer. Neste ano, sêo João Oliboni é o coordenador, que realiza o trabalho há muito tempo com maestria.

Em conversa com alguns assadores, a resposta é sempre a mesma: é uma honra trabalhar para Sant’Ana.

O presidente do Rotary Club de Laranjeiras, Marcos Ferraz, é um expert no assunto, já que há 16 anos faz questão de estar presente desde as 04 horas para acender o fogo. “Tive muitas bençãos alcançadas pela padroeira. A força que ela transmite para que trabalhemos é indescritível, por isso faço questão de ajudar junto aos meus companheiros de sempre, como o João Oliboni e o Valério Sarvancinski”, disse ele.

Para Marcos, enquanto puder ajudar, estará na churrasqueira. “Quem gosta do que faz, como eu e meus amigos, entendemos a alegria de trabalhar por Sant’Ana. É muito gratificante”, completa.

Adilson Zanela, um dos churrasqueiros mais conhecidos nas festas de Sant’Ana e Bom Jesus, compartilha sua jornada de dedicação e voluntariado. “Nem sei há quantos anos estamos nessa, e nem quero fazer essas contas. Só quero agradecer a Deus por nos permitir estar aqui por tantos anos, ajudando,” comenta Zanela.

A motivação de Adilson e seus companheiros vai além da simples participação nas festividades. “Existem várias razões que nos motivam a continuar ajudando na festa. Estamos aqui para apoiar a comunidade a crescer. As comunidades realmente precisam desse trabalho voluntário, sem cobrar nada. Isso faz bem para a saúde, e esse é o principal motivo. Tenho certeza disso, e todos comentam. Parece que a cada ano nos renovamos para fazer tudo de novo,” explica.

Com um grupo de aproximadamente 70 churrasqueiros da região, organizados por meio de um grupo de WhatsApp, a expectativa pelo evento é sempre alta. “Esse pessoal fica na expectativa, como se estivessem esperando um grande evento, um jogo importante. Nós ficamos assim com as festas, ansiosos pelos meses e dias que passam até chegar a temporada das festas e podermos trabalhar.”

Adilson destaca a resiliência de seus companheiros, como João Oliboni, que superou problemas de saúde e continua firme no voluntariado. “Tenho certeza que ele também pensa da mesma forma. E Deus está dando saúde para ele, com a ajuda de Nossa Senhora de Sant’Ana, Nossa Senhora Aparecida e Bom Jesus”.

Quando questionado sobre o sentimento de ajudar, Adilson é categórico: “É tudo de bom. A gente percebe que, ao fazer esse trabalho, trazemos mais companheiros, senão isso vai acabar. É uma tradição tão bonita, as festas nas comunidades. Além de festejar, rezar e participar das novenas e tríduos, é uma forma de juntar recursos financeiros que as comunidades precisam para se manter ao longo do ano”.

A dedicação do grupo é tamanha que, quando chega o dia da festa, nada mais importa. “Eu sempre falo que, quando aparece alguma coisa para a gente fazer, muitos inventam desculpas para não ir. Mas com as festas, é diferente. Quando chega o dia, não importa o que você está fazendo, tem que ir. Os companheiros estão lá, no grupo do WhatsApp, se reunindo, perguntando que horas vamos começar, como vai ser. Isso é muito bom.”

Ao relembrar os companheiros que ensinaram e já se foram, como Gracelino de Matos, o Merão, Adilson expressa sua gratidão. “Aprendemos muito com esses companheiros, e sentimos saudades daqueles que já se foram”.