Mari Paulina Franco é a nova titular do cartório de notas de Laranjeiras

Cartorária desde 1989, ela conta que teve que superar muito machismo até ser respeitada na profissão

Desde dezembro do ano passado, o Tabelionato Gomes de títulos e protestos, em Laranjeiras do Sul, passou para as mãos da tabeliã Mari Paulina Franco Ferreira Pinto.  Na reformulação, as atividades de protesto saíram da alçada do cartório. Em conversa com o Correio do Povo, a nova titular, contou um pouco de sua história e as novidades que estão sendo implantadas no cartório.

Uma vida notarial

Nascida em Araucária no Paraná, filha de pai cartorário e mãe servidora da Receita Estadual. Pauli se criou em Nova Londrina, na divisa com Mato Grosso do Sul e São Paulo. “Casei, nunca tinha trabalhado. Mas um dia invoquei e pedi para o meu pai: arranja um emprego pra mim? E ele respondeu: imagina você trabalhar… você nunca trabalhou na vida, você tem duas crianças para cuidar. Eu falei, pai, eu preciso trabalhar, eu quero trabalhar. Não aguento mais depender de marido, porque depender de pai é uma coisa, depender de marido é outra. Bem diferente. Enfim, comecei a trabalhar no dia 1º de abril de 1985”, conta ela.

A luta contra o machismo

Pauli relatou que menos de um ano depois, fez o concurso e passou para outro cartório. Em 1989 ela conseguiu uma permuta com o cartório do pai e assumiu como titular. “Foi uma luta, eu tinha 28 com cara de 15, ainda existia aquele machismo. “A maioria dos clientes eram do sexo masculino. Chegavam e falavam: eu gostaria de falar com o patrão e eu falava, ele deu uma saidinha. Ligava para o meu pai: tem um homem que quer falar com você. E ele me respondia, você que é patroa… eu falava, pai, não adianta, tem que você vir aqui. E enquanto estava aguardando por ele, eu explicava todos os passos do que precisava fazer. Quando meu pai chegava, repetia exatamente as mesmas coisas que eu tinha dito. E aos poucos eu fui conquistando confiança porque era difícil para mulher. Graças a Deus isso tudo passou”.

Legalidade

Mari descreveu a luta que viveu em decorrência da troca de cartório. “Depois de algum tempo foi questionada a legalidade das permutas. E foi cassada a titularidade de quem tinha feito permuta. Havia a determinação que se voltasse ao cartório de origem. Como alguns cartórios não existiam mais, inclusive o meu, ficamos num limbo funcional”, disse Pauli.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) arranjou um dispositivo para resolver a situação de Pauli e de mais de uma centena de cartorários na mesma situação. “Fizemos um acordo e em menos de seis meses a minha vida deu uma guinada e eu escolhi Laranjeiras do Sul. Tem sido uma experiência memorável. Trouxe meu filho e minha nora comigo. As pessoas da cidade são muito acolhedoras. Até já comprei uma casa. Vim para ficar”, falou Pauli.

Novas opções

Pauli explica que como só escolheu notas, o protesto saiu de seu cartório. “Então, hoje, aqui só faz a parte de notas, que é reconhecimento de firma, autenticação, procuração, escrituras e atas notariais. “Estamos implantando também as assinaturas digitais. A pessoa vem aqui com seus documentos pessoais e fazemos a assinatura digital. Isso não tem custo. Apenas ela pagará quando precisar reconhecer a assinatura. Por exemplo, se a pessoa comprou um imóvel em outra cidade, não precisará mais se deslocar para assinar os documentos. Ela irá até o cartório de notas local e faremos uma videoconferência, mais rápido, barato e com validade legal”, adianta a cartorária.