Elo Ebert e Onira Steffanello, da Linha Volff, deixaram as lavouras de grão e estão há 22 anos trabalhando num parreiral com 1,8 mil mudas
Popular e valorizada pelo mercado. A uva é uma das frutas-símbolo da região sul do país. O cultivo teve início no Brasil ainda nos primeiros anos da colonização portuguesa, no século XVI, na então capitania de São Vicente, hoje estado de São Paulo. E apesar de na Cantuquiriguaçu o foco dos produtores rurais estar voltado para os grãos e para a bovinocultura, existem aqueles que optam pelas frutas.
Vivendo de uva há 20 anos
Na Linha Volff, em Porto Barreiro, por exemplo, um casal aposta nas uvas há duas décadas. Elo Ebert (66) e Onira Steffanello (62) são gaúchos. Eles chegaram ao então distrito de Barreirinho em 1983. Elo, desde então, trabalhou como operador de maquinário em uma lavoura vizinha.
No entanto, em sua propriedade, dedicou pouco tempo à soja e desde o fim dos anos 1990 passou a apostar em outras culturas, como no plantio de erva-mate, de eucalipto e pinos. Deu início, com 200 mudas, à produção de uvas, primeiramente pensada no consumo próprio e na doação para familiares e amigos.
Já no 3º ano, a colheita mostrou-se excedente ao consumo dos produtores. Foi o impulso para que Elo e Onira passassem a vender as frutas. Hoje, são 1,8 mil pés de uva, um parreiral que ocupa 1,2 hectare de terra.
As uvas dos Ebert
São oito variedades de uva cultivadas na propriedade da Linha Volff. “O carro-chefe é a niágara rosa e branca, além da francesa preta, que é trabalhosa, de difícil transporte, já que a casca é sensível”, explica Onira.
A safra ocorre uma única vez no ano. O período de vendas, neste último, por exemplo, durou 28 dias, entre dezembro e janeiro. A comercialização é feita apenas na fazenda, em uma tenda armada na beira da estrada. A média de vendas por dia, fica entre 150 e 200 quilos, fora os derivados – também produzidos pelo casal – geléia, suco, licor e vinho.
De acordo com o produtor, os lucros obtidos são suficientes para que o casal passe um ano tranquilo financeiramente. “Cada vez rende mais. Agora, com um mês, fizemos uns trocos ‘facêro’ para passar o ano. Certa vez, perdi dois anos de produção para a geada, mas foi só”, relata Elo.
Só neste final de ano, foram nove toneladas colhidas na propriedade, o que representa, de acordo com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) cerca de 22% da produção total de Porto Barreiro – 40 toneladas.
As vantagens da uva
De acordo com Elo, a vantagem de produzir a fruta – em comparação com os grãos, cultura principal da região – não está na facilidade, mas no investimento mais baixo se comparado. “Eu trabalho numa fazenda com o plantio de grãos e isso exige a compra de implementos, de ferramentas a todo ano. Os pés de uva necessitam de uns tratos, apenas. Eu não vou desmanchar meus terrenos para ir atrás de lavouras, pois agora a agricultura vive um bom momento, mas nem sempre é assim. Às vezes você trabalha, trabalha e só empata, na expectativa do próximo ano”.
Conciliação com a melancia
Elo e Onira, há 13 anos, equilibram os lucros da uva com os do plantio de oito variedades de melancia. “Se não tem melancia, os clientes cobram. Só que ela é mais complicada do que a uva. Este ano foi mais razoável, consegui umas sete toneladas, com uma perda de 25% e 30%”.
Por enquanto, acabou
A próxima produção de uvas é no fim do ano. Até lá, quem passar pela propriedade – há dois quilômetros da sede de Porto Barreiro, na estrada para a comunidade de Guarani do Cristo Rei -, poderá ainda adquirir sucos, vinhos, geléias e licores.
Produção na região é tímida
Nos 10 municípios atendidos pela regional local de Seab – Diamante do Sul, Espigão Alto do Iguaçu, Guaraniaçu, Laranjeiras do Sul, Marquinho, Nova Laranjeiras, Porto Barreiro, Quedas do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu e Virmond -, são produzidos, por ano, 500 toneladas de uva. Guaraniaçu lidera a lista, com 110 toneladas, de acordo com dados da safra 2018/2019. Depois, aparecem Espigão Alto (105 toneladas), Rio Bonito (80 toneladas) e Porto Barreiro (70 toneladas).
De acordo com o responsável pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) em Laranjeiras do Sul, Deomar Fracasso, a produção de frutas na região ainda é tímida, pois esbarra em entraves, como a comercialização junto aos mercados.
“Existem poucos produtores dedicados à atividade na região se compararmos com a bovinocultura de leite e de corte. Mas temos clima e solo favoráveis para diversas frutíferas. Existem alguns gargalos, como a comercialização. A fruta ficou pronta, então você precisa imediatamente buscar mercado, se não perde-se a produção, diferente do leite e dos grãos”.
Entretanto, Deomar aponta vantagens para quem aposta na uva. “Mesmo que não consiga vendê-la in natura, é possível transformá-la em derivados”, refuta.